A lista de “Mudanças Aceitas” para o Fedora 43 já nos dá uma excelente prévia do que esperar da próxima grande versão da distribuição. O foco é claro: continuar a modernização da base do sistema, aprimorar a experiência do desenvolvedor e empurrar o desktop Linux para o futuro. Se você gosta de releases que limpam arestas acumuladas e, ao mesmo tempo, destravam novidades que fazem diferença no dia a dia, este ciclo tem cheiro de acerto.
Mudanças no sistema de base e instalador
Vamos começar pelo coração da experiência de instalação. O Anaconda segue sua transformação — e duas decisões aqui dizem muito sobre a direção do projeto. Primeiro, o suporte à Modularidade no instalador está sendo removido. Faz tempo que o Fedora aposentou o modelo de módulos no ecossistema, então tirar essa opção do Anaconda reduz complexidade e evita confusão para quem instala. É o tipo de “menos é mais” que encurta cliques e melhora a previsibilidade.
Em paralelo, o Anaconda passa a usar DNF5 “por baixo do capô”. Traduzindo do jargão: resolver dependências fica mais rápido e o time ganha ferramentas melhores de debug — ganha o usuário, ganha o mantenedor. E a aposta em uma experiência moderna continua: a WebUI do Anaconda expande além do Workstation e será padrão nas Spins (KDE, etc.), unificando a jornada de instalação com uma interface mais clara e acessível.
Há também ajustes que parecem pequenos, mas têm impacto prático nessa base: o instalador deixa de permitir UEFI em discos MBR no x86, o que alinha o Fedora ao caminho mais confiável (GPT) e evita combinações pouco testadas que só traziam dor de cabeça. E, no pós-instalação, o sistema migra do histórico lastlog
para lastlog2, solução mais robusta para o registro de logins. São aquelas mudanças de “infra” que você só nota quando tudo simplesmente funciona.
Performance: boot mais esperto
Outra boa notícia na categoria “coisas que a gente sente sem precisar configurar nada”: o initrd passa a ser compactado com zstd por padrão. Na prática, isso significa inicialização um pouco mais rápida e menos tempo vendo o logo do fabricante — o zstd é mais eficiente que xz para esse cenário, e a troca foi validada pelo projeto. Não é um turbo gigantesco, mas é aquele polimento contínuo que se soma a cada release.
Novidades para desenvolvedores
Se você usa o Fedora como estação de trabalho de desenvolvimento (ou compila muito em CI), o 43 chega tinindo. O GNU Toolchain avança para GCC 15.2, binutils 2.45, glibc 2.42 e gdb 17.1 — um pacote coeso que garante performance, compatibilidade e novos recursos de linguagem. Junto, o ecossistema LLVM salta para a versão 21 (com compat-package para quem ainda depende do 20), completando o cenário para quem alterna entre Clang e GCC. Isso posiciona o Fedora onde ele costuma estar: entre as primeiras distros a oferecer toolchain de ponta pronto para trabalho sério.
Nas linguagens, o ritmo também é forte: Go 1.25 vira a versão padrão; Python 3.14 chega com todo o stack atualizado; e o java-25-openjdk passa a ser o JDK preferido (com transição cuidadosa para quem ainda precisa do 21). Resultado? Menos PPA, menos script de bootstrap e mais “dnf install
e vamos embora”. E tem mais: o Fedora oficializa a vendorização por padrão em pacotes Golang, adotando ferramentas para licenças e reprodutibilidade — um passo importante para builds consistentes, sobretudo em ambientes isolados.
No terreno das bases do sistema, a atualização para RPM 6.0 traz uma série de melhorias internas (inclusive de segurança) e prepara o ecossistema para evoluções futuras de empacotamento — com o cuidado explícito de não forçar mudanças de formato nesta etapa. E, completando a “faxina” de ferramentas antigas, o linker Gold é depreciado: upstream parou, e o Fedora segue em frente com alternativas mantidas (como o bfd
e o lld
). Para quem empacota, a vida também fica mais padronizada com as macros %pyproject_*
substituindo de vez as antigas macros de setup.py
. Menos caminhos especiais, mais consistência.
Há ainda uma série de ajustes que, juntos, contam a história de um ecossistema que se moderniza: CMake deixa de aceitar variáveis não-padronizadas no %cmake
; o Maven 4 chega como alternativa paralela; e o Fedora continua a polir flags de build específicas por pacote — tudo para reduzir ambiguidade e tornar as compilações mais reproduzíveis. (E, sim, essa consistência reverbera no ecossistema inteiro: menos “funciona na minha máquina”, mais pipelines verdes.)
Evolução do desktop
No campo do desktop, o Fedora 43 traz mudanças que podem parecer sutis à primeira vista, mas que carregam um impacto enorme no dia a dia. Um dos pontos mais simbólicos é a consolidação definitiva do Wayland: o GNOME não oferecerá mais a sessão X11, forçando a transição para a pilha gráfica moderna que o Fedora vem liderando há quase uma década. Para muitos usuários, isso significa um ambiente mais estável, com melhor suporte a telas de alta resolução e recursos gráficos contemporâneos. Claro, ainda há debates — alguns programas legados podem apresentar problemas — mas a mensagem é clara: o futuro do Linux desktop passa pelo Wayland.
Outro avanço é a expansão da Anaconda WebUI, a interface de instalação baseada em navegador, que já havia estreado na edição Workstation do Fedora 42. Agora, ela se estende também às Spins, as variantes da distribuição com outros desktops, como KDE Plasma e Xfce. Isso não só unifica a experiência de instalação, como torna o processo mais acessível, com uma interface moderna que pode ser acessada até de outro dispositivo via rede local.
E, para completar o pacote visual, temos uma atualização que agrada em cheio quem gosta de uma boa comunicação digital: os emojis. O Fedora 43 passa a usar a versão escalável em COLRv1 da fonte Noto Color Emoji, o que garante símbolos coloridos e nítidos em qualquer tamanho — seja numa notificação minúscula, seja num documento ampliado. É um detalhe que pode parecer trivial, mas que melhora a consistência da experiência gráfica, algo que os usuários percebem de imediato.