Rust no Android: Google reduz bugs de segurança de memória abaixo de 20%

Google revela como a adoção da linguagem Rust está transformando a segurança do Android, reduzindo bugs de memória a mínimos históricos.

Escrito por
Jardeson Márcio
Jardeson Márcio é Jornalista e Mestre em Tecnologia Agroalimentar pela Universidade Federal da Paraíba. Com 8 anos de experiência escrevendo no SempreUpdate, Jardeson é um especialista...

O Rust no Android acaba de atingir um marco histórico que consolida a linguagem como um dos maiores avanços em segurança computacional das últimas décadas. O Google anunciou oficialmente que, pela primeira vez em toda a história do sistema operacional, os bugs de segurança de memória representam menos de 20% de todas as vulnerabilidades encontradas. Esse é um ponto de virada monumental para milhões de usuários preocupados com privacidade e segurança. A razão central desse salto qualitativo tem nome: Rust. Neste artigo, analisamos em profundidade o impacto dessa conquista, como a adoção da linguagem está transformando o desenvolvimento do Android e por que essa mudança representa um novo padrão para toda a indústria. Por décadas, C e C++ dominaram o desenvolvimento de sistemas, oferecendo controle absoluto sobre hardware e desempenho máximo, mas ao custo de introduzir uma quantidade elevada de falhas graves relacionadas ao gerenciamento manual de memória. Agora, a estratégia do Google está provando que é possível combinar performance com segurança sem compromissos.

O que o Google anunciou: a barreira dos 20%

Andorid Canary

Em seu anúncio mais recente, o Google celebrou o fato de que os bugs de segurança de memória do Android finalmente caíram abaixo da marca de 20%. Essa queda não aconteceu por acaso. Segundo Jeff Vander Stoep, engenheiro de segurança do Google, a linguagem Rust está apresentando uma “redução de 1000 vezes na densidade de vulnerabilidades” em comparação com implementações equivalentes em C++. Para entender o significado desse número, basta lembrar que, em 2019, o Android registrou cerca de 223 vulnerabilidades de memória. Em 2024, esse número já havia despencado para menos de 50. Agora, em 2025, o percentual de falhas desse tipo cai para um nível inédito, tornando o Android consideravelmente mais seguro do que qualquer geração anterior. Essa tendência demonstra que a adoção de Rust pelo Google não apenas funciona, mas está superando expectativas ao atacar a categoria de falhas mais cara, mais explorada e mais perigosa da segurança de software.

O que são bugs de segurança de memória?

Para o público geral, a expressão “bug de segurança de memória” pode soar técnica demais, mas o problema é simples de entender. Imagine tentar guardar objetos em uma gaveta que não existe. Isso é um buffer overflow. Agora imagine tentar usar uma chave para abrir uma casa que já foi demolida. Isso é um use-after-free. Esses erros acontecem quando um programa tenta acessar ou manipular áreas de memória que não deveriam estar mais em uso ou que nunca foram corretamente reservadas. Em linguagens como C e C++, que dependem de gerenciamento manual de memória, o programador precisa lembrar de cada detalhe sobre onde, quando e como os dados são alocados e liberados. Basta uma distração para abrir uma porta enorme para invasores.

Por que C e C++ são tão suscetíveis?

O problema não é que C e C++ sejam ruins, mas que foram projetadas em uma era em que ataques modernos simplesmente não existiam. O desenvolvedor tem controle total sobre cada byte, o que é poderoso, porém perigoso. Um pequeno erro pode permitir que hackers assumam o controle do aplicativo, do sistema e até do dispositivo. É por isso que essas linguagens continuam sendo responsáveis pela maioria das vulnerabilidades graves de software em todo o mundo, especialmente em sistemas operacionais, kernels e navegadores.

Como o Rust resolve isso?

A grande inovação do Rust é o seu borrow checker, o verificador de empréstimo. Ele analisa o código durante a compilação e impede que o programa compile caso exista qualquer possibilidade de uso incorreto da memória. O desenvolvedor não precisa lembrar de tudo, porque o compilador faz esse trabalho automaticamente. O resultado é simples: erros de memória deixam de chegar ao código final. É essa camada automatizada de segurança que faz com que o Rust no Android esteja reduzindo vulnerabilidades de forma tão drástica.

Surpresa: o caminho mais seguro é também o mais rápido

Um dos pontos mais interessantes admitidos pelo Google é que escrever código em Rust não apenas gera menos falhas, mas também acelera o desenvolvimento. Isso quebra de vez o mito de que segurança e velocidade de produção são objetivos incompatíveis. Os dados divulgados são impressionantes: código escrito em Rust apresenta uma taxa de reversão 4 vezes menor do que código equivalente em C++. Isso significa que, na prática, o código funciona corretamente logo na primeira tentativa. Além disso, revisões de código levam 25% menos tempo, o que reduz gargalos e prazos. Vander Stoep resume a mudança de forma clara: “o caminho mais seguro agora também é o mais rápido”. Para um ecossistema tão vasto quanto o Android, isso representa economia gigantesca de tempo, recursos e estresse para os engenheiros.

Rust não é uma bala de prata: o caso do unsafe Rust

Apesar dos números extraordinários, o Google deixa claro que Rust não é mágica. No caso da vulnerabilidade CVE-2025-48530, encontrada no projeto CrabbyAVIF, o problema surgiu em um trecho de unsafe Rust, uma área especial da linguagem em que o programador pode desabilitar as proteções automáticas de segurança. Esse recurso existe por motivos legítimos, como otimizações de desempenho ou interoperações com bibliotecas escritas em C ou C++. O caso do CrabbyAVIF mostra que, mesmo em Rust, ainda é possível introduzir falhas se essas áreas forem usadas sem extremo cuidado. Porém, mesmo assim, a vulnerabilidade não resultou em riscos reais ao usuário final.

Defesa em profundidade: o papel do Scudo

O motivo é simples: o Android conta com múltiplas camadas de proteção. O alocador de memória Scudo, usado no sistema, impediu que o bug em questão se tornasse explorável. Isso ilustra perfeitamente o conceito de defesa em profundidade, no qual vários mecanismos independentes trabalham juntos para bloquear falhas antes que elas causem danos. Em outras palavras, Rust evita a maior parte dos problemas, e o Android bloqueia o resto.

O futuro: Rust se expandindo por todo o ecossistema Android

O Google afirma que está ampliando o uso de Rust em quase todos os níveis do ecossistema. Isso inclui o Kernel do Android, bibliotecas fundamentais, firmware crítico e componentes de alto risco, como Nearby Presence e MLS. Além disso, partes essenciais do Chromium, como analisadores de PNG e JSON, já estão sendo reescritas em Rust. Tudo isso sinaliza um movimento de longo prazo: um Android mais seguro, mais estável e menos vulnerável a ataques sofisticados. Para o usuário final, isso significa atualizações mais rápidas, menos risco de exploração e um sistema operacional capaz de acompanhar a escala atual de ameaças globais.

Conclusão: uma nova era para a segurança de software

A redução dos bugs de segurança de memória para menos de 20% marca uma virada histórica no Android. A estratégia do Google de colocar a segurança em primeiro lugar, adotando Rust em larga escala, está produzindo resultados concretos em performance, estabilidade e qualidade do código. O sucesso dessa abordagem não apenas valida Rust como uma linguagem de sistema de primeira classe, mas também estabelece um novo marco para toda a indústria de software. E você, que é desenvolvedor ou entusiasta de tecnologia, já experimentou Rust? Acredita que outras empresas seguirão o exemplo do Google nos próximos anos? Deixe sua opinião nos comentários e participe da conversa.

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