Hiperscaladores nos EUA vão consumir 22% mais energia até o final de 2025

Escrito por
Emanuel Negromonte
Emanuel Negromonte é Jornalista, Mestre em Tecnologia da Informação e atualmente cursa a segunda graduação em Engenharia de Software. Com 14 anos de experiência escrevendo sobre...

Nos próximos anos, o consumo de energia nos datacenters estadunidenses deve soar alarmante. Uma nova pesquisa indica que a demanda pode aumentar em 22% até o final de 2025, impulsionada principalmente pela necessidade crescente de recursos para inteligência artificial. O que isso significa para a infraestrutura elétrica? Vamos explorar o impacto e o porvir dessa evolução.

Aumento acelerado no consumo de energia

O consumo de energia dos grandes datacenters nos Estados Unidos está prestes a dar um salto impressionante. Segundo uma análise da TD Cowen, a demanda por energia dos chamados hiperscaladores deve crescer cerca de 22% até o final de 2025. Atualmente, o consumo já é de 21 gigawatts (GW), mas a projeção é que chegue a 26 GW em pouco mais de um ano. Para se ter uma ideia, essa diferença de 5 GW é energia suficiente para abastecer milhões de residências.

O que está por trás desse aumento?

A principal força motriz para essa sede de energia é a inteligência artificial. O treinamento e a operação de modelos de IA exigem um poder de processamento gigantesco, o que, por sua vez, demanda uma quantidade enorme de eletricidade. Cada vez que usamos uma ferramenta de IA, estamos contribuindo para essa crescente necessidade energética. Esse cenário está forçando as empresas de tecnologia a repensar como e onde obterão toda essa energia extra para manter suas operações funcionando a todo vapor.

Infraestrutura necessária para novos datacenters

Construir um novo datacenter não é como montar um novo escritório. É um projeto de engenharia colossal que exige uma infraestrutura gigantesca. Para começar, é preciso encontrar um terreno enorme, não apenas para o prédio principal, mas também para sistemas de refrigeração, subestações de energia e toda a logística de segurança. Pense em áreas equivalentes a vários campos de futebol, muitas vezes localizadas em regiões com acesso facilitado a recursos essenciais.

O desafio da energia e da água

O maior gargalo, sem dúvida, é a energia. Um único datacenter de grande porte pode consumir a mesma quantidade de eletricidade que uma cidade pequena. Isso significa que não basta apenas puxar um fio do poste. É necessário construir novas linhas de transmissão de alta tensão e, em alguns casos, até mesmo novas usinas de energia para suprir a demanda. Além da eletricidade, a refrigeração dos servidores consome milhões de litros de água, o que representa outro desafio logístico e ambiental, especialmente em áreas com escassez hídrica. Todo esse processo, desde a escolha do local até a inauguração, pode levar anos, tornando difícil acompanhar o ritmo acelerado da demanda por IA.

Impacto nas empresas de energia

Para as empresas de energia, o boom dos datacenters é como um cliente gigante e faminto batendo à porta. De repente, elas precisam fornecer uma quantidade de eletricidade que levaria anos para ser planejada em circunstâncias normais. Essa demanda repentina está colocando uma pressão sem precedentes sobre a rede elétrica, que foi projetada para um crescimento muito mais gradual e previsível.

Correndo para acompanhar o ritmo

Um exemplo claro disso vem de Ohio, onde a American Electric Power (AEP), uma das maiores concessionárias do país, está lutando para atender aos pedidos. A empresa recebeu tantas solicitações para conectar novos datacenters que teve de pausar novos projetos. O motivo é simples: a infraestrutura atual não aguenta. Para conectar um único datacenter de grande porte, muitas vezes é necessário construir novas linhas de transmissão e subestações, projetos que podem levar anos para serem concluídos e custam centenas de milhões de dólares. Essa corrida para modernizar a rede está se tornando um grande desafio para o setor elétrico, que precisa se adaptar rapidamente para não se tornar um gargalo para a inovação tecnológica.

