Linux 6.17-rc3 é lançado com novidades em drivers, rede, Rust e mais

Escrito por
Emanuel Negromonte
Emanuel Negromonte é Jornalista, Mestre em Tecnologia da Informação e atualmente cursa a segunda graduação em Engenharia de Software. Com 14 anos de experiência escrevendo sobre...

Um rc3 robusto, com correções por todo o kernel e um claro chamado para testes.

Linus Torvalds manteve o ritual de domingo e liberou o Linux 6.17-rc3 — desta vez com “timing” ligeiramente diferente, porque ele estava viajando com a família, mas ainda dentro do período de domingo na Costa Leste. O recado veio no tom clássico de “business as usual”: este -rc3 é maior que o -rc2 (que foi anormalmente pequeno), porém continua dentro dos parâmetros normais para esta fase do ciclo. E, como sempre, há um pedido direto à comunidade: “Please don’t prove me wrong.” Em outras palavras: testem, encontrem os cantos vivos antes que eles cheguem ao lançamento final.

O que mudou no rc3?

Pense no changelog visto de 10 mil pés: ele mostra um projeto em alta rotação, com correções “espalhadas por todo o mapa”. Nesta rodada, o difstat segue o padrão esperado — quase metade em drivers, um bom volume de selftests adicionados e incrementos na infraestrutura em Rust — além de consertos em arquiteturas, sistemas de arquivos, VM e rede. Abaixo, os destaques com impacto prático para quem administra servidores, mantém desktops Linux ou integra produtos:

Drivers e hardware (o miolo do difstat)

  • Rede/Mellanox: o subsistema mlx5 se destaca em volume de mudanças. Para quem opera datacenters, isso costuma significar mais estabilidade sob tráfego pesado e comportamentos de QoS melhor alinhados.
  • Laptops e OEMs: suporte a controle de ventoinha e perfis térmicos em HP Victus 16-r1xxx via HP-WMI — alívio para quem sofria com rotação alta ou falta de governança térmica no Linux.
  • Gráficos: ajustes no DRM (Intel/AMD e Rockchip, entre outros) que miram robustez — menos warnings, menos quedas de sessão e parâmetros de link mais consistentes (ex.: correções em lane count e conexões DP-Alt).
  • USB/Type-C: melhorias no DWC3 (incluindo PCI para plataformas Intel recentes), quirks novos para controladoras e dispositivos de armazenamento, correções de suspensão/retomada em xhci e polimento em drivers Type-C/contaminant.

Sistemas de arquivos: integridade e previsibilidade

  • ext4: consertos em operações sensíveis (fast symlink, fsmap, i_version e caminhos de erro com journal) reduzem risco de inconsistências sob carga real.
  • Btrfs: uma leva de ajustes em end-io, zoned mode, alocação e mensagens de montagem; objetivo: evitar hangs e assegurar flushing correto em cenários de compressão/escrita intensa.
  • Outras camadas como NFS, CIFS/SMB e squashfs receberam correções que evitam oops raros e vazamentos, melhorando a vida de quem monta shares corporativos ou usa imagens comprimidas.

Núcleo, memória e arquiteturas

  • VM/IO: correções em iomap para garantir integridade de dados em O_SYNC, arrumações em mremap para evitar WARNs com userfaultfd e pequenos consertos em blk-mq e queueing que diminuem ruídos sob I/O pesado.
  • s390: defconfigs atualizados e HZ=1000 configurado — benéfico para profiling e responsividade de temporizadores em workloads específicos.
  • LoongArch/ARM/x86: polimento em KVM, migração de páginas, sinalização e mitigação; na linha x86, conserto de seleção de mitigação GDS quando desativada explicitamente, evitando estados incoerentes.

Rede: pilha mais estável no dia a dia

  • Bonding e MPTCP: o bonding recebe consertos em LACP (incluindo modo passivo e periodicidade de LACPDUs); o MPTCP ganha correções que evitam timeouts e duplicidades em retrans.
  • Bridge/PPP/Netfilter: fixes no bridging multicast que evitam soft lockups, correções de race em PPP e pequenos vazamentos/contadores corrigidos em netfilter — menos incidentes difíceis de reproduzir em redes complexas.
  • qdiscs: ajustes em cake e htb para contabilização e estados incomuns, reduzindo surpresas em traffic shaping.

Testes, Rust e qualidade de vida do desenvolvedor

  • Selftests: mais casos de teste (rede, MPTCP, memória, TLS etc.) — quanto mais cobertura, menor a chance de regressão silenciosa.
  • Rust: documentação e APIs lapidadas (ex.: alloc, devres, drm) para integrações de drivers em Rust sem leaks e com contratos de memória mais claros.
  • Ferramentas: userspace e ferramentas de diagnóstico/latência ganham verificações de dependências e fallbacks mais explícitos, reduzindo quebras de build em ambientes diversos.

Por que o rc3 é maior que o rc2 — e por que isso é bom

A conta fecha: um -rc2 “quieto” (com viagens/eventos no meio) tende a ser seguido por um -rc3 mais encorpado. Isso não é sinal de turbulência; é sinal de cadência saudável. O projeto absorve correções em drivers, filesystems, arquiteturas e rede sem desbalancear a árvore — exatamente o que esperamos às vésperas do freeze.

Chamado à comunidade: é hora de testar

Release candidate não é preview de marketing: é código para ser testado. Se você tem laboratório, VMs, parque de homologação ou mesmo um desktop de desenvolvimento, rode o Linux 6.17-rc3, monitore dmesg, valide seus workflows e reporte regressões. Encontrar problemas agora é o que garante um 6.17 final mais estável depois.

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