5 razões ousadas pelas quais Ubuntu Unity quase dominou o desktop Linux

Escrito por
Emanuel Negromonte
Emanuel Negromonte é Jornalista, Mestre em Tecnologia da Informação e atualmente cursa a segunda graduação em Engenharia de Software. Com 14 anos de experiência escrevendo sobre...

Ubuntu Unity: a revolução visual que dividiu opiniões e redefiniu a história do desktop Linux.

Ubuntu Unity nasceu como a mais ambiciosa tentativa da Canonical de reinventar a interface do seu sistema e, por alguns anos, pareceu prestes a definir toda a história desktop Ubuntu. Contudo, quando Canonical abandonou Unity em 2017, a comunidade se perguntou como um projeto tão visionário se desfez tão depressa. Este artigo disseca os bastidores dessa aposta, revela o impacto que ainda ecoa no ecossistema e mostra por que, mesmo fora do palco principal, o Unity continua relevante.

O cenário do desktop Linux antes do Unity

No fim da década de 2000, o história desktop Ubuntu era dominado pelo clássico GNOME 2, apreciado pela estabilidade, mas criticado por uma interface considerada “parada no tempo”. Distribuições rivais investiam em experiências visuais modernas, como KDE 4, alimentando debates sobre inovação. Nesse contexto, Ubuntu Unity despontou como a “grande virada” que prometia repensar cada pixel da experiência do usuário.

  • GNOME 2 reinava em usabilidade tradicional.
  • KDE 4 experimentava efeitos gráficos avançados.
  • XFCE e LXDE competiam pela leveza.
  • A Canonical via na convergência um diferencial competitivo.

Para iniciantes: o que é um ambiente de desktop?

Imagine o sistema operacional como um carro. O “motor” é o kernel Linux, invisible sob o capô. O ambiente de desktop é o painel de controle: botões, volante, velocímetro. Ubuntu Unity foi esse painel redesenhado — um “cockpit futurista” que tentava tornar o mesmo carro apto a virar avião (tablet) ou barco (smartphone). Quando dizemos que Canonical abandonou Unity, pense em trocar todo o painel por outro, o GNOME Shell.

Ubuntu Unity: a aposta ousada na convergência (2010–2011)

Área de trabalho clássica do Ubuntu Unity com lançador lateral — exemplo visual da interface antes da Canonical abandonar o Unity.

A visão de Mark Shuttleworth

Em 2010, Mark Shuttleworth apresentou o Unity no Ubuntu 10.10 Netbook Edition. O objetivo era simples: criar uma interface única para telas pequenas e grandes. No ano seguinte, o Unity substituiu o GNOME 2 no ubuntu 11.04, inaugurando um ciclo de inovação que entraria para a história desktop Ubuntu. A estratégia de “um código, todos os dispositivos” mirava tablets e smartphones antes mesmo do iPad 2 dominar o mercado.

“Convergência é o futuro: um único Ubuntu para todas as telas.” — (blog oficial de Mark Shuttleworth) fonte.

Decisões de design radicais

ElementoPropósitoDiferença chave vs. GNOME 2
DashLançador unificado de apps, arquivos e pesquisas onlineBusca integrada e lens específicas
Lançador lateralBarra fixa à esquerdaEconomia de espaço vertical
HUDBusca de comandos do menuMenos cliques, fluxo de teclado
Global MenuMenus na barra superiorPadrão Mac-style para ganho vertical

Esses componentes faziam do Ubuntu Unity um experimento que alguns chamavam de “macOS do software livre”. Ainda assim, o projeto dependia fortemente do Compiz / Nux, tornando-se sensível a drivers gráficos.

A reação dividida da comunidade

Logo após o lançamento, foros e blogs se encheram de elogios e críticas. Para parte dos usuários, Canonical abandonou Unity cedo demais; para outros, o design era fechado, com poucas opções de personalização. A fricção alimentou o surgimento de forks como MATE (reencarnação do GNOME 2) e Cinnamon, celebrizado pela “rebelião” do Linux Mint já contada em nosso artigo sobre o Cinnamon.

  • Usuários tradicionais criticavam o consumo de memória.
  • Desenvolvedores reclamavam da API instável.
  • Novatos elogiavam a curva de aprendizado curta.

Essas reações moldariam a história desktop Ubuntu e exporiam o custo de inovar sem amplo consenso comunitário.

