Netflix e IA: O futuro das séries e filmes começou?

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Jardeson Márcio
Jardeson Márcio é Jornalista e Mestre em Tecnologia Agroalimentar pela Universidade Federal da Paraíba. Com 8 anos de experiência escrevendo no SempreUpdate, Jardeson é um especialista...

Entenda como a gigante do streaming está usando inteligência artificial em suas produções e o que isso significa para o futuro do entretenimento.

Cenas inteiras das séries que assistimos na Netflix já não são mais exclusivamente obra de humanos. Esse é o caso de The Eternaut, uma produção original da gigante do streaming que gerou controvérsia ao utilizar Inteligência Artificial (IA) Generativa em etapas do seu processo criativo. A empresa admitiu recorrer à tecnologia para acelerar tarefas de produção, reacendendo o debate sobre o papel da IA na indústria do entretenimento.

Neste artigo, vamos além da manchete para explicar como essa tecnologia funciona, o que representa seu uso em uma produção como The Eternaut, e por que isso tem provocado reações intensas — tanto de entusiasmo quanto de preocupação — no meio artístico e no público. A discussão vai do impacto na criatividade humana à viabilidade de um futuro onde algoritmos ocupam papéis antes restritos a roteiristas, animadores e diretores.

A decisão da Netflix não é apenas técnica ou orçamentária. Ela é sintomática de uma transformação global em curso, que coloca em xeque os limites entre inovação e ética, e questiona o futuro do trabalho criativo como o conhecemos.

Netflix IA
Imagem: Netflix

O que é a IA generativa no cinema e na TV?

IA Generativa é um ramo da inteligência artificial capaz de criar novos conteúdos com base em dados existentes. No contexto audiovisual, isso inclui geração automática de imagens, vídeos, vozes e até roteiros completos, a partir de comandos simples ou aprendizado de padrões.

Uma das empresas mais ativas nesse setor é a Runway AI, uma startup que oferece ferramentas baseadas em IA para edição de vídeo, geração de cenas, substituição de fundos e outros recursos sofisticados. Seus produtos têm sido amplamente utilizados por profissionais independentes e, mais recentemente, por grandes estúdios.

O diferencial da Runway AI está na intuitividade de seus sistemas, que permitem, por exemplo, transformar uma descrição de texto em uma cena visual completa, ajustar enquadramentos automaticamente ou recriar elementos visuais com apenas alguns cliques. Isso reduz drasticamente o tempo e o custo de determinadas etapas de produção — mas também levanta dúvidas sobre o que se perde nesse processo.

O caso ‘The Eternaut’: como a Netflix usou a IA na prática

A série The Eternaut, adaptação de uma clássica obra de ficção científica argentina, entrou no centro das atenções ao ter seu uso de tecnologia de IA confirmado pela própria Netflix. A empresa revelou que utilizou a IA Generativa para acelerar processos de pós-produção, sem detalhar exatamente quais elementos foram gerados.

Segundo fontes do setor, é possível que a IA tenha sido usada para criação de cenários, manipulação de efeitos visuais ou retoques em planos de fundo, tarefas que tradicionalmente exigiriam longas horas de trabalho humano.

A justificativa da Netflix é clara: agilidade e economia. Com prazos apertados e orçamentos que precisam ser otimizados, a IA se torna uma aliada poderosa. No entanto, o anúncio repercutiu como um alerta para muitos profissionais do audiovisual.

A grande controvérsia: eficiência de custo vs. o futuro do trabalho criativo

De um lado, a promessa da eficiência

Os defensores do uso de IA na Netflix argumentam que a tecnologia traz uma série de vantagens:

  • Redução de custos com efeitos visuais e processos de finalização.
  • Aceleração do cronograma de produção, permitindo lançamentos mais rápidos.
  • Acessibilidade de ferramentas para cineastas independentes, que antes não tinham recursos para grandes produções.

Além disso, a IA pode ser uma aliada em tarefas repetitivas, liberando os criativos para focarem na parte mais autoral do projeto.

Do outro, o medo do apagamento humano

Por outro lado, há temores reais de que a IA substitua profissionais essenciais na indústria audiovisual. Animadores, editores, coloristas, compositores e até roteiristas veem na IA uma ameaça direta aos seus empregos.

Essa preocupação ficou evidente nas recentes greves de Hollywood, organizadas pelo WGA (Writers Guild of America) e pelo SAG-AFTRA (Screen Actors Guild – American Federation of Television and Radio Artists). Um dos pontos centrais dessas paralisações foi justamente a inclusão de cláusulas de proteção contra o uso indiscriminado de IA em produções.

Os críticos alertam para o risco de uma indústria onde o conteúdo se torne padronizado, sem alma, com histórias previsíveis e visuais gerados por algoritmos treinados apenas em tendências passadas. A centralização de tecnologias em grandes plataformas pode ainda ampliar desigualdades e limitar o espaço para criações autorais e experimentais.

O futuro é agora: o que esperar da IA na indústria do entretenimento

A Netflix não está sozinha nessa jornada. Estúdios como a Disney e empresas como a Amazon e Warner Bros também estão investindo pesado em IA, seja para análise de roteiros, previsões de sucesso ou até na criação de personagens digitais.

Entre as possibilidades futuras estão:

  • Roteiros coescritos entre humanos e IA, otimizando diálogos ou sugerindo reviravoltas.
  • Atores digitais hiper-realistas, criados a partir de escaneamentos 3D e movimentação gerada por IA.
  • Trilhas sonoras inteiras compostas por algoritmos, adaptando-se em tempo real ao clima emocional da cena.

Essas inovações, embora impressionantes, colocam em xeque a experiência humana de criação e fruição da arte. Para o público, o desafio será identificar o que é feito por pessoas e o que é produzido por máquinas — e se isso, de fato, importa.

Conclusão: uma ferramenta, não o artista final?

O uso de IA Generativa em produções como The Eternaut marca um ponto de virada na indústria do entretenimento. A tecnologia, como qualquer outra, é uma ferramenta. O problema — ou a solução — está em como ela será usada.

Ela pode ampliar possibilidades criativas, tornar o audiovisual mais acessível e facilitar o trabalho de artistas. Mas também pode gerar precarização, homogeneização e um distanciamento da emoção humana que torna o cinema e a TV tão únicos.

A decisão da Netflix é apenas o começo. A discussão precisa se aprofundar, envolvendo criadores, empresas e o público para que o futuro da produção audiovisual seja equilibrado, ético e verdadeiramente criativo.

A Netflix está certa em abraçar a IA ou deveria priorizar os criadores humanos? Qual a sua opinião sobre o uso de inteligência artificial em filmes e séries? Deixe seu comentário abaixo!

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