O suporte multimídia para SoCs MediaTek no Linux continua a se expandir com a chegada de uma nova série de patches que habilita o decodificador e o codificador de vídeo por hardware (vcodec) no MediaTek MT8189. Na prática, isso significa reprodução e gravação de vídeo mais eficientes — e com menor consumo — em futuros dispositivos baseados nesse SoC, graças à integração direta com o V4L2 no kernel mainline. A série foi enviada por Kyrie Wu (MediaTek) e já inclui resultados de conformidade e testes funcionais, elevando a confiança de quem desenvolve e empacota para a plataforma. Veja a série “[PATCH v3 0/8] Enable video decoder & encoder for MT8189” no arquivo da lista (linkado) e o item no Patchwork.
Neste momento (23 de setembro de 2025), a novidade ainda está em revisão: o patchset que habilita o vcodec do MediaTek MT8189 foi enviado como v3 à lista do subsistema de mídia e ainda não foi mesclado no mainline. Isso significa que o suporte deverá aparecer na primeira versão principal do kernel imediatamente após a janela de merge em que ele for aceito (ou seja, assim que os mantenedores do linux-media integrarem a série na árvore deles e a levarem para o ciclo seguinte). Em outras palavras: não há um número de versão confirmado ainda; a disponibilidade depende de quando a série for acolhida no fluxo de manutenção.
Expandindo o suporte a codecs e corrigindo bugs

O pacote de mudanças adiciona os compatibles de Device Tree e a lógica necessária no driver mediatek-vcodec
para reconhecer o MT8189 tanto no lado do decoder quanto do encoder. As novidades mais visíveis para quem está no espaço de userspace? Melhorias e novos recursos no suporte a VP9, incluindo Profile 2 com 4K — um avanço relevante para conteúdos modernos e streams de alta qualidade — além de ajustes finos em perfis/níveis de H.264 e VP9 expostos via controles do V4L2.
Junto do “ganho de fôlego” nos codecs, a série também acerta detalhes que, embora discretos, pesam na estabilidade do ecossistema: há uma correção para a numeração do nó de dispositivo de mídia (evitando confusões com /dev/mediaX
) e um fix específico para falhas em VP9 Profile 2 na resolução 4096×2176. É aquele tipo de lapidação que não vira manchete, mas faz diferença quando você encadeia GStreamer, aceleração VPU e pipelines reais.
O que muda na arquitetura do MT8189
Tecnicamente, o MT8189 chega com um decoder single-core, utilizando IOMMU (em vez de SMMU adotado em ICs anteriores) e arquitetura com SCP (System Control Processor) para o caminho de vídeo. Há ainda observações de frequência (em torno de 406 MHz no bloco de decodificação), o que ajuda a calibrar expectativas de desempenho. Em contrapartida, o encoder do MT8189 é descrito com 4K@30 como teto e nível 5.1 (abaixo de 5.2 do MT8188), mas com um bitrate máximo de 100 Mb/s — o dobro do MT8188 — e suporte a NBM mode. Em resumo: não é um “MT8196 de bolso” (que fala em 8K@60), mas entrega um pacote bastante equilibrado para o segmento.
Por que isso importa para a comunidade
Se você mantém distros, compila kernels customizados ou integra GStreamer com V4L2 em dispositivos MediaTek, esse conjunto de patches reduz o atrito para rodar aceleração por hardware no MT8189 sem precisar de árvores de fornecedores. E há sinal verde de qualidade: os autores publicaram v4l2-compliance com êxito para o decoder e quase perfeito para o encoder (46/47 testes), além de fluster para H.264 — um indicativo prático de que a pilha está madura para testes de campo.
Ao todo, é mais um passo concreto para que o Linux MediaTek VPU ofereça uma experiência fluida em mainline — sem gambiarras — e para que fabricantes, makers e entusiastas possam simplesmente “dar play” com desempenho de verdade.