A Apple sofreu um novo revés financeiro e regulatório na Europa, desta vez na Itália, onde foi multada em 98 milhões de euros por abuso de poder na App Store. A penalidade vem no contexto de uma crescente pressão das autoridades europeias sobre as práticas comerciais da empresa, especialmente no que se refere a regras de privacidade seletivas que favorecem seus próprios serviços.
O caso italiano destaca novamente o debate sobre o controle rígido da Apple sobre o ecossistema iOS, o que inclui restrições a pagamentos de aplicativos de terceiros, taxas elevadas e o uso de ferramentas como o App Tracking Transparency (ATT) para limitar concorrentes. Para usuários e desenvolvedores, a multa traz questionamentos sobre liberdade de escolha, inovação e o futuro da plataforma.
Este episódio se soma a um histórico de investigações e punições na União Europeia, reforçando a tendência de que a Apple pode ter de se adaptar a uma realidade regulatória mais rigorosa, que busca reduzir o poder monopolista e ampliar a transparência para consumidores e criadores de aplicativos.

Por que a Itália multou a Apple?
A investigação italiana, iniciada em maio de 2023, concluiu que a Apple utilizou seu controle sobre a App Store para impor restrições injustas aos desenvolvedores e privilegiar seus próprios aplicativos. Segundo a autoridade de concorrência da Itália, a empresa combinou práticas de exclusividade e regras de privacidade seletivas para criar uma vantagem competitiva desleal.
Entre os pontos críticos, destacou-se o uso do App Tracking Transparency (ATT), que foi apresentado como recurso de proteção da privacidade, mas acabou sendo utilizado de forma estratégica para limitar o acesso de concorrentes a dados essenciais para publicidade personalizada e métricas de performance.
O papel do App Tracking Transparency (ATT)
O ATT foi lançado pela Apple como um recurso de privacidade para usuários de iPhone, permitindo que as pessoas escolhessem se seus dados poderiam ser rastreados por aplicativos para fins publicitários. No entanto, investigações europeias apontam que a Apple aplicou o ATT de forma seletiva, penalizando apps concorrentes enquanto seus próprios serviços de publicidade permaneciam menos restritos, criando um desequilíbrio competitivo significativo.
O recurso, portanto, deixou de ser apenas uma ferramenta de privacidade e passou a ser um instrumento de controle de mercado, configurando abuso de poder segundo a legislação italiana.
O cerco europeu contra a Apple
A multa de 98 milhões de euros não é um caso isolado. Em 2022, a França aplicou uma penalidade de 150 milhões de euros contra a Apple por práticas similares, e outras investigações estão em andamento na União Europeia. A Lei de Mercados Digitais (DMA), aprovada recentemente pela UE, exige maior abertura de plataformas e interoperabilidade, pressionando empresas como a Apple a reduzir barreiras que limitam a competição.
Apesar disso, a Apple tem resistido a mudanças, defendendo que o controle do ecossistema garante segurança e privacidade para seus usuários. No entanto, a tendência regulatória europeia sugere que o modelo fechado da empresa pode estar cada vez mais sob escrutínio.
O impacto para o usuário e o mercado
Para usuários, a decisão da Itália pode significar mais liberdade de escolha em aplicativos e métodos de pagamento no futuro, além de maior transparência sobre como seus dados são usados. Para desenvolvedores, abre-se a possibilidade de concorrer em condições mais justas, sem serem penalizados por regras aplicadas de forma desigual.
O efeito indireto também alcança a introdução de novos recursos da Apple, como ferramentas de inteligência artificial e serviços de publicidade. A pressão regulatória pode forçar a empresa a adotar mudanças que aumentem a competitividade, mesmo dentro do iOS.
Conclusão: O fim da era do jardim murado?
A multa na Itália reforça a ideia de que o controle absoluto da Apple sobre sua App Store e o ecossistema iOS pode estar chegando ao fim. Embora a empresa continue argumentando que seu modelo garante segurança e experiência consistente, a tendência é que uma abertura gradual seja inevitável, alinhando-se às exigências europeias de concorrência e transparência.
Para usuários e desenvolvedores, essa mudança representa um dilema clássico: vale mais a segurança oferecida pela Apple ou a liberdade de escolha e inovação proporcionada por um ambiente mais aberto? A discussão continua, e você pode contribuir compartilhando sua opinião sobre qual modelo prefere.
