Falta de profissionais de TIC é obstáculo para o desenvolvimento do setor na América Latina

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Os desafios para a formação de novos profissionais de TIC e as políticas públicas necessárias para atender a uma demanda crescente por mão-de-obra foram temas do primeiro painel do LAC ICT Talent Summit, evento que a Huawei, líder em infraestrutura para Tecnologia da Informação e da Comunicação (TIC), realiza em parceria com a agência de notícias EFE e com a UNESCO na capital mexicana entre 24 e 25 de novembro.

Com moderação de Valtencir Mendes, chefe de Educação da UNESCO América Latina e Caribe, o encontro contou com as participações de Marcelo Pino, vice-presidente de Relações Públicas da Huawei Latam; André Castro, subsecretário de TIC do Ministério da Educação do Brasil (MEC); Hector Benitez, chefe do Departamento de TIC da Universidade Nacional Autônoma do México (UNAM); Xochitl Patricia Aldana, representante permanente no México na Organização dos Estados Ibero-Americanos (OEI); e David Anthony, diretor de Integração, Fusões e Aquisições da Liberty Latin America.

O objetivo foi discutir soluções para a ampliação de políticas públicas que diminuam a grande demanda por mão-de-obra especializada em TIC, necessária para o pleno desenvolvimento do setor no continente. Só no Brasil, por exemplo, dados do IBGE apontam que o país tem uma invejável força de trabalho de mais de 50 milhões de indivíduos entre 18 e 45 anos, sendo 1,5 milhão na área de TI segundo a consultoria internacional IDC, mas as empresas sentem dificuldades de encontrar profissionais qualificados para preencher as vagas disponíveis.

Pino apontou, com dados da consultoria Statista, que a economia digital tem crescido mais rápido que a economia geral, com estimativa de movimentação de 53,3 trilhões de dólares em 2023. Neste ano, a expectativa é que a economia digital represente 50% do PIB global. Mas o desenvolvimento é desigual, com 90% do mercado concentrado nas mãos da China e dos Estados Unidos.

O executivo ainda trouxe dados de uma pesquisa da IDC que apontam que 2,5 milhões de novos profissionais serão demandados pelo mercado de TIC na América Latina até 2026. Dentro desse contexto, 17% dos profissionais de TI também precisarão de treinamento em áreas como Inteligência Artificial, Cloud, Big Data e computação. Mais: a falta de mão de obra qualificada pode gerar um impacto econômico de US$ 1 trilhão em 2025.

André Castro, do MEC, falou sobre a experiência do governo brasileiro:

Trabalhamos como um ponto de orquestração da digitalização em diversas frentes, com o objetivo de garantir que a jornada de aprendizado dos nossos alunos corresponda às necessidades do mercado de trabalho. O Brasil tem se preocupado em certificar-se de que a formação de base das nossas crianças seja de qualidade, garantindo a alfabetização, aprendizado em exatas, sem traumas, e introdução às experiências digitais, como o pensamento computacional e a robótica.

Trazendo uma visão de algumas ações que estão sendo pensadas com foco no contexto do evento, de acelerar a recomposição de profissionais de Tecnologia no setor privado nacional e internacional, ponderou:

No curto prazo, a cooperação com o setor privado precisa ser mantida e ampliada. Temos uma parceria muito sólida com empresas multinacionais, como a Huawei, com o objetivo de capacitar professores, alunos e cidadãos. Projetos como o Seeds for the Future e o ICT Academy colaboram com esse objetivo. No médio prazo, precisamos fortalecer cada vez mais o ensino técnico, já que muitos estudantes se formam em universidades, mas não conseguem um espaço no mercado de trabalho por não terem adquirido as habilidades técnicas e certificações necessárias. No longo prazo, mas começando imediatamente, precisamos de uma estratégia nacional de educação digital que contemple desde a educação fundamental até a universitária em todas as esferas de governo.

Castro ainda ressaltou que o Brasil alcançou o segundo lugar do mundo, conforme pesquisa realizada pelo Banco Mundial, em serviços digitais para o cidadão e que o Brasil possui como meta a universalização da Internet com qualidade até o final de 2023.

Benitez, da UNAM, ressaltou a importância de políticas públicas na área de educação:

Precisamos retomar uma educação que seja a base da formação de todos os cidadãos e das próximas gerações. Uma das saídas é a educação híbrida, mudanças nas bases curriculares e a adoção de novas plataformas de estudo. Estudar, compreender, amadurecer as ideias, contar com uma base comum de serviços básicos – como saúde e educação – para a população é a chave para os governos, que precisam apoiar as universidades neste momento de desenvolvimento digital.

Para a representante da OEI, Xochitl Patricia Aldana, são necessários esforços conjuntos de todos os principais atores sociais – empresas, organizações e governos – para ampliar o acesso à educação e à formação profissional em TIC.

Temos desafios mas também oportunidades de cooperação internacional e este é o papel de uma agência como a OEI. O incentivo ao acesso às novas tecnologias, à aquisição das competências-chave por crianças e adultos, o desenvolvimento de modelos híbridos educativos, a promoção de alianças entre o público e o privado: tudo isso faz parte dessa agenda e a cooperação é a chave para um desenvolvimento mais equilibrado não só no aspecto digital, mas também pedagógico.

Em consenso, os participantes apontaram que as sociedades devem se organizar para garantir acesso às novas tecnologias e às capacitações para produzi-las e usá-las. “A pandemia”, ressaltou Pino, “acelerou a transformação digital”. Há uma demanda cada vez mais crescente por serviços digitais e a integração da América Latina neste processo é fundamental para o desenvolvimento econômico do continente. “O acesso universal à educação é uma prioridade”, enfatizou o representante da Unesco.