O KDE Plasma, um dos ambientes de desktop mais aclamados do Linux, está em uma jornada de evolução que o levará para além do seu antigo alicerce gráfico. Embora o X11 tenha servido fielmente por décadas, a equipe do KDE tem uma visão clara para o futuro, e ela reside no Wayland. Um blog post recente de Nate Graham, desenvolvedor-chave do KDE, esclarece a posição da equipe sobre o suporte contínuo ao X11 e os planos para a inevitável transição.
Este artigo mergulhará nas razões técnicas por trás do gradual declínio do X11 e sua substituição pelo Wayland no KDE Plasma. Abordaremos o que os usuários podem esperar em termos de manutenção do X11, os desafios que o Wayland já superou e os que ainda persistem, e, crucialmente, como essa transição está sendo gerenciada para garantir que até mesmo os usuários mais “hardcore” do X11 tenham uma experiência suave e sem perdas.
Prepare-se para entender o futuro do seu desktop Linux e o que significa essa grande mudança para a sua experiência diária, desde a fluidez visual até a compatibilidade com hardware e aplicações.
O status atual do suporte X11 no KDE Plasma
Manutenção contínua, mas com ressalvas
A sessão X11 do KDE Plasma continua a existir e a ser mantida, mas com escopo bem definido:
- O que é garantido:
- O KDE Plasma continuará compilando e implantando normalmente no X11.
- Bugs que tornem a sessão X11 inutilizável, como impossibilidade de login, serão corrigidos.
- O que provavelmente será corrigido (mediante apoio):
- Regressões muito graves específicas do X11 podem ser corrigidas, mas geralmente apenas se houver financiamento.
- O que não será corrigido:
- Bugs menores ou novas funcionalidades não serão implementados para X11 — a menos que alguém pague por isso.
Um alívio para usuários do X11 é que, segundo Nate, apenas 0,76% dos bugs abertos no Bugzilla são específicos do X11 e ainda corrigíveis. Ou seja, grande parte das melhorias é agnóstica ao servidor gráfico, e os usuários de X11 ainda se beneficiam de boa parte do desenvolvimento.
Por que X11 está perdendo sua utilidade: deficiências para o hardware moderno
Limitações de desempenho e recursos gráficos
O X11 foi projetado para uma era anterior, e hoje não acompanha as demandas dos recursos gráficos modernos:
- HDR (High Dynamic Range): suporte parcial e inconsistente.
- Monitores de 10 bits por cor: não suportados adequadamente.
- VRR (Variable Refresh Rate): apesar de funcionar em algumas situações, sofre em setups complexos, como multi-monitor com DPIs ou taxas de atualização diferentes.
- Configurações multi-monitor e multi-GPU: gerenciamento deficiente.
- Screen tearing: problema recorrente.
- HiDPI: implementações menos eficazes comparadas ao Wayland.
Nate Graham fez uma importante correção sobre VRR: embora seja funcional no X11 em certos casos, a incompatibilidade com monitores secundários em laptops é uma fonte comum de frustração.
Segurança, robustez e tratamento de entrada
O modelo de segurança do X11 é antiquado, permitindo que qualquer aplicativo interaja com janelas de outros aplicativos — um risco significativo de segurança.
Além disso:
- O X11 tem pouca robustez a falhas.
- O tratamento de entrada (input handling) é deficiente, com dificuldades para gestos multitouch, por exemplo.
- Falta suporte adequado para autotype em gerenciadores de senhas.
O cronograma da transição: quando o X11 dirá adeus?
Sem cronograma fixo para o abandono do X11
Não há uma data definitiva para o fim do X11 no KDE Plasma. Segundo Nate Graham:
“Não espero que isso aconteça no próximo ano, ou mesmo nos próximos dois anos.”
O plano da equipe é resolver todos os problemas listados na página “Wayland Known Significant Issues”. A meta é que até os usuários mais exigentes do X11 não percebam perdas na migração para o Wayland.
A influência das distribuições Linux
O KDE segue o ritmo das distribuições. Já adotaram Wayland como padrão:
- Arch
- Fedora
- KDE neon
- Kubuntu
- Entre outras
Segundo telemetria do Plasma 6, 73% dos usuários já utilizam Wayland. Esse número cresce consistentemente, apesar de algumas exceções como o SteamOS 3.7 ainda usarem X11 por padrão. Espera-se outro salto na adoção com os próximos lançamentos LTS do Debian e Kubuntu.
Filosofia de desenvolvimento: por que a transição é necessária (e não emocional)
X11: o fim de sua utilidade
A decisão de transição para Wayland não é ideológica. O KDE Plasma busca eficiência e evolução. Como Nate pontua:
“O X11 está vivendo além da sua utilidade.”
Assim como outras tecnologias, o X11 terá seu fim. E, um dia, o mesmo acontecerá com o próprio Wayland.
Otimização de recursos de desenvolvimento
Hoje, o time precisa manter código para dois servidores gráficos diferentes — uma duplicação que consome tempo e atrasa melhorias.
Abandonar o X11 permitirá ao KDE:
- Focar em um único caminho de desenvolvimento.
- Acelerar a entrega de novas funcionalidades.
- Corrigir bugs de forma mais eficiente.
- Melhorar o desempenho geral do Plasma.
Preocupações dos usuários hardcore e as respostas do KDE
Automação e desktop remoto
Usuários relataram preocupações com ferramentas de automação como:
- xdotool
- wmctrl
- pactl
- loginctl
- xset
O KDE responde: grande parte dessas automações pode ser feita com KWin scripting ou substitutos como o ydotool, que já é funcional em Wayland.
Para desktop remoto, o krdp ainda está em desenvolvimento e precisa amadurecer, especialmente para casos como modo headless e inicialização de sessões via SDDM.
Password managers e drivers NVIDIA
- Autotype de senhas com apps como KeePassXC é bloqueado no Wayland por motivos de segurança. Isso é intencional.
- GPUs NVIDIA antigas, como as da arquitetura Kepler (ex: GTX 750 Ti), não funcionam bem no Wayland com drivers recentes. O Nouveau é instável e o NVK/NAK ainda não dá suporte a essas placas.
Restauração de sessão e experiência multi-monitor
A ausência de uma restauração de sessão real no Wayland ainda é um incômodo: as janelas não retornam à posição original, nem os desktops virtuais e atividades são restaurados corretamente.
Configurações com monitores de DPIs ou taxas de atualização diferentes ainda são desafiadoras para o Wayland, embora o X11 também não resolva isso perfeitamente.
Conclusão: o futuro do desktop Linux é Wayland, com um adeus cuidadoso ao X11
A discussão sobre o futuro do X11 no KDE Plasma é um microcosmo do dilema do desenvolvimento de software: como equilibrar a inovação tecnológica com a necessidade de continuidade e estabilidade para os usuários.
A equipe do KDE tem clareza: o Wayland é o futuro, mas a transição não será abrupta nem imposta. Ela será feita com empatia, tecnologia sólida e comunicação clara.
Seja você um entusiasta do Wayland ou um usuário leal do X11, sua contribuição é vital. Teste, reporte bugs e participe das discussões para ajudar a moldar o futuro do KDE Plasma.
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