O Kernel Linux acaba de receber uma adição que promete revolucionar o uso de notebooks Lenovo Gaming Series por usuários do pinguim. Trata-se do novo driver Lenovo Other Mode WMI, um componente que finalmente habilita o controle direto dos limites de energia da CPU — conhecidos como SPL, SPPT e FPPT — por meio da interface Sysfs, sem depender de ferramentas proprietárias ou do Windows.
A novidade é extremamente relevante para gamers Linux, usuários avançados e entusiastas de performance e controle térmico, que por muito tempo ficaram limitados na capacidade de gerenciar o desempenho de seus sistemas de forma nativa. Agora, com o suporte oficial no kernel, é possível ajustar o comportamento energético do sistema para maximizar o desempenho em jogos, aumentar a autonomia da bateria e obter maior controle sobre o gerenciamento térmico — tudo com base no firmware original da Lenovo.
Desvendando o ‘Other Mode’ da Lenovo: o que é e por que é vital para gamers Linux
O termo “Other Mode” refere-se a uma interface de controle de firmware proprietária da Lenovo, exposta via WMI (Windows Management Instrumentation). Essa interface é comum em diversos notebooks da linha Gaming Series, como os Legion e outros modelos voltados para alto desempenho. Por meio dela, o sistema operacional pode se comunicar com o firmware do dispositivo para alterar modos operacionais, políticas de energia e comportamento térmico da máquina.
Até recentemente, esse controle era possível apenas no Windows, por meio de drivers proprietários e ferramentas fornecidas pela própria Lenovo. No Linux, usuários estavam presos a perfis padrão e não conseguiam liberar o real potencial do hardware. O novo driver lenovo-wmi-other muda esse cenário.
A interface WMI em notebooks Lenovo Gaming Series

A WMI é uma camada de abstração usada principalmente no Windows para permitir que aplicações e drivers acessem funcionalidades expostas pelo firmware ACPI do sistema. Em notebooks Lenovo, especialmente das linhas Legion e similares, essa interface expõe comandos específicos que lidam com limites de energia, planos térmicos, perfis de desempenho, e outros ajustes de baixo nível.
O novo driver no Linux traduz esses comandos WMI para uma interface acessível via Sysfs, permitindo que scripts, utilitários e ferramentas como cat
, echo
, ou mesmo udev rules possam interagir com o firmware da mesma forma que no sistema original da Lenovo.
O problema do controle de desempenho no Linux sem drivers específicos
Sem um driver como o lenovo-wmi-other, usuários de Linux nesses notebooks estavam limitados a uma performance subótima. A CPU operava com restrições térmicas e energéticas definidas pelo firmware, mas sem expor esses parâmetros ao sistema operacional. Isso implicava em:
- Redução da frequência máxima da CPU e GPU.
- Subutilização de picos de performance (turbo boost).
- Aumento da temperatura devido à ausência de controle fino.
- Menor duração da bateria em alguns casos.
- Experiência de jogo prejudicada em ambientes Linux.
O driver lenovo-wmi-other: desbloqueando o potencial da sua CPU e GPU
O novo driver de plataforma x86, agora integrado ao Kernel Linux, é identificado como lenovo-wmi-other e implementa suporte à interface ACPI_WMI proprietária da Lenovo para o modo “Other”. Através dele, o sistema agora consegue:
- Consultar e modificar os valores de SPL (Sustained Power Limit), SPPT (Slow Package Power Tracking) e FPPT (Fast Package Power Tracking).
- Definir políticas de energia com base na carga térmica e nos perfis desejados.
- Ajustar o comportamento da máquina em tempo real com comandos simples via Sysfs.
Controle de limites de energia (SPL, SPPT, FPPT) via Sysfs: performance e gerenciamento térmico
Os três limites de energia que podem ser ajustados pelo driver são cruciais:
- SPL (Sustained Power Limit): Define o quanto de energia a CPU pode consumir de forma sustentada.
- SPPT (Slow Package Power Tracking): Controla o consumo com foco em cargas longas e eficiência.
- FPPT (Fast Package Power Tracking): Limita os picos de energia para evitar sobrecarga térmica.
