Intel pode fabricar chips da Apple e desafiar a TSMC

Rumores indicam que a Intel pode voltar ao jogo ao fabricar chips da Apple com o processo 18A

Escrito por
Jardeson Márcio
Jardeson Márcio é Jornalista e Mestre em Tecnologia Agroalimentar pela Universidade Federal da Paraíba. Com 8 anos de experiência escrevendo no SempreUpdate, Jardeson é um especialista...

Os rumores de que Intel fabricará chips Apple voltaram a ganhar força e apontam para um movimento que pode redefinir a indústria global de semicondutores. Após anos de distanciamento, a Apple pode estar se preparando para retomar uma relação com a Intel, não mais como parceira de arquitetura ou fornecedora de CPUs para Macs, mas como foundry, responsável apenas pela fabricação física dos chips que equipam iPhones, iPads e Macs. A simples possibilidade desse cenário já desperta atenção, pois envolve duas das empresas mais influentes da história da computação moderna.

No centro dessas especulações está o avanço do processo Intel 18A, considerado pela própria empresa como um divisor de águas em sua estratégia de retomada tecnológica. Analistas de mercado sugerem que, entre 2027 e 2028, a Apple poderia confiar à Intel parte da produção dos chips série A e série M, hoje quase totalmente concentrada na TSMC. Se confirmada, a decisão representaria um marco na estratégia de diversificação da Apple e um teste definitivo para o ambicioso plano da Intel de voltar à liderança em manufatura.

Este artigo analisa em profundidade o que dizem os rumores, por que a Apple consideraria essa mudança, a importância crítica do Intel 18A e como essa parceria potencial pode alterar a rivalidade global entre TSMC e Intel, indo muito além de uma simples troca de fornecedores.

O que os rumores dizem sobre a Intel fabricar chips Apple

Logo Intel

As informações que sustentam a tese de que a Intel fabricará chips Apple não surgiram do nada. Elas foram levantadas por alguns dos analistas mais respeitados da cadeia global de semicondutores, com histórico sólido de previsões acertadas envolvendo a Apple e seus parceiros industriais.

Segundo Jeff Pu, analista conhecido por acompanhar de perto a evolução do hardware do iPhone, a Apple avalia utilizar processos avançados da Intel para a fabricação de chips da série A a partir de 2028. Esses chips são o coração do iPhone e do iPad, responsáveis por CPU, GPU, inteligência artificial e eficiência energética. Confiar essa produção à Intel seria uma mudança estratégica sem precedentes desde que a Apple migrou para a TSMC como fornecedora quase exclusiva.

Em paralelo, Ming-Chi Kuo indica que a transição poderia começar ainda antes no ecossistema dos Macs, com chips da série M sendo parcialmente fabricados pela Intel já em 2027. Esses processadores alimentam MacBooks, iMacs e iPads de alto desempenho, e são vitais para a estratégia de integração vertical da Apple, que controla design, software e agora avalia diversificar a manufatura.

A nova função da Intel como foundry para a Apple

É crucial entender que, nesse cenário, a Intel não voltaria a projetar chips para a Apple. A empresa atuaria exclusivamente como fabricante terceirizada, algo viabilizado pela expansão da Intel Foundry Services (IFS). Isso significa que o design continuaria 100% sob controle da Apple, enquanto a Intel forneceria fábricas, processos litográficos e capacidade produtiva.
Essa separação de papéis é fundamental.

No passado, a relação entre Apple e Intel nos Macs era marcada por dependência do roadmap da Intel, o que acabou se tornando um gargalo para a inovação. Agora, a lógica seria outra, a Intel fabricaria exatamente o que a Apple projetar, sem interferir na arquitetura, no cronograma ou nas decisões estratégicas do silício.

Para a Intel, assumir esse papel não é apenas uma oportunidade de negócio, mas parte central de sua reinvenção. Tornar-se uma foundry competitiva em escala global é o pilar do plano para recuperar relevância frente à TSMC e à Samsung Foundry.

A estratégia da Apple por trás da decisão de a Intel fabricar chips Apple

A possível decisão de deixar que a Intel fabrique chips Apple está profundamente ligada à política de diversificação da empresa de Cupertino. Apesar da relação histórica extremamente bem-sucedida com a TSMC, a dependência quase absoluta de uma única foundry gera riscos claros e crescentes.

