Sabemos que agora a Canonical está fazendo horas extras para atrair investidores, é evidente que a atividade que vimos vindo da empresa durante a semana passada ou mais é uma série cuidadosamente organizada de eventos projetados para tranquilizar seus clientes corporativos e para informar aos potenciais investidores que a Canonical está dando prioridade as suas ordens.
Tudo começou na semana passada com o anúncio de Mark Shuttleworth de que a empresa está matando a Unity, que é o ambiente de trabalho padrão do Ubuntu desde 2011. O desenvolvimento do Unity 8 está cessando imediatamente, disse ele, e o Unity 7 não será mais o desktop padrão, começando com a versão 18.04 que será lançado em abril de 2018. Com a morte do Unity a morte do Ubuntu Phone também ocorreu, bem como o servidor de exibição, Mir. O Mir ainda viverá, no entanto, nos serviços de IoT da empresa.
Que Shuttleworth está levando a sério as suas intenções de concentrar os esforços da empresa, particularmente na nuvem e IoT, foi reforçada com um anúncio no mesmo dia do lançamento de um Kernel do Ubuntu feito especificamente para AWS (Amazon Web Services), onde o Ubuntu é a distribuição GNU/Linux mais utilizada. Houve também notícias de demissões em massa, que incluíram a primeira divulgação pública de que a empresa estava buscando investidores externos. Na sexta-feira passada, havia rumores de que a CEO Jane Silber estaria abandonando sua posição para que Shuttleworth assumisse novamente o posto.
Esse “rumor” acabou se concretizando. Na quarta-feira, um dia antes do lançamento do Ubuntu 17.04 Zesty Zapus, Silber anunciou que deixaria o cargo em julho e que Shuttleworth estaria oficialmente de volta. “Oficialmente”, porque como proprietário de fato da Canonical, ele sempre esteve no comando. Silber permanecerá com a empresa, como membro do conselho administrativo.
Neste ponto, os usuários corporativos do Linux, especialmente na nuvem pública onde o Ubuntu domina, provavelmente estão se perguntando quando esse foco aumentado na nuvem e IoT se manifestará.
Assim como ocorreu com o anúncio do Kernel AWS na semana passada, na quarta-feira a Canonical anunciou o lançamento da Canonical Distribution of Kubernetes (CDK), com suporte a versão 1.6.1 do Kubernetes, quase ao mesmo tempo que Silber estava fazendo o anúncio de sua saída. Embora este não seja realmente um grande negócio, o momento do anúncio indica que pretende reforçar a percepção em mercados emergentes.
O lançamento de quinta-feira do Zesty Zapus, também se encaixa perfeitamente nessa percepção. Pouco depois do lançamento, a Canonical publicou um item em seu site, lembrando aos usuários que a nova versão suporta “a maior variedade de recursos de contêineres”, indicando que ele suporta Kubernetes, Docker, LXD e seus próprios Snaps.
Um ponto a se observado é se a empresa tenta entrar em mercados que atualmente podem ser considerados pertencentes à Red Hat. Desde que iniciou seus esforços para entrar nos mercados corporativos há cinco anos, a empresa focou sua atenção em áreas que não são diretamente competitivas com as principais atividades da Red Hat. Embora isso possa continuar, provavelmente podemos esperar para ver a Canonical começar a dar passos nos mercados da Red Hat.
Quanto à IoT, não se surpreenda ao ver a Canonical aumentar a segurança, tanto para proteger fluxos de dados para grandes empresas quanto para produzir soluções de segurança mais eficientes para os fabricantes de dispositivos conectados ao consumidor.
Cada vez mais a Canonical deixa o seu sonho de ser uma Apple do mundo GNU/Linux para trás, para se tornar uma nova Red Hat.