Netflix cancela 21 jogos: impacto e futuro dos games

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Jardeson Márcio
Jardeson Márcio é Jornalista e Mestre em Tecnologia Agroalimentar pela Universidade Federal da Paraíba. Com 8 anos de experiência escrevendo no SempreUpdate, Jardeson é um especialista...

Netflix cancela 21 jogos: Saiba o que muda e o futuro dos games na plataforma de streaming.

A Netflix, conhecida por sua expansão agressiva além do streaming de filmes e séries, chocou o mercado de games ao anunciar o cancelamento e a remoção de 21 jogos de seu catálogo, incluindo dois títulos altamente reverenciados: Hades e Katana ZERO. A notícia pegou desenvolvedores e assinantes de surpresa, especialmente porque esses jogos não só foram bem avaliados pela crítica como também representavam o lado mais promissor da estratégia de jogos da empresa.

Netflix cancela 21 jogos: O que significa para o futuro dos games na plataforma?

A decisão levanta questões sobre a viabilidade da plataforma de games da Netflix, o seu comprometimento com os títulos independentes e a real intenção por trás da reformulação do seu portfólio de jogos. Este artigo analisa os motivos por trás da mudança, o impacto para os envolvidos e o que esperar do futuro dos jogos na Netflix.

Imagem com a logomarca da Netflix Games

O anúncio e os títulos impactados

No início de junho, a Netflix começou a notificar usuários e desenvolvedores sobre a saída iminente de 21 jogos de sua plataforma, em um movimento interpretado como uma revisão estratégica da linha de conteúdo disponível. A decisão afeta não apenas títulos pouco conhecidos, mas também franquias e jogos renomados.

Entre os títulos mais notáveis que deixarão a plataforma estão:

  • Hades (Supergiant Games) – Remoção prevista para outubro de 2025
  • Katana ZERO (Askiisoft/Devolver Digital)
  • Carmen Sandiego: To Steal or Not to Steal
  • Twelve Minutes
  • OXENFREE II: Lost Signals
  • Spiritfarer
  • Reigns: Three Kingdoms

Essa medida gerou reações negativas nas redes sociais, especialmente por afetar jogos com histórias profundas, jogabilidade refinada e alto valor de produção — características que normalmente agregam valor à proposta de um serviço de assinatura.

A perda de jogos aclamados: Hades e Katana ZERO

Hades, vencedor de múltiplos prêmios, incluindo o BAFTA de Melhor Jogo, é amplamente reconhecido como uma das obras-primas dos roguelikes modernos. Katana ZERO, por sua vez, é um cultuado título indie de ação com narrativa não linear e estética retrô marcante. A saída desses dois jogos é particularmente emblemática por representar uma ruptura com o compromisso da Netflix com jogos de alta qualidade e prestígio crítico.

Para os jogadores, a remoção significa a perda de acesso gratuito a experiências premium, antes vistas como um diferencial da assinatura da Netflix. Já para os desenvolvedores, especialmente os estúdios independentes, a retirada precoce pode afetar a visibilidade, o faturamento e o relacionamento com futuros parceiros de distribuição.

Revisitando a estratégia de jogos da Netflix

Desde sua entrada no mercado de games, a Netflix buscou diversificar seu catálogo com uma combinação de aquisições de estúdios, desenvolvimento interno e licenciamento de títulos renomados. A compra de estúdios como Night School Studio (de Oxenfree) e o desenvolvimento de jogos inspirados em franquias como Stranger Things sinalizavam um investimento sério no setor.

Entretanto, o fechamento do estúdio AAA interno da Netflix em 2023, pouco mais de um ano após sua inauguração, já dava indícios de inconsistência na estratégia de longo prazo da empresa. A atual onda de cancelamentos parece confirmar um redirecionamento profundo, possivelmente motivado por custos operacionais, métricas de engajamento insuficientes ou falta de sinergia com os objetivos centrais da empresa.

O novo foco: Jogos vinculados a séries, party games e títulos populares

A Netflix sinalizou que pretende agora priorizar jogos com conexão direta ao seu conteúdo original, bem como experiências casuais e multiplayer, como party games e puzzles. O objetivo parece ser integrar mais organicamente os games ao ecossistema audiovisual da empresa, transformando-os em extensões de séries e filmes de sucesso.

Essa nova abordagem reflete uma estratégia de brand synergy, com títulos como Too Hot to Handle: Love is a Game e jogos baseados em La Casa de Papel ou Stranger Things. No entanto, essa mudança levanta dúvidas sobre o comprometimento da Netflix com diversidade e inovação criativa no portfólio de jogos.

Implicações para desenvolvedores e jogadores

Vários desenvolvedores independentes foram pegos de surpresa com o anúncio. Ao licenciar seus títulos para a Netflix, muitos esperavam visibilidade e estabilidade. Agora, enfrentam a perspectiva de relicenciar ou republicar os jogos por conta própria como títulos premium, fora da Netflix.

Para os jogadores, especialmente aqueles que se acostumaram com experiências de qualidade disponíveis dentro da assinatura, a mudança representa uma redução no valor percebido da plataforma. A falta de transparência na comunicação da empresa também alimenta o ceticismo sobre a seriedade de sua aposta no setor de games.

O impacto para os assinantes e a experiência de jogo

Com a remoção dos 21 títulos, a oferta total de jogos da Netflix cai para menos de 70 opções ativas, uma fração do que é oferecido por concorrentes como o Apple Arcade ou o Xbox Game Pass. Para o assinante comum, a percepção pode ser de um retrocesso na ambição da plataforma.

Além disso, a ausência de um hub centralizado para jogos nos aplicativos principais da Netflix, algo que já foi criticado no passado, torna mais difícil descobrir e engajar com os títulos restantes. Isso compromete a experiência do usuário e limita o potencial de crescimento da base de jogadores ativos.

O futuro dos jogos em serviços de assinatura

A decisão da Netflix ocorre em um momento em que os modelos de assinatura para games ainda estão sendo consolidados. Empresas como Microsoft, Sony, Apple e Nvidia vêm explorando abordagens distintas — com foco em nuvem, bibliotecas premium ou curadoria de títulos exclusivos.

O recuo da Netflix pode sinalizar que o modelo de distribuição atual da empresa não se mostrou viável ou atrativo o suficiente para justificar os custos envolvidos. Alternativamente, pode representar uma mudança de fase, focando menos em quantidade e mais em experiências ligadas à marca.

Ainda assim, o risco é perder relevância no segmento antes mesmo de consolidar uma base fiel de jogadores — algo que pode ter implicações estratégicas mais amplas, inclusive para o posicionamento da marca como um todo.

Conclusão: Uma aposta recuada ou um reposicionamento calculado?

A remoção de 21 jogos da Netflix, incluindo clássicos como Hades e Katana ZERO, representa mais do que uma simples curadoria: trata-se de um reposicionamento estratégico com impacto direto na percepção de valor da plataforma de jogos da empresa. Enquanto a Netflix parece buscar sinergia com seu conteúdo audiovisual e foco em experiências casuais, ela arrisca alienar parte do público que valoriza jogos independentes de alta qualidade.

Para desenvolvedores, jogadores e entusiastas do mercado, o movimento é um alerta sobre os riscos e instabilidades dos serviços de assinatura de games, especialmente quando controlados por empresas cujo core business está fora do setor. Ainda há tempo para a Netflix ajustar sua rota, mas a confiança do mercado pode demorar a ser reconquistada.

E você, o que acha da decisão da Netflix? A plataforma ainda tem futuro no mundo dos games? Deixe sua opinião nos comentários.

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