Uma notícia que promete agitar o cenário do desktop Linux e reacender debates sobre o futuro dos servidores gráficos: Enrico Weigelt (metux IT consult), o criador do Xlibre, anunciou o lançamento da versão 25.0.0.0 desta nova fork do X.Org X server. Este não é apenas mais um lançamento; é uma declaração de guerra e um convite para o renascimento do X11, com um foco ambicioso em segurança, novos recursos e uma comunidade radicalmente inclusiva.
O anúncio é carregado de polêmica, criticando abertamente o grupo Xorg, majoritariamente representado por IBM/Red Hat, por supostamente abandonar o projeto original e bloquear contribuições substanciais. A Xlibre surge como uma resposta direta a essa alegada inação e um compromisso de levar o X server adiante, prometendo limpeza massiva de código e funcionalidades inovadoras.
Este artigo mergulhará nos motivos por trás dessa fork controversa, explorará as principais novidades que o Xlibre 25.0 traz para o seu desktop Linux, e analisará o impacto dessa iniciativa no debate contínuo entre Xorg e Wayland, além de suas implicações para a segurança gráfica.
A necessidade da fork: críticas ao Xorg e à IBM/Red Hat
Alegado abandono e bloqueio de contribuições
O próprio Enrico Weigelt não poupa palavras ao expor os motivos por trás da criação do Xlibre. Segundo ele, a maioria do grupo atual que mantém o Xorg, especialmente ligado à IBM/Red Hat, teria o “desejo expresso de abandonar o projeto” e deixá-lo “apodrecer para sempre”, além de bloquear qualquer contribuição substancial.
Weigelt relata uma experiência pessoal de censura: ele afirma ter sido subitamente banido e censurado no freedesktop.org logo após os primeiros indícios da fork, supostamente por funcionários da IBM/Red Hat. Para ele, isso foi o estopim para romper de vez com o projeto principal.
A filosofia por trás da fork é clara: enfrentar a ideia de que projetos open source não devem ser forkeados por quem não faz parte dos grupos centrais de poder.
Frustração com a falta de fusões
Outro ponto levantado é o esforço desperdiçado. Enrico dedicou quase um ano backportando centenas de MRs (merge requests) para o branch principal do Xorg — mais de 1.000 commits. Mesmo assim, quase nada foi mesclado. A conclusão foi taxativa: “não vale a pena gastar mais tempo com isso”.
A frase “Se o Xorg quiser morrer, que seja. Mas o Xlibre viverá” sintetiza o espírito de ruptura e independência do projeto.
Xlibre 25.0: um renascimento com foco em segurança e novos recursos
Limpeza massiva de código e dívida técnica
Com cerca de 3.000 commits entre versões, o Xlibre 25.0 marca a primeira major release real do X server em anos. A proposta é clara: eliminar dívida técnica acumulada, limpar grandes trechos do código legado e corrigir inconsistências em plataformas não Linux que há muito estavam negligenciadas.
Essa reestruturação torna o servidor mais moderno, mantenível e preparado para novos ciclos de desenvolvimento.
Xnamespace extension: segurança para contêineres
Uma das funcionalidades mais revolucionárias do Xlibre é a introdução da extensão Xnamespace. Trata-se de uma abordagem moderna de isolamento entre clientes X11, ideal para ambientes com múltiplos contêineres.
Enquanto o antigo Xsecurity (de 1996) ainda existe, ele é considerado insuficiente para os requisitos atuais de segurança. O Xnamespace cria namespaces X11 separados, onde clientes de domínios distintos não podem interferir uns nos outros, mitigando riscos de vazamentos e interferências.
Isso é particularmente relevante para ambientes com sandboxing, virtualização leve e aplicações em contêineres.
Xnest portado para XCB: fim da dependência antiga
O Xnest, conhecido servidor X aninhado, foi finalmente portado para XCB — substituindo sua antiga dependência do Xlib. Essa mudança rompe com dependências legadas, tornando o servidor mais leve, modular e moderno.
A migração para XCB também abre caminho para futuras integrações com outras ferramentas modernas do ecossistema gráfico.
Diretórios de drivers por ABI e correções de CVEs
Outra mudança técnica importante é o suporte a drivers por diretório de ABI. Isso permite que diferentes versões de drivers coexistam no mesmo sistema, facilitando atualizações e compatibilidade retroativa.
Além disso, o Xlibre 25.0 incorpora diversas correções de CVEs (Common Vulnerabilities and Exposures), reforçando sua proposta de ser uma alternativa mais segura ao X server atual.
Uma comunidade inclusiva: a visão da Xlibre
Quebrando o círculo elitista
Em sua crítica ao Xfree86 e ao próprio Xorg, Enrico denuncia a existência de um “círculo elitista” que sempre dominou o desenvolvimento do X server, marginalizando novos contribuidores e centralizando as decisões.
Segundo ele, o Xorg atual herdou os mesmos vícios que levaram ao fim do Xfree86, inclusive em termos de governança, abertura a novas ideias e acolhimento da comunidade.
Um convite à colaboração aberta
O Xlibre tem como premissa ser radicalmente aberto, colaborativo e inclusivo. A proposta de Enrico é simples: qualquer um pode contribuir, desde que queira fazer algo útil.
E o convite é abrangente e até simbólico:
“Não importa de que país você vem, suas opiniões políticas, sua raça, seu sexo, sua idade, seu menu de comida, se você usa botas ou saltos, se você é furry ou fairy, Conan ou McKay, personagem de quadrinhos, uma pequena criatura peluda de Alpha Centauri, ou apenas uma pessoa média chata. Todos são bem-vindos.”
Esse espírito de acolhimento irrestrito busca reconstruir a comunidade em torno do X11, promovendo diversidade e inovação.
Status da release e considerações técnicas
Status beta e feedback
Por ser a primeira major release em anos, e por contar com uma enorme quantidade de commits, o Xlibre 25.0 ainda é considerado beta.
Os desenvolvedores encorajam usuários de todas as distribuições e plataformas a testarem, experimentarem e enviarem feedback, principalmente sobre compatibilidade de drivers e estabilidade.
Compatibilidade ABI e drivers NVIDIA
O salto de versão implica em mudança na ABI, o que exige recompilação dos drivers existentes. Apesar disso, o time do Xlibre afirma que teve cuidado extra com o driver proprietário da NVIDIA, que ainda é amplamente utilizado por usuários Linux.
Atenção especial deve ser dada ao uso dos repositórios corretos: os desenvolvedores recomendam utilizar as tags xlibre-xf86-…, pois o projeto Xorg (Red Hat) pode estar introduzindo mudanças sutis que quebram a compatibilidade ABI.
Conclusão: o renascimento do X11 em meio à controvérsia
O lançamento do Xlibre 25.0 marca um ponto de inflexão na longa trajetória do X.Org X server. Em um momento em que muitos decretavam o fim do X11 frente ao avanço do Wayland, esta nova fork propõe um renascimento ousado, baseado em segurança real, funcionalidades modernas e abertura à comunidade.
Ao desafiar diretamente a governança e as escolhas do grupo Xorg/IBM/Red Hat, o Xlibre cria um novo espaço para inovação e para a revitalização de um pilar do desktop Linux.
Será o Xlibre o futuro do X11? A comunidade Linux está convidada a participar dessa jornada. Explore o Xlibre 25.0 e junte-se ao movimento que busca levar o X adiante com liberdade e inovação.
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