Samba 4.23 é lançado com Extensões Unix habilitadas por padrão e o futurista suporte a SMB sobre QUIC

Escrito por
Emanuel Negromonte
Emanuel Negromonte é Jornalista, Mestre em Tecnologia da Informação e atualmente cursa a segunda graduação em Engenharia de Software. Com 14 anos de experiência escrevendo sobre...

Interoperabilidade sem dor hoje, desempenho preparado para o futuro!

O Samba 4.23.0, lançado em 12 de setembro de 2025, marca um passo importante na evolução do projeto que há décadas conecta o mundo Windows e Linux. A nova versão estável traz duas mudanças que prometem transformar a experiência dos administradores e usuários: as SMB3 Unix Extensions agora estão habilitadas por padrão e chega também o suporte experimental ao SMB3 sobre QUIC, um protocolo moderno que redefine o transporte de dados em redes instáveis. Além disso, a versão adiciona um endpoint nativo para Prometheus, abrindo as portas para observabilidade em larga escala.

Extensões Unix por padrão: uma vitória para a interoperabilidade

Quem já administrou um ambiente misto — com servidores Samba e clientes Linux ou macOS — sabe bem o peso das limitações de interoperabilidade. Até a versão anterior, para que permissões POSIX, symlinks, hardlinks ou arquivos especiais funcionassem corretamente via SMB, era preciso configurar manualmente as SMB3 Unix Extensions. Agora, isso acontece de forma transparente.

Com o Samba 4.23, os clientes Unix passam a ter acesso imediato a semântica POSIX completa, sem ajustes extras no smb.conf. É o fim de várias dores de cabeça: scripts quebrados por falta de suporte a links simbólicos, permissões desalinhadas entre sistemas e arquivos especiais que simplesmente não funcionavam como deveriam. Para o administrador, a mensagem é simples: menos configuração, mais previsibilidade. E para o usuário final, uma integração mais fluida entre mundos historicamente diferentes.

E o melhor: clientes Windows que não reconhecem as extensões continuam funcionando normalmente, utilizando o comportamento SMB3 tradicional. Ou seja, não há perda de compatibilidade.

O futuro é QUIC: SMB3 ganha um novo transporte

Se as extensões Unix resolvem problemas antigos, o suporte a SMB3 sobre QUIC projeta o Samba para o futuro. O QUIC, protocolo desenvolvido originalmente pelo Google e já base do HTTP/3, foi criado para enfrentar os desafios de redes modernas — especialmente em cenários de Wi-Fi instável ou conexões WAN de alta latência. A ideia é simples: reduzir a dependência do TCP e oferecer conexões mais rápidas, resilientes e seguras.

No Samba, essa novidade chega de forma experimental. Para ativá-la no servidor, basta incluir server smb transports = +quic na configuração, mas é necessário o módulo quic.ko do kernel Linux. Há esforços para levar esse módulo ao mainline, o que mostra o alinhamento do projeto Samba com tendências de inovação de baixo nível no ecossistema Linux. Do lado do cliente, há fallback para a biblioteca em espaço de usuário ngtcp2, ampliando as possibilidades de adoção.

Mesmo em estágio inicial, a presença do QUIC abre um caminho empolgante: file sharing mais eficiente em ambientes corporativos distribuídos, uso doméstico em conexões móveis e até cenários em nuvem híbrida, onde a velocidade e a confiabilidade são fundamentais.

Monitoramento moderno com Prometheus

Outra adição que merece destaque é o novo utilitário smb_prometheus_endpoint. Ele permite exportar métricas de performance do Samba em formato compatível com Prometheus, integrando-se de forma nativa a dashboards no Grafana e outras ferramentas de observabilidade. Isso coloca o Samba lado a lado com as melhores práticas modernas de DevOps e administração de sistemas.

Para quem gerencia grandes ambientes — com dezenas ou centenas de shares ativos —, essa mudança significa ter visibilidade em tempo real sobre gargalos, consumo de recursos e atividade por share. Em um cenário de TI cada vez mais orientado a métricas e automação, essa evolução é vital.

Outras melhorias para administradores

Além dos grandes destaques, o Samba 4.23 inclui mudanças que reforçam a segurança e simplificam a vida dos administradores:

  • O comando samba-tool domain backup --no-secrets agora garante que nenhum atributo confidencial seja incluído em backups de laboratório, removendo dados sensíveis como chaves TPM ou informações do BitLocker.
  • O CTDB ganhou suporte a múltiplos arquivos de configuração de tunables, facilitando a separação entre parâmetros definidos por vendors e customizações locais.
  • Estatísticas de perfil podem ser coletadas por share específico, recurso útil para monitorar ambientes com alto número de compartilhamentos ativos.

Como sempre, a versão final também agrega uma série de correções de bugs identificados durante o ciclo de release candidates, reforçando a estabilidade.

O Samba 4.23 não é apenas uma atualização incremental. Ele resolve um problema histórico de interoperabilidade para clientes Linux e macOS, ao mesmo tempo em que se projeta para o futuro da rede com o QUIC e se alinha às melhores práticas de monitoramento da era DevOps. Em resumo: menos fricção para o presente e mais preparação para o amanhã.

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