Hector Martin deixa a liderança do Asahi Linux após desafios no desenvolvimento

Escrito por
Emanuel Negromonte
Emanuel Negromonte é Jornalista, Mestre em Tecnologia da Informação e atualmente cursa a segunda graduação em Engenharia de Software. Com 14 anos de experiência escrevendo sobre...

Hector Martin, conhecido como marcan, anunciou sua saída da posição de Project Lead do Asahi Linux, projeto responsável por levar o Linux ao Apple Silicon. A decisão, revelada em uma publicação no blog oficial do desenvolvedor, marca uma transição significativa para o projeto, que agora será gerido pela comunidade do Asahi Linux OpenCollective.

A saída de Martin ocorre meses após sua renúncia como maintainer do Kernel Linux, em meio a debates sobre a implementação do Rust no Kernel. Segundo o desenvolvedor, uma combinação de fatores, incluindo dificuldades no upstream, aumento das demandas dos usuários e desgaste pessoal, o levou a tomar essa decisão.

Os desafios do Asahi Linux e a crescente pressão sobre Martin

Desde seu início, o Asahi Linux chamou atenção por conseguir transformar Macs com chips ARM da Apple em dispositivos plenamente funcionais com Linux. Martin descreveu os primeiros anos como um período de grande entusiasmo e sucesso técnico:

“Os primeiros anos foram incríveis, pois transformamos a plataforma do zero em uma das experiências Linux mais fluidas possíveis em um laptop. Construímos tudo do nada, sem suporte ou documentação dos fabricantes.”

No entanto, com o crescimento do número de usuários, a demanda por suporte e novas funcionalidades aumentou exponencialmente. Recursos como Thunderbolt e outras melhorias foram constantemente requisitados, o que levou a comparações entre o desempenho do Linux no Mac e o sistema operacional nativo da Apple.

Além disso, Martin destacou que as doações ao projeto começaram a diminuir, dificultando a sustentabilidade do trabalho.

Rust no Kernel Linux: um ponto de ruptura

Um dos fatores decisivos para sua saída foi a integração do Rust no Kernel Linux, que Martin considerou um processo mal gerenciado. Ele reforça que o Rust foi essencial para o desenvolvimento do driver de GPU do Asahi, tornando viável seu lançamento dentro do prazo esperado.

“Rust é a razão pela qual nosso driver de GPU teve sucesso. Atualmente, temos dois outros drivers escritos em Rust e um terceiro prestes a ser reescrito, porque Rust é simplesmente mais adequado aos desafios que enfrentamos. O driver em C está se tornando impossível de manter.”

A adoção do Rust no Kernel foi defendida por Martin, mas ele criticou a forma como o processo foi conduzido pela comunidade de desenvolvimento do Linux, aumentando sua frustração com o projeto.

Além disso, ele afirmou que alguns desenvolvedores do Kernel teriam agido de forma desleal, demonstrando apoio publicamente enquanto fomentavam resistência ao Asahi Linux nos bastidores.

Mudança de liderança e o futuro do Asahi Linux

Diante desse cenário, Martin decidiu se afastar do projeto e transferir sua liderança para um grupo de desenvolvedores da Asahi Linux OpenCollective. Em 13 de fevereiro de 2025, o blog oficial do Asahi Linux confirmou a mudança com a publicação intitulada “Passing the torch on Asahi Linux”.

A equipe que assume a liderança declarou:

“Com grande pesar, anunciamos a renúncia de Hector Martin, fundador do Asahi Linux. Sua declaração está em seu blog. Como equipe remanescente, vemos isso como uma oportunidade para construir uma governança sustentável para o projeto. Nenhum projeto de grande porte pode depender exclusivamente de uma única pessoa.”

O repositório no GitHub do Asahi Linux já foi atualizado para refletir a nova estrutura de liderança, e os desenvolvedores afirmam que pretendem garantir a continuidade do projeto.

A dificuldade de manter um projeto dessa escala

A decisão de Martin reflete um problema recorrente no mundo do software livre: a dependência excessiva de um único desenvolvedor para manter projetos complexos.

Hector Martin, que no passado ficou conhecido por hacks em PlayStation, Wii e sistemas embedded, mostrou grande habilidade técnica ao levar o Linux ao Apple Silicon. No entanto, o alto nível de exigência, combinado com as dificuldades de adaptação do Kernel Linux às constantes mudanças de hardware da Apple, tornou o projeto difícil de ser mantido sem suporte financeiro e institucional adequado.

Além disso, o crescimento da base de usuários aumentou as cobranças por novas funcionalidades, tornando insustentável o modelo de desenvolvimento baseado no tempo livre de um único indivíduo. Como o próprio Martin apontou, o desenvolvimento de Linux em hardware fechado e proprietário exige um esforço contínuo e difícil de ser mantido sem o apoio de uma grande corporação.

A transição para uma governança coletiva pode ser um passo positivo para o Asahi Linux, permitindo maior estabilidade no desenvolvimento e evitando que o projeto dependa de uma única pessoa para avançar.

O futuro do Asahi Linux agora está nas mãos da comunidade. Resta saber se o projeto conseguirá manter seu ritmo de evolução e cumprir a promessa de transformar os Macs com Apple Silicon em máquinas plenamente compatíveis com Linux.

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