Esses limites agora podem ser acessados e manipulados via entradas no Sysfs, com caminhos como:
/sys/class/firmware-attributes/lenovo_wmi_other/spl
/sys/class/firmware-attributes/lenovo_wmi_other/sppt
/sys/class/firmware-attributes/lenovo_wmi_other/fppt
Você pode, por exemplo, usar:
cat /sys/class/firmware-attributes/lenovo_wmi_other/spl
Para ler o valor atual, e:
echo 28000 > /sys/class/firmware-attributes/lenovo_wmi_other/spl
Para definir um novo limite de 28W, por exemplo (os valores variam conforme o modelo).
A importância da classe ‘firmware-attributes’ para o controle de hardware
A integração do driver à classe firmware-attributes
foi um ponto técnico crucial. Essa classe permite a padronização do acesso a atributos expostos pelo firmware, garantindo que ferramentas genéricas de administração e automação possam interoperar com os novos controles sem depender de soluções específicas.
O driver também utiliza máscaras como:
- LWMI_ATTR_DEV_ID_MASK
- LWMI_ATTR_FEAT_ID_MASK
- LWMI_ATTR_MODE_ID_MASK
- LWMI_ATTR_TYPE_ID_MASK
Essas máscaras facilitam a identificação dos recursos e modos compatíveis com cada dispositivo Lenovo, permitindo escalabilidade e compatibilidade com uma variedade de modelos.
Impacto e benefícios para usuários Linux de notebooks Lenovo
O impacto do lenovo-wmi-other vai muito além de ajustes manuais: ele representa um salto de integração real entre firmware e sistema operacional em dispositivos OEM voltados para desempenho.
Entre os benefícios diretos, temos:
- Desempenho desbloqueado em jogos e cargas de trabalho pesadas.
- Temperaturas mais controladas em uso prolongado.
- Autonomia de bateria aprimorada com limites energéticos inteligentes.
- Controle granular diretamente do Linux, sem dual boot ou uso de Windows para ajustes prévios.
Otimização de desempenho em jogos e cargas de trabalho intensivas
A possibilidade de elevar o FPPT e SPL resulta em ganhos substanciais de performance durante sessões de jogos, compilação de código, renderização 3D e outras cargas intensas. O Linux, muitas vezes subaproveitado em notebooks de alto desempenho, agora pode usar todo o potencial térmico e energético permitido pelo fabricante, sem hacks ou workarounds.
Melhora na autonomia da bateria e na gestão térmica
A capacidade de configurar SPPT permite otimizar o consumo energético para cargas de trabalho prolongadas, como edição de texto, navegação e reuniões online, estendendo a duração da bateria. Além disso, ajustes finos em SPL e SPPT podem reduzir significativamente a geração de calor, mantendo a máquina mais silenciosa e estável.
Avanço no suporte a hardware OEM: o papel do Kernel Linux e da comunidade open source
Este driver marca mais um passo na evolução do Kernel Linux como sistema operacional robusto para hardware OEM proprietário, como os da Lenovo. A iniciativa mostra o poder da colaboração open source e do engajamento de desenvolvedores em melhorar o suporte de drivers para o ecossistema Linux.
Implementação e contribuição: os bastidores do driver lenovo-wmi-other
O driver foi desenvolvido por nomes reconhecidos na comunidade de kernel e plataformas x86:
- David E. Box (Intel)
- Ilpo Järvinen
- Derek J. Clark
- Alok Tiwari
- Armin Wolf
A estrutura do driver envolve componentes como:
- lwmi_om_register_notifier
- lwmi_om_unregister_notifier
- devm_lwmi_om_register_notifier
- component_master_add_with_match
- component_match_add
Essa arquitetura garante que o driver possa detectar dispositivos compatíveis, registrar seus atributos e oferecer callbacks reativos a eventos de firmware, como mudança de perfil ou atualização de BIOS.
Conclusão: o driver lenovo-wmi-other – mais poder e controle para sua experiência gaming no Linux
Com a introdução do driver lenovo-wmi-other, o Kernel Linux dá mais um passo em direção à paridade com o Windows no suporte a notebooks de alto desempenho. A novidade representa um marco para a experiência de usuários Lenovo, especialmente gamers, desenvolvedores e profissionais que dependem de controle fino sobre energia, performance e temperatura. A capacidade de ajustar parâmetros via Sysfs, com total suporte do firmware, mostra o quanto a plataforma Linux evoluiu — e o quanto pode oferecer, quando o open source e os fabricantes trabalham juntos.