Quando o suporte às máquinas Apple Silicon chegou ao kernel, os desenvolvedores do projeto Asahi Linux adotaram um atalho para acelerar a integração: em vários drivers, a opção default ARCH_APPLE
foi ativada no arquivo Kconfig. Na prática, isso fazia com que esses drivers fossem compilados como parte fixa (embutidos) do kernel (=y
) sempre que a arquitetura Apple estivesse habilitada.
Esse “detalhe” trouxe dois inconvenientes:
- Inchaço do kernel – cada driver embutido aumenta o tamanho do arquivo principal (
vmlinux
), mesmo que o hardware correspondente nunca seja usado. - Inconsistência com as boas práticas – no ecossistema Linux, a regra é compilar drivers como módulos (
=m
) sempre que possível, carregando-os somente quando o dispositivo é detectado.
A Solução: Módulos para um kernel mais enxuto

Assinado por Sven Peter, mantenedor do Asahi Linux, o conjunto de 11 patches remove o default ARCH_APPLE
de todos os drivers afetados (IOMMU, áudio, toque, DMA, I²C, relógio, entre outros) e, em contrapartida, adiciona essas mesmas opções como módulos no arquivo defconfig da arquitetura arm64.
Qual a diferença em termos simples?
- Driver embutido (
=y
) – o código faz parte do kernel; está sempre na memória, mesmo se o hardware não existir. - Driver em módulo (
=m
) – o código é um arquivo separado (.ko
) carregado apenas quando o dispositivo é detectado, economizando memória e agilizando a inicialização.
O Benefício: Kernel menor e projeto mais maduro
Segundo Sven, a simples troca para módulos resultou em:
- Redução de quase 300 KB no arquivo
vmlinux
(-297 888 bytes). - Corte de 4 KB na imagem compactada (
Image
).
Embora pareçam números pequenos em um kernel de dezenas de megabytes, a mudança mostra algo maior: o suporte ao Linux Apple Silicon kernel está deixando a fase “tudo ou nada” e entrando em um ciclo de refinamento típico de subsistemas maduros do kernel.
Além do ganho de espaço, remover o default ARCH_APPLE
:
- Evita que sistemas personalizados embutam drivers desnecessários.
- Segue o padrão de engenharia do kernel, facilitando futuras manutenções.
- Demonstra que a comunidade Asahi Linux não está apenas adicionando funcionalidades, mas também investindo na qualidade do código.
Contexto do Projeto Asahi Linux
O Asahi Linux lidera o esforço de portar o Linux para Macs com processadores Apple Silicon (M1, M2, M3). A equipe, formada por voluntários e patrocinada por empresas como a CIQ, já habilitou gráficos 3D, áudio e aceleração de vídeo. Agora, com refatorações como essa, o foco se volta a polir a base de código ― um sinal claro de que o suporte está amadurecendo.