Última chamada para testes: systemd 258-rc4 sinaliza que a versão estável está próxima

Escrito por
Emanuel Negromonte
Emanuel Negromonte é Jornalista, Mestre em Tecnologia da Informação e atualmente cursa a segunda graduação em Engenharia de Software. Com 14 anos de experiência escrevendo sobre...

Última chamada para testes — rc4 marca a reta final e pede migrações (cgroup v2, fim dos scripts SysV).

O desenvolvimento do systemd 258 entra em sua reta final com o lançamento da quarta versão candidata (rc4). Em termos práticos, isso é aquele “último apito do juiz”: a janela para a comunidade encontrar arestas, registrar regressões e validar migrações antes do carimbo de estabilidade. O rc4 já está publicado no repositório oficial — inclusive com changelog completo — reforçando que chegou a hora de testar agora, não “quando der”.

E há outro sinal de que o trem está chegando à estação: o rc4 começou a ser absorvido por distribuições para fase de integração. O Debian, por exemplo, já aceitou o pacote 258~rc4-1 no “unstable”, um passo típico de quem quer pegar cedo eventuais incompatibilidades. Para administradores e mantenedores, esse é o lembrete de que o cronômetro está rodando.

Reta final: systemd 258 se aproxima da versão estável

Mais do que “mais uma RC”, o rc4 fecha a narrativa de um ciclo que moderniza pressupostos do userspace Linux. A 258 consolida que o futuro — e o presente — é cgroup v2, que runlevels são passado, que kernels antigos deixam de ser baseline e que alguns fluxos de segurança e permissões mudam de lugar. Em outras palavras: é a revisão de “contratos” que muita infraestrutura assumia de forma tácita ao longo de anos. Tudo isso já está no CHANGES WITH 258 in spe e não depende de uma RC específica — o rc4 apenas marca que o pacote está pronto para a rua, salvo surpresas de última hora.

Relembrando as grandes mudanças: o que esperar no systemd 258

  • Fim do cgroup v1: o suporte ao legado/híbrido foi removido; o cgroup v2 (hierarquia unificada) passa a ser montado sempre no boot e em systemd-nspawn. Se você ainda vive de cgroupfs v1, é hora de migrar. (GitHub)
  • Baseline do kernel 5.4 (recomendado 5.7): versões abaixo disso deixam de ser alvo de validação upstream. Em ambientes com LTS antigos, revise planos de kernel.
  • Adeus aos runlevels: o controle de estado ao estilo SysV foi removido (nada de /dev/initctl, init 3, runlevel*.target etc.). Ferramentas/rotinas que ainda esperam essas interfaces precisam de alternativas nativas do systemd.
  • Scripts SysV: ainda funcionam hoje, mas estão deprecados e serão removidos na v259. Traduza-os para unidades nativas , para não descobrir o problema no próximo ciclo.
  • TTY/PTS mais restritos: o modo padrão de acesso dos dispositivos passou de 0620 para 0600 — pense nisso como “mesg n por padrão”. Se algum fluxo dependia de escrita de outros usuários no terminal, ajuste.
  • Crypto unificada: OpenSSL passa a ser a única biblioteca suportada para systemd-resolved e systemd-importd (suporte a GnuTLS/gcrypt removido). Avalie impactos em builds e em políticas de compliance.
  • Regras de udev “uaccess” mudam de lugar: as ACLs deixam de ser aplicadas pelo logind e passam a ser responsabilidade do systemd-udevd. Suas regras devem marcar o dispositivo também em eventos change (não só em add).
  • Limpeza de compatibilidade antiga no boot: arquivos “de força” como /forcefsck e /forcequotacheck saem de cena; agora o controle é via parâmetros de kernel/credenciais (fsck.mode=, quotacheck.mode).

Parece muita coisa? É — mas é o tipo de “troca de trilhos com o trem em movimento” que, feita na rc4, evita dor de cabeça quando a estável pousar nos repositórios.

Checklist prático para atualizar sem sustos

  • Cgroup v2 em produção
    Confirme que sua máquina está em hierarquia unificada (test -f /sys/fs/cgroup/cgroup.controllers). Contêineres que ainda esperam cgroup v1 tendem a falhar de formas sutis; alinhe runtimes/opções antes do upgrade.
  • Kernel suportado
    Garanta baseline ≥ 5.4 (idealmente ≥ 5.7). Em parques heterogêneos, priorize hosts com kernels legados para pilotos controlados e tenha plano de rollback.
  • Caça aos SysV
    Varra o parque por serviços gerados pelo systemd-sysv-generator (dica: procure por units marcadas como “generated” ou por resquícios em /etc/init.d). Converta para unidades nativas antes de a v259 bater na porta.
  • Permissões de TTY
    Se há scripts que escrevem em TTYs de outros usuários (broadcasts, notificações), reavalie: com 0600 por padrão, parte desse comportamento pode deixar de funcionar. Ajuste políticas e automatizações.
  • Builds e compliance com OpenSSL
    Cheque pipelines, flags de Meson e políticas de criptografia corporativa. Se você mantinha variantes com GnuTLS, é hora de unificá-las em OpenSSL.
  • Regras udev
    Atualize regras que usam TAG=”uaccess” para também cobrir ACTION==”change”; teste dispositivos de entrada/HID e fluxos de login não gráficos.
  • Boot e manutenção
    Se sua automação dependia de /forcefsck//forcequotacheck, troque por fsck.mode=/quotacheck.mode= via kernel cmdline/credenciais.

Por que isso importa?

Porque as mudanças acima afetam a base sobre a qual distribuímos e operamos Linux. O rc4 não é “só” mais um tarball: é o ensaio geral — aquele momento de rodar o playbook de migração com dados reais, abrir issues se necessário e fechar lacunas antes da versão final. E, dado que algumas distros já estão empacotando o rc4, o relógio está marcando em tempo de produção.

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