Ubuntu 25.10 adota nova cadência de kernel e deprecia linux-modules-extra com Zstd

Escrito por
Emanuel Negromonte
Emanuel Negromonte é Jornalista, Mestre em Tecnologia da Informação e atualmente cursa a segunda graduação em Engenharia de Software. Com 14 anos de experiência escrevendo sobre...

Kernel mais rápido, pacotes mais leves — Ubuntu 25.10 faz o pulo do gato com Zstd.

A Canonical Kernel Team acaba de mexer peças decisivas no tabuleiro do Ubuntu 25.10 “Questing Quokka”. Em comunicado assinado por kleber.souza, a equipe oficializou uma nova cadência de releases de desenvolvimento para o kernel, alinhada aos monthly snapshots que já marcam o ciclo de construção da distribuição. Ao mesmo tempo, encerra um capítulo histórico do empacotamento ao descontinuar o pacote linux-modules-extra, absorvendo todo o seu conteúdo no pacote principal linux-modules graças à adoção da compressão Zstd.

A mudança pode soar técnica, mas seus efeitos são palpáveis: versões mais recentes do kernel chegarão mais rápido às mãos dos testadores, bugs serão encontrados antes de virar manchetes e a experiência de instalação ficará mais simples — tudo isso sem aumentar o uso de espaço em disco. A seguir, destrinchamos cada peça dessa estratégia e por que ela simboliza mais um passo na busca da Canonical por um Ubuntu mais coeso, estável e amigável a quem desenvolve ou simplesmente usa Linux no dia a dia.

Otimização do ciclo de desenvolvimento: a nova cadência de releases do kernel no Ubuntu

Historicamente, a Canonical trabalhava com um único grande rebase do kernel durante cada ciclo de desenvolvimento, importando o último lançamento estável do upstream poucas semanas antes do freeze da distribuição. Esse modelo entregava um kernel relativamente fresco no release final, mas deixava meses de testes rodando sobre uma versão que logo ficava para trás.

Com os monthly snapshots introduzidos pelo Ubuntu Release Team, surgiu a oportunidade de sincronizar o coração do sistema com a mesma agilidade. A nova cadência promete atualizações de kernel baseadas em lançamentos intermediários em ritmo quase mensal — um esforço “best-effort” que acompanha o upstream sempre que o calendário e a estabilidade permitirem. Para quem baixa as imagens diárias, isso significa tempo de exposição muito maior às novidades, enquanto para os desenvolvedores significa mais feedback coletado antes do feature freeze.

Por que a cadência importa?

  • Compatibilidade de hardware chega mais cedo — novas GPUs, Wi-Fi e periféricos entram no suporte oficial antes do lançamento estável.
  • Correções de segurança recentes aterrissam no sistema de testes sem esperar semanas.
  • Bugs de regressão emergem durante o ciclo, quando ainda há tempo hábil para correção.

Melhoria na qualidade e estabilidade: encontrando bugs mais cedo

Ao adotar um fluxo quase em tempo real com o Linux kernel upstream, o Ubuntu se aproxima da filosofia release early, release often. Falhas críticas, conflitos com módulos proprietários e regressões de desempenho passam a emergir dentro do ciclo de testes, não depois.

Essa estratégia reduz a pressão sobre quem mantém Stable Release Updates e sobre quem distribui tutoriais de ajustes avançados para o sistema. Identificar problemas na fase alfa é dramaticamente mais barato — tanto em horas de engenharia quanto na percepção de qualidade — do que distribuí-los a milhões de usuários num stable release.

O alvo para a release final: kernel 6.17 no Ubuntu 25.10

O calendário oficial projeta o kernel 6.17 como candidato para o release definitivo do Ubuntu 25.10, enquanto as daily builds já experimentam o 6.16 poucos dias após o anúncio de Linus Torvalds em 27 de julho de 2025. Se não houver atrasos no upstream, o 6.17 entra no repositório proposto no início da primavera do hemisfério sul, dando ao time de QA uma janela confortável para testes de integração.

Vale lembrar que Questing Quokka é uma versão intermediária (não-LTS), laboratório ideal para validar essa cadência turbinada antes de aterrissar em uma futura 26.04 LTS.

A grande mudança no empacotamento: adeus ao linux-modules-extra

Paralelamente à cadência acelerada, a Canonical executou um refactor histórico no conjunto de pacotes de kernel: eliminou o linux-modules-extra. Desde o ciclo Plucky Puffin (25.04), a equipe planejava racionalizar essa herança dos tempos em que cada megabyte custava ouro. Agora, com a introdução do kernel 6.15 nos repositórios proposed, toda a coleção de módulos externos foi fundida em linux-modules.

Para o usuário, isso reduz a complexidade: instalar o kernel padrão significa ter, por padrão, suporte a sistemas de arquivos exóticos, drivers de dispositivos menos comuns e utilitários de depuração — sem precisar lembrar de um segundo pacote.