A TSMC concentra a maior parte de sua produção avançada em Taiwan, uma região geopolítica sensível e frequentemente citada como ponto crítico em análises de risco global. Para a Apple, que vende centenas de milhões de dispositivos por ano, qualquer interrupção na cadeia de suprimentos poderia ter efeitos catastróficos, tanto financeiros quanto de reputação.

Diversificar a fabricação não significa abandonar a TSMC, mas sim reduzir a exposição. Ter a Intel como alternativa em nós de ponta permitiria à Apple negociar melhor preços, garantir capacidade produtiva em diferentes regiões e criar redundância em sua cadeia de suprimentos.

O impacto psicológico e estratégico da diversificação

Existe também um fator estratégico menos visível, mas igualmente importante. Ao considerar seriamente a Intel como foundry, a Apple envia uma mensagem clara ao mercado: ela não aceitará dependência tecnológica excessiva, mesmo quando a parceria é tecnicamente bem-sucedida.

Essa postura fortalece o poder de barganha da Apple e estimula concorrência entre fabricantes de chips. Para consumidores e desenvolvedores, isso pode resultar em inovação mais rápida, custos mais previsíveis e maior estabilidade de fornecimento, especialmente em períodos de crise global.

O ponto focal da parceria: o processo Intel 18A e o sub-2 nm

Nenhum desses rumores faria sentido sem o avanço mais ambicioso da Intel em décadas, o processo Intel 18A. Ele representa a tentativa mais concreta da empresa de retomar a liderança tecnológica em fabricação de semicondutores.
O 18A é amplamente descrito como um nó sub-2 nm, incorporando tecnologias avançadas como transistores RibbonFET e o sistema de alimentação traseira PowerVia. Essas inovações prometem ganhos significativos em eficiência energética, densidade de transistores e desempenho, características essenciais para chips móveis e de alto desempenho como os da Apple.

Segundo a Intel, o 18A pode se tornar o primeiro nó de ponta dessa categoria fabricado em larga escala na América do Norte, algo que se alinha perfeitamente aos interesses de governos e grandes empresas que buscam reduzir a dependência da Ásia para componentes críticos.

Comparação direta com os processos da TSMC

A TSMC não está parada. Seus processos N2 e evoluções planejadas continuam a definir o padrão da indústria. No entanto, o discurso da Intel é claro: o 18A não busca apenas alcançar a TSMC, mas superá-la em determinados aspectos, especialmente eficiência energética e inovação estrutural dos transistores.

Para a Apple, que projeta chips extremamente personalizados, o acesso a um processo competitivo fora da TSMC é um diferencial estratégico gigantesco. Mesmo que o desempenho bruto seja semelhante, a simples existência de uma alternativa viável já muda o equilíbrio de poder entre as foundries globais.

Competição global entre Intel e TSMC no contexto geopolítico

A possibilidade de a Intel fabricar chips Apple também carrega implicações geopolíticas relevantes. Os Estados Unidos vêm investindo pesado na recuperação de sua capacidade de fabricação de semicondutores, e a Intel é peça central dessa estratégia.

Se a Apple, a empresa mais valiosa do mundo, confiar parte de sua produção à Intel em solo americano, isso reforça a narrativa de soberania tecnológica e segurança nacional. Ao mesmo tempo, pressiona a TSMC a acelerar investimentos fora de Taiwan, como já vem fazendo no Arizona, aumentando custos e complexidade operacional.

Essa disputa ultrapassa o mercado e entra no campo da política industrial global, onde cada avanço tecnológico se traduz em influência econômica e estratégica.

Conclusão: um novo capítulo na relação entre Apple, Intel e TSMC

Se os rumores se confirmarem, isso marcará o início de um novo capítulo na indústria de tecnologia. Para a Apple, será a consolidação de uma estratégia de diversificação madura, reduzindo riscos e ampliando sua autonomia. Para a Intel, pode representar a validação definitiva de sua transformação em uma foundry de ponta, capaz de competir com a TSMC no nível mais alto da indústria.

Ainda existem muitas incertezas. Produzir chips da Apple exige volumes enormes, qualidade impecável e confiabilidade absoluta, requisitos que a Intel precisará provar na prática. Ao mesmo tempo, a TSMC continua sendo a líder indiscutível em manufatura avançada e não perderá esse posto facilmente.

O desfecho dessa história terá impactos diretos no preço, no desempenho e na disponibilidade de dispositivos que milhões de pessoas usam diariamente. Resta saber se a Intel conseguirá transformar promessas tecnológicas em produção real e se essa competição renovada beneficiará, no fim das contas, o consumidor final.

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