Urban VPN e outras extensões coletam dados de chats de IA

Urban VPN, Proxy 1ClickVPN e outras extensões são flagradas coletando seus dados do ChatGPT, Gemini e Claude.

Escrito por
Jardeson Márcio
Jardeson Márcio é Jornalista e Mestre em Tecnologia Agroalimentar pela Universidade Federal da Paraíba. Com 8 anos de experiência escrevendo no SempreUpdate, Jardeson é um especialista...

A Urban VPN, uma das extensões de VPN mais populares para navegadores como Chrome e Edge, foi flagrada em uma das mais graves violações recentes de privacidade no uso de chats de IA. Pesquisadores de segurança identificaram que a extensão estava interceptando silenciosamente conversas realizadas em plataformas como ChatGPT, Google Gemini e Claude, sem consentimento claro dos usuários.

O caso ganhou repercussão internacional após a divulgação de um relatório técnico detalhado da Koi Security, que revelou como a coleta ocorria em segundo plano, explorando permissões amplas concedidas no momento da instalação da extensão. O episódio expõe um problema estrutural no ecossistema de extensões de navegador, onde ferramentas amplamente divulgadas como seguras acabam se tornando vetores de espionagem digital.

Este artigo analisa em profundidade como a extensão Urban VPN conseguiu acessar dados de chats de IA, quais informações foram potencialmente coletadas, por que esse tipo de conteúdo é extremamente sensível e o que usuários comuns, profissionais de tecnologia e empresas podem fazer para se proteger diante desse cenário cada vez mais complexo.

Urban VPN: a extensão popular flagrada e o alcance da coleta

Urban VPN
Imagem: TheHackerNews

A Urban VPN Proxy se apresenta como uma solução gratuita para navegação anônima, prometendo ocultar o endereço IP, desbloquear conteúdos e proteger a identidade online. Esse discurso atraiu milhões de usuários, muitos deles preocupados com rastreamento e vigilância na internet.

No entanto, a investigação mostrou que a extensão ia muito além de funções básicas de VPN. Ela possuía código capaz de monitorar ativamente interações com serviços específicos, com foco direto em plataformas de inteligência artificial baseadas em chat. Isso significa que cada pergunta, resposta e contexto digitado podia ser copiado e transmitido para servidores externos.

O impacto dessa prática é amplo. Usuários domésticos, estudantes, desenvolvedores, administradores de sistemas e profissionais que utilizam IA como ferramenta de trabalho tiveram suas conversas potencialmente expostas. Em muitos casos, essas interações envolvem dados sensíveis, estratégias de negócio e informações técnicas críticas.

Como a coleta de dados em chats de IA foi implementada

Do ponto de vista técnico, a abordagem utilizada pela Urban VPN foi sofisticada e intencional. A extensão fazia uso da sobrescrita de APIs do navegador, uma técnica que permite alterar o comportamento padrão de funções usadas por sites legítimos.

Ao acessar serviços como ChatGPT, Gemini ou Claude, scripts injetados pela extensão observavam o tráfego de dados no próprio navegador, capturando textos enviados pelo usuário e respostas geradas pela IA. Esse método não explora falhas nas plataformas de inteligência artificial, mas sim o excesso de permissões concedidas à extensão.

Entre essas permissões estão capacidades como “ler e alterar dados em todos os sites visitados” e “executar scripts em páginas da web”. Para a maioria dos usuários, esses avisos passam despercebidos durante a instalação, mas são justamente eles que permitem a interceptação silenciosa de conteúdos sensíveis.

O que exatamente estava sendo coletado

A coleta identificada não se limitava a dados genéricos ou estatísticas anônimas. Segundo a Koi Security, o sistema era capaz de registrar o conteúdo integral das conversas com IA, incluindo perguntas, respostas e contexto completo da interação.
Isso significa que informações pessoais, dúvidas privadas, códigos-fonte, textos corporativos, análises técnicas e até dados confidenciais inseridos em chats podiam ser capturados. Em alguns cenários, também era possível associar essas conversas a identificadores do navegador e ao endereço IP, criando perfis detalhados de usuários.

Em ambientes corporativos, o risco se multiplica. Muitas empresas utilizam chats de IA para suporte interno, automação de tarefas e auxílio em desenvolvimento de software. A interceptação dessas conversas representa uma ameaça direta à segurança da informação e à confidencialidade empresarial.