Mudanças regulatórias em Ohio

Com a corrida dos datacenters por energia, o estado de Ohio se viu em uma encruzilhada: quem deve pagar a conta pelas caríssimas atualizações na rede elétrica? Tradicionalmente, os custos de melhorias na infraestrutura são divididos entre todos os consumidores. No entanto, com a demanda explosiva dos datacenters, manter essa regra significaria que a conta de luz de cidadãos comuns e pequenas empresas poderia disparar para sustentar a operação de gigantes da tecnologia.

Uma nova regra para o jogo

Para evitar essa situação, a Comissão de Serviços Públicos de Ohio (PUCO) está propondo uma mudança significativa. A ideia é que os grandes consumidores, como os novos datacenters, arquem com uma parte substancial dos custos das atualizações que eles mesmos exigem. Em outras palavras, se uma empresa precisa de uma nova subestação de energia de US$ 500 milhões para operar, ela terá que ajudar a pagar por isso. Essa medida busca criar um sistema mais justo, garantindo que o progresso tecnológico não aconteça às custas do bolso de todos os outros consumidores de energia do estado.

Projeções para o futuro até 2030

Se o cenário até 2025 já parece desafiador, as projeções para 2030 são ainda mais impressionantes. A TD Cowen estima que a demanda de energia dos hiperscaladores nos EUA pode mais do que dobrar, saltando dos atuais 21 GW para impressionantes 50 GW. E o que isso significa na prática? Essa quantidade de energia é comparável ao consumo de países inteiros, como a Itália. É uma sede de eletricidade sem precedentes, impulsionada quase que inteiramente pelo avanço da inteligência artificial.

Um futuro de alta demanda

Essa projeção de 50 GW é considerada até conservadora por alguns analistas. Dependendo da velocidade com que novas tecnologias de IA sejam desenvolvidas e adotadas, a necessidade de energia pode ser ainda maior. Isso coloca uma pressão enorme não apenas sobre as empresas de energia, mas sobre todo o planejamento de infraestrutura do país. A grande questão que fica é: de onde virá toda essa energia e como a rede elétrica conseguirá suportar um crescimento tão vertiginoso em tão pouco tempo?

Soluções alternativas de energia

Com a rede elétrica tradicional no limite, os gigantes da tecnologia estão percebendo que não podem mais apenas esperar a energia chegar. Eles precisam ir atrás dela. Isso está abrindo a porta para uma série de soluções energéticas inovadoras, algumas que pareciam coisa de ficção científica até pouco tempo atrás. A ideia é simples: se a montanha não vai a Maomé, Maomé vai até a montanha. Ou, nesse caso, se a rede não aguenta, o datacenter cria sua própria energia.

A aposta na energia nuclear modular

Uma das alternativas mais comentadas é a energia nuclear, mas não da forma como a conhecemos. Estamos falando dos Pequenos Reatores Modulares (SMRs). Pense neles como mini usinas nucleares, seguras e compactas, que podem ser construídas ao lado de um datacenter para fornecer energia limpa e constante, 24 horas por dia. Para uma indústria que não pode parar nunca, essa fonte de energia confiável é o sonho de consumo. Além disso, outras fontes como a solar e a eólica também estão na mesa, muitas vezes combinadas para garantir um fornecimento mais estável e sustentável.

Conclusão

Fica claro que o avanço da inteligência artificial está criando um desafio energético sem precedentes. O crescimento explosivo na demanda de energia dos datacenters não é apenas um número em um relatório; é uma realidade que está pressionando a infraestrutura elétrica, forçando empresas de energia a repensar seus planos e levando a mudanças regulatórias importantes, como as que vemos em Ohio.

A corrida para alimentar o futuro digital não pode depender apenas da rede elétrica existente. A exploração de soluções alternativas, como os pequenos reatores modulares, mostra que a indústria de tecnologia está começando a assumir um papel mais ativo na geração de sua própria energia. O futuro da inovação tecnológica está, mais do que nunca, diretamente ligado à nossa capacidade de inovar na produção e distribuição de energia de forma sustentável e eficiente.

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