O que era o pacote linux-modules-extra e sua história

Nos tempos do Ubuntu 8.04 e dos netbooks de SSD minúsculo, separar módulos raramente usados em um pacote opcional economizava espaço em disco e largura de banda. O conjunto extra abrigava drivers de TV digital, sistemas de arquivos como JFS e ReiserFS e módulos de som específicos.

Hoje, com gigabytes abundantes e download via fibra, a linha que separa “módulo essencial” de “exótico” desbotou. A Canonical, então, decidiu abolir a segmentação e entregar tudo num pacote único.

A revolução da compressão Zstd: um único pacote, menos espaço em disco

A chave técnica que viabilizou a fusão atende por Zstandard (Zstd). Desde o Linux 6.6, o algoritmo é padrão para comprimir módulos, oferecendo taxas melhores que Gzip sem penalizar o boot. Resultado: linux-modules + linux-modules-extra compactados em Zstd ocupam hoje menos espaço do que o antigo linux-modules sozinho em Gzip.

Isso significa downloads menores, ISOs mais enxutas e espelhos mais leves de manter — excelentes notícias para quem acompanha de perto as novidades em Kernel Linux.

Impacto nos espelhos e builds

  • Menos pacotes binários reduzem o tempo de sincronização em espelhos globais.
  • Pipelines de CI e construtores de ISO lidam com menos artefatos.
  • Scripts de inicialização não precisam mais decidir quais módulos extras importar.

Por que isso é relevante para quem usa Ubuntu

Para além do universo dos desenvolvedores de kernel, a mudança atinge diretamente você, usuário do Ubuntu, que precisa de um sistema confiável hoje e pronto para as novidades de amanhã.

Prós para o usuário final

  • Compatibilidade de hardware logo de cara — a nova cadência de kernel garante suporte a dispositivos recém-lançados antes do stable release.
  • Menos pacotes para instalar e atualizar — com a fusão, desaparece a necessidade de manter o linux-modules-extra.
  • Downloads menores — a compressão Zstd economiza banda e acelera implementações em nuvem.
  • Correções de falhas graves mais cedo — bugs críticos surgem e são resolvidos durante o ciclo de testes, não depois de chegar ao seu desktop.

Contras (o que observar)

  • Possível instabilidade temporária — kernels de desenvolvimento podem introduzir regressões que afetam bateria, desempenho ou drivers proprietários.
  • Quebra de automações DKMS — scripts que ainda procuram o pacote extra precisam ser ajustados.
  • Maior frequência de reboots — atualizações mensais de kernel exigem janelas de manutenção bem definidas em servidores.

Opinião: vale o trade-off?

Para a maioria dos desktops e laptops, os benefícios superam os riscos. O Ubuntu ganha agilidade comparável a distros rolling-release, mas mantém seu período de congelamento para polimento. Quem roda servidores críticos pode preferir ficar nos kernels HWE ou aplicar apenas atualizações testadas em -updates, enquanto avalia as daily builds em ambiente de testes.

Simplificação e usabilidade: o benefício para a infraestrutura e o usuário final

Do ponto de vista da infraestrutura Canonical, cada pacote a menos significa menos compilações cruzadas, menos metadados no Launchpad e menos pontos de falha em espelhos. Para quem mantém PPAs, a mudança remove a dor de cabeça de sincronizar versões correspondentes de -extra.

Para o usuário final, o ganho é duplo:

  1. Instalação mais simples — um único pacote cobre todos os cenários de hardware.
  2. Menos atualizações — não há risco de inconsistência entre pacotes, tornando o sistema mais robusto.

A evolução contínua do Ubuntu: adaptação a novas tecnologias e otimizações

O Ubuntu construiu parte da sua reputação ao equilibrar inovação com estabilidade. A adoção de Zstd e de uma cadência de kernel quase upstream-first reforça esse DNA, empoderando quem constrói sobre a base Ubuntu — de startups de IA que dependem do driver mais recente da NVIDIA a professores que montam laboratórios com hardware reciclado.

Conclusão: a nova estratégia de kernel do Ubuntu reforça o compromisso da Canonical com um sistema robusto e amigável

Ao acelerar a cadência de integrações do kernel e simplificar o empacotamento graças à compressão Zstd, o Ubuntu 25.10 “Questing Quokka” não apenas ganha fôlego para entregar o kernel 6.17 polido: ele reafirma o compromisso da Canonical com um Linux que evolui sem sacrificar confiança.

Para desenvolvedores, administradores e entusiastas, as novidades prometem um ciclo de testes mais transparente e uma experiência diária menos propensa a surpresas desagradáveis. Resta à comunidade pôr mãos à obra: baixar as imagens diárias, instalar o novo kernel e ajudar a lapidar o Questing Quokka que, se depender destas mudanças, já nasceu com cacife para saltar alto.

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