Harald Welte, um renomado desenvolvedor do kernel Linux e fundador da gpl-violations.org, expressou sua decepção com a recente decisão de remover desenvolvedores russos do arquivo MAINTAINERS do Linux. Segundo ele, essa exclusão é um claro sinal de como a comunidade de desenvolvedores do kernel mudou ao longo dos últimos 20 anos, afastando-se dos valores colaborativos que ele conhecia e prezava.
Welte: essa exclusão é equivocada por vários motivos
Falta de transparência: Inicialmente, a remoção ocorreu sem qualquer explicação clara, exceto por uma vaga referência à conformidade legal. Mais tarde, foi divulgado que a decisão se baseou em uma orientação jurídica, supostamente emitida pela Linux Foundation para Linus Torvalds. No entanto, a explicação foi insuficiente, sem detalhes sobre quem estaria sujeito às sanções ou em que jurisdição essas regras se aplicariam. Segundo Welte, faltou uma análise legal completa e adequada para justificar a decisão.
Discriminação por nacionalidade: Welte destaca que os desenvolvedores foram excluídos com base em sua nacionalidade presumida, identificada por seus nomes, e-mails ou empregadores russos. Ele critica essa prática, lembrando que a colaboração em projetos de código aberto sempre foi baseada no mérito das contribuições, independentemente da nacionalidade ou empregador do desenvolvedor.
Embora tenha sido esclarecido que a exclusão está relacionada a uma lista de embargo dos EUA contra indivíduos e empresas russas, Welte questiona se o desenvolvimento do kernel Linux deve ser influenciado por sanções impostas a empresas, especialmente quando o foco deveria estar nas contribuições individuais dos desenvolvedores.
Welte admite que, se os desenvolvedores removidos estivessem de fato listados pessoalmente na lista de embargos, a exclusão seria justificável. No entanto, isso não parece ser o caso. Ele também destaca que, se essa fosse a razão, o log de commits deveria fornecer uma referência clara à lista de sanções e explicar que os desenvolvedores foram mencionados diretamente.
O princípio da responsabilidade coletiva: Welte não minimiza os crimes de guerra cometidos pela Rússia, mas enfatiza que a colaboração entre desenvolvedores de código aberto não deve estar vinculada às ações de governos. Ele questiona se desenvolvedores de outros países com históricos controversos, como Alemanha, EUA ou outros, também deveriam ser excluídos devido às ações de seus governos. Para ele, é errado discriminar as pessoas com base em seu passaporte, empregador ou local de residência.
Ele menciona o conceito alemão de Sippenhaft (responsabilidade familiar), no qual indivíduos eram punidos pelos crimes de seus parentes. Embora a exclusão de desenvolvedores do kernel Linux não seja comparável a punições severas, como prisão, Welte argumenta que o princípio é o mesmo: indivíduos estão sendo punidos por suas associações, e não por suas ações.
A falta de resistência: Welte também lamenta a ausência de debate público dentro da comunidade antes da exclusão dos mantenedores. Mesmo que houvesse uma justificativa legal convincente, ele esperava ver uma discussão mais ampla e uma busca por alternativas para contornar a necessidade de exclusão. Na visão de Welte, a comunidade deveria ter considerado a desobediência civil, ou pelo menos incluído uma nota explicativa no arquivo MAINTAINERS, indicando que a remoção foi uma medida forçada.
O que mais incomoda Welte é a forma como a exclusão foi conduzida: de maneira discreta e com uma explicação vaga no log de commits. Para ele, isso desrespeita o trabalho dos desenvolvedores afetados e afasta outros possíveis colaboradores, desmotivando-os a participar da comunidade Linux.
Ver essa situação acontecendo pessoalmente é doloroso para Welte. Ele costumava se orgulhar de fazer parte da comunidade Linux, mas hoje sente que essa comunidade não é mais a mesma da qual ele fez parte.