Mantenedor do Btrfs acusa criador do Bcachefs de “comportamento tóxico” em carta aberta na LKML

Escrito por
Emanuel Negromonte
Emanuel Negromonte é Jornalista, Mestre em Tecnologia da Informação e atualmente cursa a segunda graduação em Engenharia de Software. Com 14 anos de experiência escrevendo sobre...

Conflito entre mantenedores do kernel expõe debate sobre código de conduta e profissionalismo

Em uma escalada de tensões na comunidade de desenvolvimento do Kernel Linux, Josef Bacik, um dos principais mantenedores do Btrfs, criticou publicamente Kent Overstreet, criador do Bcachefs, por “comportamento inaceitável e comportamento tóxico”. A mensagem foi enviada em 9 de agosto de 2025, dentro da thread “[GIT PULL] bcachefs changes for 6.17” na LKML.

A tensão entre os desenvolvedores de btrfs e bcachefs

O confronto se deu após Kent Overstreet responder a comentários de terceiros sobre o andamento do Bcachefs no ciclo 6.17. Ao reagir, Josef Bacik publicou uma carta aberta na qual afirma que “e-mails como este são o motivo pelo qual ninguém quer trabalhar com você”, citando um histórico de atritos que, segundo ele, consomem tempo da comunidade e violam o espírito do Código de Conduta. Bacik também diz lamentar ter apoiado a inclusão do Bcachefs no kernel no passado.

Bacik usa a adoção do Btrfs para destacar resultados práticos e contrastar com a postura que critica. No texto, ele afirma que a infraestrutura da Meta “é totalmente construída em Btrfs” e que a empresa teria economizado bilhões com seus recursos — alegações apresentadas no próprio e-mail de Bacik como evidência de maturidade técnica sem ataques pessoais.

“Your behavior makes this community a worse place to work in.”

“If you are allowed to continue to be in this community that will be a travesty.”

Segundo Bacik, parte significativa da comunidade já filtra mensagens de Overstreet “para /dev/null”, e “e-mails como este são exatamente o motivo pelo qual precisamos de um Código de Conduta”. Ele afirma ter defendido Overstreet no passado, mas declara que o comportamento “é inaceitável” e que sua presença “tornou nosso trabalho mais difícil”.

A reação não ficou restrita a Bacik. Em respostas subsequentes na mesma thread, Theodore Ts’o — mantenedor do ext4 — criticou o tom de Overstreet e mencionou que “um número muito grande de desenvolvedores do kernel decidiu que você é extremamente tóxico”, apontando que pedidos para retirar o código não estariam ligados à qualidade técnica, mas ao comportamento. Sasha Levin também interveio para tentar recentrar a discussão.

Um apelo ao código de conduta e ao profissionalismo

O episódio reacende o debate sobre como o Código de Conduta é aplicado no Kernel Linux. Em 2024, o Linux Foundation TAB já havia anunciado uma medida de cumprimento que restringiu a participação de Overstreet durante um ciclo de desenvolvimento, exatamente por motivos de conduta — contexto que torna a carta de Bacik mais grave e sintomática de um conflito persistente.

A carta de Bacik também acontece em um momento delicado para o Bcachefs. Embora o sistema de arquivos tenha sido incorporado como “experimental”, o 6.17-rc1 estreou sem mudanças para o Bcachefs — consequência de uma relação cada vez mais tensa entre seu mantenedor e a liderança do projeto. A ausência de novidades técnicas coincide com a piora pública do clima entre desenvolvedores.

Para além dos envolvidos diretos, o episódio expõe um Linux developer conflict que ultrapassa divergências técnicas. A forma de conduzir debates, a responsividade a críticas e o respeito mútuo voltam ao centro da conversa, com desenvolvedores veteranos pedindo foco em profissionalismo e colaboração. Em paralelo, a comunidade observa como esses embates podem influenciar decisões de governança — desde a aceitação de “pull requests” até a manutenção de subsistemas no kernel.

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