Vulnerabilidades PCIe IDE: entenda as falhas em chips Intel e AMD

Três CVEs de segurança na criptografia IDE expõem sistemas PCIe 5.0+. Saiba se seu servidor está em risco.

Escrito por
Jardeson Márcio
Jardeson Márcio é Jornalista e Mestre em Tecnologia Agroalimentar pela Universidade Federal da Paraíba. Com 8 anos de experiência escrevendo no SempreUpdate, Jardeson é um especialista...

As vulnerabilidades PCIe IDE recentemente divulgadas acendem um alerta importante para a segurança de hardware em servidores modernos e sistemas de alta performance. O barramento PCI Express, considerado a espinha dorsal da comunicação entre CPU, aceleradores, placas de rede e armazenamento, passou a incorporar mecanismos avançados de criptografia em nível de protocolo a partir do PCIe 5.0, exatamente para proteger dados sensíveis durante o tráfego interno do sistema. A descoberta de falhas nessa camada demonstra que, mesmo em arquiteturas avançadas, riscos de baixo nível continuam relevantes.

Neste artigo, analisamos em profundidade as três CVEs, CVE-2025-9612, CVE-2025-9613 e CVE-2025-9614, que afetam o PCIe IDE (Integrity and Data Encryption). O objetivo é explicar como essas vulnerabilidades surgem, qual o impacto potencial em servidores modernos e quais processadores Intel Xeon 6 e AMD EPYC 9005 estão diretamente envolvidos.
Também contextualizamos o papel do IDE, do TDISP (Trusted Domain Interface Security Protocol) e das decisões da PCI-SIG, deixando claro por que falhas na criptografia PCIe merecem atenção imediata de profissionais de TI, administradores de data centers e engenheiros de hardware.

O que é PCIe IDE e por que a criptografia é crucial

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O PCIe IDE é um mecanismo de segurança criptográfica introduzido nas versões mais recentes do padrão PCI Express para garantir confidencialidade, integridade e autenticidade dos dados trocados entre dispositivos conectados ao barramento. Diferentemente de proteções em nível de sistema operacional, o IDE atua diretamente no hardware, protegendo pacotes PCIe contra leitura, modificação ou injeção maliciosa.

Essa camada tornou-se essencial à medida que tecnologias como computação confidencial, aceleradores de IA, GPUs compartilhadas e dispositivos CXL passaram a coexistir no mesmo sistema físico. Em ambientes PCIe 5.0+, onde a largura de banda é extrema e o número de agentes cresce, a superfície de ataque também aumenta.

O TDISP, por sua vez, define como domínios confiáveis negociam chaves, estados de segurança e permissões de acesso no PCIe. Em conjunto, IDE e TDISP formam a base de segurança de arquiteturas modernas que exigem isolamento forte entre dispositivos, algo fundamental em data centers multi-inquilino.

A função da PCI-SIG e do ECN

A PCI-SIG, organização responsável pela padronização do PCI Express, introduziu o suporte ao IDE por meio de um ECN (Engineering Change Notice) ainda durante o amadurecimento do padrão. O objetivo foi acelerar a adoção da criptografia no barramento, permitindo que fabricantes implementassem segurança avançada sem esperar por uma revisão completa da especificação.

No entanto, foi exatamente nesse ECN que surgiram as inconsistências de protocolo que deram origem às três vulnerabilidades agora documentadas. Embora o conceito de criptografia permaneça sólido, a forma como determinados pacotes e estados são tratados abriu espaço para comportamentos inesperados no processamento de dados.

Análise das três vulnerabilidades críticas (CVE-2025-9612, CVE-2025-9613, CVE-2025-9614)

A primeira falha, CVE-2025-9612, está relacionada à reordenação de dados criptografados. Em condições específicas, pacotes PCIe protegidos pelo IDE podem ser processados fora de ordem, quebrando garantias de integridade. Em ambientes que dependem de sequenciamento estrito, como comunicação entre CPU e aceleradores confidenciais, isso pode resultar em corrupção silenciosa de dados.

