Pagar uma mensalidade para usar uma geladeira ou uma máquina de lavar soa como uma ideia saída de uma distopia futurista — mas é exatamente esse o modelo que algumas gigantes da tecnologia querem transformar em realidade.
- O que exatamente a Samsung anunciou?
- A notícia por trás da notícia: a ascensão do Hardware como Serviço (HaaS)
- O conceito de Hardware como Serviço
- As vantagens para as empresas
- As vantagens (e desvantagens) para o consumidor
- A camada de IA: conveniência preditiva versus privacidade vigiada
- Este modelo de assinatura de hardware funcionaria no Brasil?
- Conclusão: estamos prontos para o fim da posse?
Na Coreia do Sul, a Samsung anunciou recentemente a expansão de seu AI Subscription Club, um plano de assinatura para eletrodomésticos inteligentes que inclui benefícios de instalação, manutenção e até notificações preditivas via Inteligência Artificial (IA). O movimento pode parecer pontual, mas na verdade é parte de uma tendência maior: o avanço do Hardware como Serviço (HaaS).
Esse modelo, inspirado no já consolidado Software como Serviço (SaaS), promete mudar a forma como nos relacionamos com a tecnologia e até mesmo com o conceito de propriedade. Será que o futuro da casa inteligente será marcado pela assinatura de hardware, em vez da compra tradicional?

O que exatamente a Samsung anunciou?
O AI Subscription Club, lançado pela Samsung na Coreia, recebeu novas camadas de benefícios. O programa agora oferece:
- Instalação personalizada de eletrodomésticos inteligentes.
- Notificações de pré-atendimento via IA, capazes de identificar potenciais falhas antes que o usuário perceba.
- Planos de pagamento flexíveis, que permitem ao consumidor adotar tecnologia de ponta sem desembolsar grandes quantias de uma só vez.
Em essência, o cliente deixa de ser “dono” do produto e passa a ser assinante de um serviço que garante acesso, suporte e atualização contínua.
A notícia por trás da notícia: a ascensão do Hardware como Serviço (HaaS)
O que a Samsung fez vai além de um novo pacote comercial: é um exemplo da servitização — a transformação de produtos em serviços recorrentes.
O conceito de Hardware como Serviço
O HaaS se baseia na mesma lógica da economia da recorrência, popularizada pelo SaaS. Em vez de comprar, o consumidor paga pelo direito de uso contínuo, enquanto a empresa garante suporte, atualização e, muitas vezes, substituição de equipamentos.
As vantagens para as empresas
- Receita previsível: com assinaturas, as empresas trocam vendas pontuais por fluxo constante de caixa.
- Fidelização: clientes tendem a permanecer no ecossistema da marca.
- Controle do ciclo de vida do produto: permite melhor gestão de logística reversa e reciclagem.
As vantagens (e desvantagens) para o consumidor
Prós:
- Acesso a tecnologia de ponta sem investimento inicial elevado.
- Suporte e manutenção inclusos, reduzindo dores de cabeça.
- Atualizações contínuas, evitando obsolescência rápida.
Contras:
- O custo total pode ser maior a longo prazo.
- O consumidor nunca é realmente proprietário do produto.
- Existe uma dependência direta do fornecedor, tanto no preço quanto na continuidade do serviço.
A camada de IA: conveniência preditiva versus privacidade vigiada
O diferencial do modelo da Samsung está na IA embutida nos eletrodomésticos.
Por um lado, há a conveniência preditiva: um refrigerador que avisa quando há risco de falha, uma máquina de lavar que ajusta automaticamente os ciclos de acordo com o uso, ou um ar-condicionado que otimiza consumo energético.
Por outro lado, surge a sombra da privacidade vigiada. Para que esses dispositivos funcionem de forma inteligente, eles precisam coletar grandes volumes de dados: hábitos de consumo, horários de uso, até padrões de comportamento familiar.
A linha entre serviço útil e vigilância constante dentro de casa é tênue — e coloca consumidores diante de uma reflexão: quanto estamos dispostos a trocar de privacidade por conveniência?
Este modelo de assinatura de hardware funcionaria no Brasil?
A adoção de um modelo de assinatura de hardware no Brasil enfrentaria obstáculos únicos.
Cultura da posse versus cultura do acesso
O consumidor brasileiro ainda valoriza muito a propriedade. Casas próprias, carros e até eletrodomésticos são vistos como conquistas. O modelo de assinatura desafia diretamente essa mentalidade.
Desafios econômicos e logísticos
- O custo de importação de tecnologia já encarece produtos.
- Assinaturas mensais podem não ser viáveis para grande parte da população, diante do poder aquisitivo limitado.
- A logística de suporte e reposição no território nacional seria um desafio adicional para empresas.
Ainda assim, existe um nicho promissor: consumidores early adopters e de maior poder aquisitivo, especialmente em smart homes de alto padrão.
Conclusão: estamos prontos para o fim da posse?
O movimento da Samsung é mais do que um experimento sul-coreano: é um indício de como as empresas querem reinventar a forma de vender tecnologia.
O Hardware como Serviço oferece conveniência, acesso e inovação constantes, mas exige que consumidores abram mão de algo profundamente enraizado: o senso de posse.
A pergunta que fica é: será que estamos prontos para viver em casas onde nada é realmente nosso, mas tudo funciona como um serviço?
E você, assinaria um plano para ter acesso aos melhores eletrodomésticos ou prefere a segurança de ser o dono dos seus aparelhos? Deixe sua opinião nos comentários!