Para os fãs do niri — o niri Wayland compositor — a tarefa de rodar aplicativos X11 (como Steam e muitos jogos) ficou drasticamente mais simples. A nova versão integra, de forma transparente, o xwayland-satellite: você instala o binário, não precisa mais mexer em $DISPLAY
, e os apps X11 “simplesmente funcionam” quando necessários. Em outras palavras, chega de malabarismos; o compositor cria os sockets de X11 e dispara o helper sob demanda, cuidando inclusive de reiniciar o processo se algo falhar (detalhes nas notas de lançamento do niri v25.08).
Além da compatibilidade, o niri também deu um passo importante rumo à inclusão: há suporte básico a leitores de tela como o Orca. A acessibilidade deixa de ser um item distante no roadmap e começa a ganhar espaço dentro do compositor — ações comuns (troca de workspace, diálogo de saída, entrada na interface de captura, erros de configuração e até a lista de atalhos importantes) agora são anunciadas por voz, tornando o ambiente utilizável para pessoas com deficiência visual (veja a nova página de acessibilidade no wiki).
Suporte a X11 “que simplesmente funciona” com xwayland-satellite
Por que isso importa? Porque, goste-se ou não, ainda há um ecossistema considerável preso ao X11 — de jogos com Proton a IDEs pesadas e apps baseados em Electron. Em vez de “internalizar” o Xwayland como outros compositores, o niri abraça o xwayland-satellite como intermediário: o satélite lida com as peculiaridades do mundo X (reparenting, dicas de janelas, foco), enquanto o niri continua a gerenciar apenas janelas Wayland “limpas”. É uma separação de responsabilidades que mantém o código do compositor mais enxuto e previsível.
Tecnicamente, a integração funciona assim: o niri cria os sockets de X11 em disco, exporta o $DISPLAY
e só então inicia o xwayland-satellite quando um cliente X11 aparece. Não há corrida de inicialização (o velho “o Xwayland subiu antes/depois do que devia”), então você pode colocar seus apps X no autostart sem medo. E se o satélite cair? O compositor traz tudo de volta à vida automaticamente. Na prática, a experiência se equipara ao “Xwayland embutido” — só que com menor acoplamento. Para quem quiser se aprofundar, o projeto explica a filosofia e os requisitos no repositório do xwayland-satellite.
E como isso se traduz no dia a dia? Pense no niri como aquela mesa de trabalho organizada: tudo tem seu lugar (colunas roláveis, sem tiling agressivo que “espreme” janelas), e quando um convidado “do mundo X11” chega, um adaptador discreto o acomoda sem bagunçar a casa. Quer abrir a Steam para uma jogatina rápida? Abre. Precisa do Ghidra ou de uma IDE do JetBrains? Vai fundo. O satélite cuida da compatibilidade; o niri cuida do fluxo.
Crédito onde é devido: obrigado a @Supreeeme pelo desenvolvimento contínuo do xwayland-satellite — a peça que torna essa abordagem modular possível.
Um passo à frente na acessibilidade do Wayland
A segunda grande história desta versão é a acessibilidade. O niri implementa a interface D-Bus org.freedesktop.a11y.KeyboardMonitor
, permitindo que o Orca escute e capture eventos de teclado corretamente; além disso, os elementos principais da interface do compositor passam a ser expostos via AccessKit. Resultado: quando você troca de workspace, abre o diálogo de sair, entra na interface de screenshot, encontra um erro de configuração ou consulta os atalhos importantes, o leitor de tela anuncia o que está acontecendo. É o tipo de feedback que transforma um ambiente “usável com esforço” em “usável de verdade”.

Há ainda dois toques práticos que mostram o cuidado do projeto: (1) a combinação padrão Super+Alt+S ativa ou desativa o Orca — o atalho de fato usado pela comunidade — e (2) como o Orca ainda precisa de um socket X11, a nova integração com o xwayland-satellite fecha o ciclo e simplifica a vida de quem depende do leitor de tela. Em suma, compatibilidade e acessibilidade se reforçam mutuamente.
E por que isso é “fundacional”? Porque leitores de tela não são um plugin que se pluga no fim: eles exigem encanamento correto (eventos, foco, hierarquias) no coração do compositor. Ao adotar AccessKit e os protocolos adequados, o niri estabelece a base para evoluir de “suporte básico” para experiências mais ricas — sem que cada novo recurso quebre a navegação por voz.
O que mais vem no pacote?
Fora esses dois pilares, a versão também traz uma série de melhorias que elevam a qualidade de vida: ajustes na interface de captura de tela (inclusive com gestos e movimentação via teclado), novas opções de configuração menos surpreendentes (como os atalhos spawn-sh
para comandos complexos), correções para screencast em placas NVIDIA e aperfeiçoamentos no IPC para expor posições/tamanhos de janelas — um empurrão na direção de bars e shells mais inteligentes. É polimento contínuo que fortalece o conjunto sem desviar do foco principal.
Créditos e colaboração: além de @Supreeeme, o projeto agradece a @DataTriny do AccessKit pela orientação em acessibilidade — um lembrete de como o software livre avança quando comunidades distintas se unem para resolver problemas difíceis. Para conhecer melhor o projeto, visite o repositório do niri.