A quem diga que o IP vai acabar, mas a verdade é que pelo andar da carruagem não vai ser tão rápido quanto pensaram. Em 2011 começaram os comentários que essa realidade chegaria logo, mas a verdade é que estamos em 2022 e o IP continua firme e forte.
Polêmica do fim do IP
Até meados do ano de 2012 a IANA (que controla a distribuição dos endereços no mundo) deve entregar o último lote. Depois disso existe o estoque local dos RIR (associados regionais de cada continente) deveria durar mais uns 6 meses.
Isso significou que, muito provavelmente, no começo de 2012 qualquer novo link, enlace ou conexão Internet, quer seja com IP válido ou inválido, quer seja com IP fixo ou dinâmico, vai ser obrigatoriamente IPv6. Isso também valeria para conexões ADSL, cable modem, link dedicado, etc, etc.
Eu já falei em vários artigos (veja no Saiba Mais abaixo alguns deles) sobre o fim do IP tradicional e como as empresas e provedores estão despreparados.
IPv6 em mais de uma década
Já faz mais de 11 anos desde que eu comecei a me interessar e acompanhar a evolução do IPv6 no Brasil, e praticamente nada mudou nesse período. A vasta maioria dos gerentes de TI, coordenadores de informática e administradores ainda tem uma vaga ideia do que seja IPv6.
Podemos falar que as operadoras ainda não oferecem esse tipo de conexão (normalmente as menores estão oferecendo alguma coisa, mas ainda muito insignificante), mas a grande verdade é que os clientes não estão se interessando. As operadoras, por sua vez, estão apenas aguardando a demanda surgir (e essa demanda nunca vem).
Também não podemos culpar a FAPESP (que cuida da Internet no Brasil), pois eles tem se esforçado muito em fazer palestras e conscientizar os responsáveis por TI dessa realidade nova.
Bug do IP? Será?
Muitos estão achando que o fim do IP tradicional vai ser como o bug do ano 2000: algo que vem, não muda nada. Isso não é verdade, ao contrário do bug do ano 2000 (quer era teórico e – acima de tudo – houve muito trabalho de desenvolvimento para corrigir as aplicações) o fim do IP tradicional é muito real e não tenho visto grande trabalho nesse sentido.
Outros acham que IPv6 vai ser algo transparente: o Windows 7 (em diante) e Linux (há muito tempo) suportam IPv6, o resto da rede será transparente. Isso também é erro, pois não bastam os clientes e servidores suportaram IPv6, a rede também precisa estar estruturada.
Firewalls e o IPv6
Os firewalls tradicionais não reconhecem IPv6, o IPv6 tem criptografia nativa que não pode ser interceptada pelos firewalls (afinal de contas, se o firewall corporativo pudesse interceptar, os hackers também poderiam), irão surgir aplicações que exijam que os clientes tenham IP válidos (e assim sejam visíveis diretamente pela Internet), os switchs L2 irão transformar o multicast/anycast (que o IPv6 usa aos montes) em broadcast e entupir a rede de tráfego inútil, aplicações web irão parar de funcionar (principalmente as de webcommerce e aquelas que fazem o acompanhamento de usuários via IP).
E tem mais: em IPv6 cada computador, equipamento ou servidor terá milhares de IP diferentes (que poderão ser usados a vontade pelas aplicações), não existe mais “IP fixo” (apesar de que alguns sistemas operacionais permitem essa configuração, isso está fora do planejamento do IPv6 e vai causar mais confusão do que benefícios), serviços como DNS, OSPF e ICMP passam a ser transportados via multicast/anycast.
Dessa forma o IPv6 será uma grande mudança na vida técnica das empresas, mas a grande maioria dos responsáveis (imagino que isso inclui você leitor) não tem feito nada de efetivo para conhecer e – mais importante – testar na prática como o IPv6 funciona.
O que você vai fazer? Vai esperar o IPv6 cair como uma obrigação e sair correndo atrás do prejuízo ou vai se preparar, fazendo laboratórios? Mais do que estudar a teoria, a montagem de laboratórios de teste é essencial pois apenas lá você vai ver como IPv6 possui muitas diferenças em relação ao IP tradicional.
Depois de tanto tempo parece que o IP entrou em um modo de reciclagem, até agora o IP permanece firme e forte e não deve ter fim, ao menos nem tão cedo.