Já a CVE-2025-9613 envolve o redirecionamento indevido de eventos de tempo limite dentro do fluxo IDE. Um dispositivo malicioso ou comprometido pode explorar lacunas no tratamento desses eventos para burlar verificações de estado, criando inconsistências entre o que o sistema acredita estar protegido e o que realmente está.

A terceira falha, CVE-2025-9614, permite o reaproveitamento de pacotes obsoletos. Mesmo criptografados, pacotes antigos podem ser reintroduzidos no canal de comunicação em cenários muito específicos, comprometendo a integridade semântica dos dados. Em sistemas de execução confiável, isso pode ter efeitos desproporcionais.

Em conjunto, essas falhas na criptografia PCIe não representam ataques triviais, mas demonstram que a segurança do protocolo IDE pode ser enfraquecida quando implementações seguem estritamente um ECN com ambiguidades.

Processadores Intel e AMD afetados e o real impacto na segurança

Segundo os alertas de segurança, os processadores Intel Xeon 6 e os AMD EPYC 9005 são diretamente afetados, pois implementam o PCIe IDE conforme a especificação vulnerável. Ambos são CPUs voltadas a servidores de alta densidade, computação confidencial e workloads críticos em nuvem.

Do ponto de vista de pontuação CVSS, as vulnerabilidades são classificadas como de baixa gravidade, já que exigem acesso físico ou controle profundo do barramento, algo improvável em ambientes domésticos. No entanto, esse fator muda radicalmente em data centers e infraestruturas de confiança, onde dispositivos pertencentes a diferentes domínios compartilham o mesmo hardware.

Em cenários que utilizam TDISP e domínios confiáveis, o impacto potencial é significativamente maior. Um atacante com acesso a um dispositivo PCIe comprometido pode explorar essas falhas para minar garantias de isolamento, violando pressupostos fundamentais da computação confidencial. É por isso que, apesar da baixa nota formal, o risco prático não deve ser subestimado.

Como mitigar o risco e a importância da atualização de firmware

A recomendação oficial do CERT/CC e da PCI-SIG é clara: fabricantes e operadores devem adotar a versão corrigida da especificação, incorporada ao PCIe 6.0 juntamente com a Errata nº 1. Essa revisão corrige as ambiguidades do ECN original e reforça o tratamento de pacotes, estados e sequenciamento.

Para usuários finais e administradores de servidores, isso se traduz na necessidade de atualizar firmwares de BIOS, UEFI e controladores PCIe, assim que os fornecedores disponibilizarem patches compatíveis. Em muitos casos, a correção não depende apenas da CPU, mas também do firmware da plataforma e dos dispositivos conectados.

Ignorar essas atualizações pode deixar sistemas vulneráveis a ataques de baixo nível extremamente difíceis de detectar, reforçando a importância de políticas rigorosas de gestão de firmware em ambientes corporativos.

Conclusão: segurança de hardware e o futuro do PCIe

As vulnerabilidades PCIe IDE mostram que a evolução da segurança de hardware é um processo contínuo, que exige revisão constante mesmo em padrões consolidados. A criptografia em nível de barramento é essencial para o futuro dos data centers, mas também amplia a complexidade do ecossistema.

As falhas identificadas não invalidam o PCIe IDE, mas reforçam a necessidade de implementações cuidadosas, auditorias independentes e resposta rápida a correções de especificação. À medida que PCIe 6.0 e arquiteturas ainda mais rápidas se tornam realidade, a maturidade desses mecanismos será decisiva para a confiança em computação de alto desempenho.

Se você utiliza servidores equipados com Intel Xeon 6 ou AMD EPYC 9005, procure imediatamente atualizações de firmware junto ao seu fornecedor, avalie o impacto em ambientes de execução confiável e compartilhe esta informação com sua equipe de infraestrutura para reduzir riscos antes que se tornem exploráveis

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