A Samsung, uma das maiores fabricantes de eletrônicos e semicondutores do mundo, enfrenta um cenário turbulento. Recentemente, a empresa projetou uma queda de 39% em seus lucros operacionais no segundo trimestre de 2025, acendendo um alerta vermelho no setor de tecnologia. Essa redução expressiva ocorre mesmo com o leve aquecimento do mercado de chips, sugerindo que os desafios são mais profundos e estruturais.
Este artigo analisa os fatores por trás da queda nos lucros da Samsung no setor de semicondutores, com foco especial na concorrência por memórias HBM, nas restrições comerciais impostas pelos EUA e nas estratégias da empresa para recuperar competitividade. Também avaliamos como esses movimentos impactam não apenas a gigante sul-coreana, mas todo o mercado de tecnologia e inovação.
Como uma referência global em tecnologia, a Samsung desempenha um papel essencial na cadeia produtiva de chips, smartphones e equipamentos eletrônicos. A crise atual não é apenas um problema corporativo — ela sinaliza transformações intensas na indústria de semicondutores, pilar da economia digital contemporânea.

O panorama desafiador dos lucros da Samsung
Análise dos dados: Por que a queda?
A Samsung Electronics divulgou que espera um lucro operacional de aproximadamente 6,5 trilhões de wons (cerca de US$ 4,7 bilhões) no segundo trimestre de 2025. Embora represente um aumento em relação ao mesmo período de 2024, a cifra ainda está 39% abaixo das projeções dos analistas e do ritmo de recuperação esperado pela própria empresa.
Esse número revela que, apesar da leve melhora nos preços dos chips e da retomada da demanda, a lucratividade da Samsung com semicondutores ainda está longe de retornar aos níveis pré-crise. Três fatores principais explicam esse cenário:
- Concorrência acirrada no mercado de memórias, especialmente com o avanço da rival SK Hynix no segmento de HBM.
- Atrasos técnicos e comerciais na entrega de memórias HBM3E, consideradas cruciais para atender à demanda da inteligência artificial.
- Restrições geopolíticas, como as sanções dos EUA que dificultam o acesso da Samsung ao mercado chinês e limitam a exportação de chips de última geração.
Esse conjunto de pressões complica a capacidade da empresa de converter inovação tecnológica em crescimento financeiro.
A corrida pelas memórias HBM: Onde a Samsung está ficando para trás?
As memórias HBM (High Bandwidth Memory) são o novo campo de batalha da indústria de semicondutores. Com uma estrutura empilhada verticalmente, elas oferecem largura de banda altíssima com consumo energético reduzido, características ideais para aplicações em inteligência artificial, data centers e computação de alto desempenho (HPC).
HBM3E: A vantagem da concorrência (SK Hynix)
Enquanto a Samsung enfrentava dificuldades técnicas e atrasos no fornecimento da HBM3E, a SK Hynix conseguiu se posicionar como líder global nesse mercado. A empresa sul-coreana dominou os contratos com a NVIDIA, fornecendo chips que alimentam as GPUs mais poderosas do mercado, como as da série H100 e H200.
A ausência da Samsung nesses acordos chama atenção: nenhum dos chips HBM da empresa foi homologado para os produtos mais recentes da NVIDIA até agora. Isso não apenas implica uma perda direta de receita, como também mina a reputação da Samsung como fornecedora de ponta em tecnologia de memória.
O impacto das restrições dos EUA no mercado chinês
Outro fator crítico é o impacto das restrições comerciais impostas pelos Estados Unidos à China, que afetam diretamente os negócios da Samsung. A empresa mantém instalações de fabricação e montagem em território chinês, além de uma base sólida de clientes no país.
As medidas dos EUA limitam a exportação de chips avançados para empresas chinesas e impõem exigências para aprovação de tecnologias sensíveis, criando incertezas no planejamento e nos lucros da Samsung. A combinação entre perda de contratos de alto valor e entraves comerciais complexifica ainda mais a posição da companhia.
A aposta da Samsung no HBM4 e o caminho para a recuperação
Diante da perda de terreno no mercado atual de HBM3E, a Samsung aposta suas fichas na próxima geração de memórias: o HBM4. A empresa afirma estar avançando rapidamente no desenvolvimento desses chips, prometendo ganhos significativos em largura de banda, eficiência térmica e integração com GPUs e TPUs de próxima geração.
Desafios e oportunidades para a Samsung
No entanto, a transição para o HBM4 não será simples. A empresa precisará superar diversos desafios:
- Provar desempenho superior ao da concorrência nas rodadas de validação de parceiros como NVIDIA e AMD.
- Reduzir taxas de rejeição nas fábricas, garantindo volume de produção confiável.
- Recuperar a confiança do mercado, demonstrando que pode entregar produtos competitivos e no prazo.
Por outro lado, a Samsung ainda conta com força industrial massiva, expertise em semicondutores e redes de produção globais, o que pode ser um diferencial importante no médio e longo prazo. Se conseguir alinhar tecnologia, escala e parcerias, a empresa poderá retomar sua liderança no segmento de memória avançada.
Conclusão: Um setor em transformação
A queda nos lucros da Samsung no setor de semicondutores não é apenas um problema momentâneo, mas um reflexo das mudanças estruturais e geopolíticas em curso na indústria global de tecnologia. A ascensão das memórias HBM como padrão de excelência para IA e HPC está reconfigurando o mapa competitivo entre fabricantes de chips.
A SK Hynix ganhou vantagem nesse ciclo, mas a corrida está longe de terminar. A resposta da Samsung com o HBM4 será determinante para o futuro da empresa — e talvez para o equilíbrio do mercado como um todo.
Para profissionais, investidores e entusiastas de tecnologia, acompanhar esses movimentos é essencial. O setor de semicondutores está em plena transformação, e os próximos meses serão decisivos para entender quem liderará a próxima geração da computação de alto desempenho.