O papel enganoso do selo “Em destaque” nas lojas de extensões

Um dos pontos mais preocupantes do caso envolve o selo “Em destaque” exibido na Chrome Web Store e em lojas similares. Para o usuário comum, esse selo transmite a ideia de que a extensão foi avaliada, verificada e considerada confiável pela plataforma.

Na prática, a presença desse destaque não impediu que a Urban VPN realizasse práticas altamente invasivas. Isso revela uma fragilidade no modelo de curadoria de extensões, que prioriza popularidade, avaliações e volume de instalações, mas nem sempre conduz auditorias profundas de segurança.

Esse cenário cria uma falsa sensação de proteção. Usuários tendem a confiar mais em extensões promovidas pelas próprias lojas, sem imaginar que elas podem estar monitorando atividades delicadas, como conversas com inteligência artificial, de forma invisível.

Outras extensões sob suspeita e o ecossistema BisCience

A análise não se limitou à Urban VPN. Os pesquisadores identificaram vínculos com um ecossistema maior de extensões associadas à BisCience, empresa ligada ao desenvolvimento e distribuição de múltiplas ferramentas com comportamento semelhante.

Essas extensões compartilhavam infraestrutura, padrões de código e mecanismos de coleta de dados, indicando que a interceptação de chats de IA não era um incidente isolado, mas parte de uma estratégia mais ampla.

Para o usuário final, isso torna a identificação do risco ainda mais difícil. Mesmo após remover uma extensão específica, outras associadas podem permanecer ativas, explorando as mesmas permissões e continuando a coleta de informações sensíveis.

Por que conversas com inteligência artificial são dados altamente sensíveis

Diferentemente de buscas tradicionais, chats de IA envolvem contexto, continuidade e intenção. Usuários tendem a dialogar com modelos de linguagem de forma mais aberta, detalhando problemas pessoais, profissionais e técnicos.

É comum que pessoas compartilhem informações que jamais colocariam em um formulário público, incluindo descrições de sistemas internos, trechos de código proprietário, dificuldades financeiras ou decisões estratégicas. Isso transforma conversas com IA em um dos conjuntos de dados mais ricos da vida digital moderna.

Quando uma extensão intercepta esse tipo de conteúdo, ela passa a ter acesso direto ao raciocínio do usuário, seus hábitos, interesses e vulnerabilidades. Em mãos mal-intencionadas, esses dados podem ser usados para engenharia social, fraudes direcionadas, espionagem corporativa ou venda de perfis comportamentais.

Proteção do usuário: como agir agora e reduzir riscos

Diante desse cenário, a primeira ação recomendada é revisar cuidadosamente todas as extensões instaladas no navegador. Remova ferramentas de VPN gratuitas ou extensões pouco conhecidas que solicitem permissões excessivas e sem justificativa clara.

Prefira serviços de VPN pagos e auditados, com políticas transparentes de não registro e histórico confiável no mercado. No caso de extensões, desconfie de promessas exageradas e de soluções que exigem acesso irrestrito a todos os sites visitados.
Outra medida essencial é tratar chats de IA como ambientes potencialmente sensíveis. Evite compartilhar dados pessoais, credenciais, informações financeiras ou segredos corporativos, especialmente quando não há garantia total sobre a segurança do ambiente de navegação.

Manter o navegador atualizado, separar perfis de uso pessoal e profissional e acompanhar relatórios de segurança publicados por pesquisadores independentes são práticas fundamentais para reduzir a exposição a esse tipo de ameaça.

Conclusão: a lição sobre confiança em extensões de navegador

O caso da Urban VPN e da interceptação de conversas com inteligência artificial deixa uma mensagem clara: popularidade não equivale a segurança. Extensões de navegador possuem amplo acesso ao ambiente do usuário e, quando abusam desse poder, se tornam ferramentas eficazes de vigilância.

A combinação entre a adoção massiva de IA generativa e a confiança excessiva em extensões cria um cenário propício para violações de privacidade em larga escala. Cabe aos usuários adotarem uma postura mais crítica, revisando permissões, questionando promessas e limitando o compartilhamento de informações sensíveis.

Reavaliar suas extensões hoje pode evitar exposições graves no futuro. Compartilhar esse alerta ajuda a ampliar a conscientização e fortalece uma cultura de segurança mais responsável no uso de navegadores e tecnologias baseadas em inteligência artificial.

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