Para iniciantes: entendendo Xorg, Mir e Wayland

Pense no servidor de exibição como a central elétrica que envia energia (pixels) para a lâmpada (monitor).

  • Xorg é a central antiga, confiável, mas difícil de modernizar.
  • Wayland é a nova usina modular.
  • Mir — criado para o Unity 8 — seria uma usina exclusiva da Canonical.

Quando Canonical abandonou Unity, Mir perdeu sustentação, e Wayland se tornou o caminho natural, como analisamos em “Futuro do Wayland”.

Os desafios que minaram a continuidade do Unity

  1. Custo de desenvolvimento — manter Compiz, Nux, Unity 7, Unity 8 e Mir exigia centenas de engenheiros.
  2. Desempenho inconsistente — chipsets Intel antigos sofriam com tearing; GPUs AMD/NVIDIA precisavam de ajustes delicados.
  3. Adoção corporativa baixa — empresas preferiam o GNOME 3, já consolidado em RHEL e SUSE.
  4. Foco na nuvem — a receita da Canonical passou a vir de OpenStack e Kubernetes.
  5. Competição interna — o time do Ubuntu Phone drenava recursos que poderiam estabilizar o desktop.

Michael Larabel descreveu 2017 como um “ano selvagem” para o Mir: Phoronix.

Quando Canonical abandonou Unity: a decisão de 2017

Em 5 de abril de 2017, Shuttleworth publicou o texto “Growing Ubuntu for cloud and IoT, rather than phone …”, confirmando que Canonical abandonou Unity e a interface móvel. GNOME Shell tornou-se padrão no Ubuntu 17.10, um marco definitivo na história desktop Ubuntu. O The Register traduziu o choque: link.

Linha do tempo resumida

  • 2010 – Unity estreia no Netbook Edition.
  • 2011 – Substitui GNOME 2 no Ubuntu 11.04.
  • 2013 – Apresentação do Unity 8 e Mir.
  • 2015 – Ubuntu Phone chega ao mercado, vendas modestas.
  • 2017Canonical abandonou Unity; GNOME Shell assume o comando.
  • 2020 – Unity 8 renomeado para Lomiri pela UBports.
  • 2024 – Ubuntu Unity 24.04 torna-se flavor oficial, mantendo o Unity 7 (site oficial).

Legado duradouro do Ubuntu Unity

Apesar de Canonical abandonou Unity, seus conceitos moldaram o GNOME Shell:

  • Dash ↔ Activities Overview
  • HUD ↔ Command Palette
  • Lançador lateral ↔ Dock Extensions

O legado também vive em projetos comunitários, como o Unity X Remix citado no texto “Unity Desktop pode voltar…” (SempreUpdate). A cultura de inovação do Unity provou que arriscar traz frutos, mesmo se o produto não dura.

Glossário analítico

TermoExplicação didática
Unity DashCaixa de busca que indexa aplicativos, arquivos e consultas web, como um “Google interno” do desktop.
HUDAtalho que exibe comandos do menu; lembra “CTRL + K” no Photoshop.
MirServidor gráfico projetado para o Unity 8; similar a construir uma estrada exclusiva para um tipo de carro.
WaylandProtocolo gráfico moderno; uma “autoestrada” que aceita vários modelos de carro (desktops).
CompizMotor de efeitos 3D; o “nitro” visual do Unity 7.
LomiriNovo nome do Unity 8 mantido pela UBports para dispositivos móveis.
GNOME ShellInterface que herda ideias do Unity, mas com base comunitária.

Exemplo prático: instalando o Unity 7 hoje

Para reviver a nostalgia, basta um comando no Ubuntu LTS atual:

sudo apt install ubuntu-unity-desktop

A saída típica exibe o total de pacotes (~1 200 MB) e o aviso de que o lightdm será configurado como display manager. Tutorial completo em “Como instalar o Unity 7 Desktop no Ubuntu 18.04 LTS”.

Conclusão

A saga de Ubuntu Unity é um estudo de caso sobre inovação, risco e resiliência. Embora Canonical abandonou Unity para focar em mercados lucrativos, o projeto redefiniu a história desktop Ubuntu ao desafiar convenções de interface, inspirar rivais e influenciar o GNOME Shell que usamos hoje. Tentar, falhar e aprender foi a verdadeira vitória — um legado que continua vivo na comunidade e nas futuras apostas ousadas do universo Linux.

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