Por que a Samsung proibiu o desbloqueio do bootloader na One UI 8

Imagem do autor do SempreUpdate Jardeson Márcio
Escrito por
Jardeson Márcio
Jardeson Márcio é Jornalista e Mestre em Tecnologia Agroalimentar pela Universidade Federal da Paraíba. Com 8 anos de experiência escrevendo no SempreUpdate, Jardeson é um especialista...

Entre a segurança imposta por lei e a liberdade do usuário, a nova política da Samsung reacende o debate sobre o futuro do Android.

A notícia de que a Samsung começou a proibir o desbloqueio do bootloader em seus novos dispositivos com One UI 8 caiu como uma bomba na comunidade Android. Usuários avançados, desenvolvedores e entusiastas de ROMs personalizadas se mostraram frustrados com a mudança, temendo o fim de uma era de liberdade e personalização no sistema.

Mas ao contrário do que muitos pensaram inicialmente, essa política de bloqueio do bootloader no One UI 8 não foi uma simples decisão corporativa. O motivo real está em uma regulamentação europeia, pouco comentada até então, mas com implicações profundas: a Diretiva 2014/53/UE da União Europeia, que visa reforçar a segurança cibernética de dispositivos conectados.

Este artigo vai explicar, de forma didática, o que é o bootloader, por que ele é importante, o que essa lei europeia determina, e o que tudo isso significa para o futuro do Android e da personalização de dispositivos.

One UI 8

O que é o bootloader e por que seu desbloqueio é tão importante?

O bootloader é, em termos simples, o porteiro do sistema operacional do seu celular. Ele é o primeiro componente que entra em ação quando você liga o aparelho, sendo responsável por verificar e carregar o sistema instalado.

Se o bootloader estiver bloqueado, ele só aceitará iniciar o sistema original fornecido pela fabricante — no caso, a One UI 8 da Samsung. Desbloquear o bootloader significa dar ao usuário liberdade para instalar ROMs alternativas, modificadas, ou até mesmo versões puras do Android, sem as customizações do fabricante.

A liberdade de instalar ROMs personalizadas

A possibilidade de instalar ROMs personalizadas é um dos pilares da cultura Android avançada. Projetos como LineageOS, Pixel Experience e crDroid oferecem aos usuários:

  • Atualizações de sistema em aparelhos antigos que já não recebem suporte oficial;
  • Remoção de bloatwares (aplicativos pré-instalados indesejados);
  • Melhor desempenho, maior controle de privacidade e acesso a funções exclusivas.

Essa flexibilidade tornou o Android o sistema favorito de muitos usuários avançados e prolongou a vida útil de inúmeros dispositivos.

Os riscos de segurança e a perda da garantia

Por outro lado, há motivos legítimos para os fabricantes manterem o bootloader bloqueado por padrão. O desbloqueio pode:

  • Introduzir falhas de segurança, abrindo brechas para malwares;
  • Instabilizar o sistema, gerando travamentos e problemas de performance;
  • Anular a garantia, já que a fabricante não pode se responsabilizar por modificações externas ao sistema original.

É nesse equilíbrio entre liberdade e segurança que entra a nova legislação europeia, que força os fabricantes a penderem a balança para o lado da proteção — ainda que à custa da personalização.

A causa raiz: a Diretiva da União Europeia 2014/53/UE

A decisão da Samsung não foi tomada isoladamente. A empresa se antecipou para cumprir os requisitos da Diretiva 2014/53/UE, também conhecida como RED (Radio Equipment Directive). Essa lei tem como objetivo aumentar o nível de cibersegurança nos dispositivos que se conectam a redes sem fio, como smartphones.

O que a diretiva de equipamentos de rádio (RED) exige?

A RED determina que fabricantes devem garantir que seus dispositivos impeçam a instalação de software não autorizado. Ou seja, para operar legalmente no mercado europeu, os dispositivos precisam:

  • Bloquear qualquer tentativa de instalar ROMs não assinadas digitalmente;
  • Garantir que apenas sistemas verificados e aprovados possam ser executados no aparelho;
  • Prevenir modificações que possam comprometer segurança, rede e dados do usuário.

Isso significa que o desbloqueio do bootloader Samsung fere diretamente a nova norma europeia. Como resultado, a fabricante se viu obrigada a fechar essa porta, ao menos para os dispositivos comercializados dentro da União Europeia.

O prazo de 1º de agosto e a pressa da Samsung

A parte mais crítica: o prazo legal para adequação à RED terminou em 1º de agosto de 2025. A Samsung, por ser uma das líderes de mercado, não podia correr o risco de enfrentar sanções ou restrições de comercialização.

O bloqueio implementado na One UI 8 veio exatamente no momento em que essa diretiva entrou em vigor, indicando que a decisão foi motivada diretamente pela exigência legal, e não por mera escolha da empresa.

Impacto e o futuro: um caminho sem volta?

A decisão de proibir o desbloqueio do bootloader nos novos dispositivos Samsung afeta de forma diferente os perfis de usuários:

  • Usuários comuns ganham um sistema teoricamente mais seguro, com menor risco de invasões ou falhas.
  • Usuários avançados, desenvolvedores e entusiastas perdem uma liberdade crucial: a de modificar, adaptar e controlar plenamente seus aparelhos.

A grande dúvida agora é: outros fabricantes seguirão o mesmo caminho? Considerando que todos os dispositivos vendidos na UE devem cumprir a RED, a resposta tende a ser sim.

Essa mudança pode ser o início de um novo padrão da indústria, em que o desbloqueio do bootloader seja restringido não por decisão técnica, mas por obrigações legais. E embora bloqueios de bootloader já fossem comuns em países como os Estados Unidos (especialmente em aparelhos vendidos por operadoras), sua aplicação como exigência regulatória na Europa cria um precedente global com potencial de se espalhar para outros mercados.

Conclusão: segurança por decreto vs. liberdade do usuário

A decisão da Samsung de proibir o desbloqueio do bootloader no One UI 8 não é um ataque à sua comunidade de usuários avançados. Trata-se de uma resposta direta à legislação europeia, mais precisamente à Diretiva 2014/53/UE, que impõe critérios rígidos de segurança digital para equipamentos de rádio.

No entanto, o efeito colateral é claro: a comunidade de modding, que sempre viu o Android como um sistema aberto e flexível, se vê diante de um possível ponto de inflexão. Será que ainda haverá espaço para a personalização em um mundo onde leis de cibersegurança forçam o fechamento do ecossistema?

E você, o que pensa sobre isso? Prefere um sistema mais seguro e fechado, ou acredita que os usuários devem ter o direito de modificar seus próprios aparelhos? Deixe sua opinião nos comentários!

Compartilhe este artigo