YouTube Shorts com filtro de IA? Entenda a polêmica do upscaling

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Jardeson Márcio
Jardeson Márcio é Jornalista e Mestre em Tecnologia Agroalimentar pela Universidade Federal da Paraíba. Com 8 anos de experiência escrevendo no SempreUpdate, Jardeson é um especialista...

O YouTube está aplicando um filtro automático em vídeos do Shorts usando machine learning, alterando a aparência sem aviso ou opção de desativar. Criadores reclamam de perda de controle criativo e efeito artificial.

Você já reparou que alguns vídeos do YouTube Shorts parecem artificialmente lisos, como se tivessem passado por um filtro de beleza automático? Muitos usuários relataram que o conteúdo está ganhando uma aparência estranha, quase plástica, que lembra filtros de aplicativos como Instagram ou até mesmo efeitos de deepfake.

Esse efeito não é fruto da escolha dos criadores, mas sim parte de um experimento do YouTube, que utiliza machine learning para realizar um processo de upscaling automático em vídeos de menor resolução. A ideia da plataforma é “melhorar” a qualidade do conteúdo, mas o resultado gerou polêmica e frustração entre os criadores.

O debate vai além da estética: trata-se de uma discussão sobre controle criativo, transparência e autenticidade em uma era em que a automação e a Inteligência Artificial estão cada vez mais presentes nas plataformas digitais.

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O que está acontecendo com os vídeos do YouTube Shorts?

O problema foi inicialmente identificado por criadores que perceberam que seus vídeos estavam com uma aparência diferente após o upload. O YouTube Shorts filtro tem alterado principalmente vídeos gravados em baixa resolução, aplicando automaticamente um processamento que suaviza, desfoca e tenta reduzir ruídos.

O efeito, no entanto, não agradou. Muitos criadores relataram que os vídeos parecem “manchados”, como uma “pintura a óleo” ou até mesmo um vídeo falso gerado por IA.

Um exemplo marcante veio do YouTuber Rhett Shull, que afirmou que seu vídeo parecia “estranho” após o processamento. Outro caso emblemático foi o de TheMrBravoShow, que grava intencionalmente com uma filmadora dos anos 80 para dar um visual retrô ao seu conteúdo. O resultado do Shorts, no entanto, eliminou completamente a estética nostálgica, substituindo-a por uma aparência artificial e incoerente com sua proposta artística.

A resposta oficial do YouTube: ‘machine learning tradicional’, não IA

Diante da crescente repercussão, o suporte oficial do YouTube confirmou que se trata de um “experimento para melhorar a qualidade do vídeo”.

O porta-voz Rene Ritchie, figura conhecida por atuar como contato oficial entre o YouTube e criadores, explicou que o recurso utiliza “machine learning tradicional” e não IA generativa. Segundo ele, o objetivo é aplicar técnicas já comuns em smartphones modernos, como redução de ruído, clareza e suavização da imagem.

Essa distinção semântica é relevante para a empresa: ao evitar o termo IA generativa, o YouTube tenta se afastar da polêmica que envolve a aplicação de algoritmos criativos sobre o conteúdo dos usuários. No entanto, para muitos criadores, essa explicação soa insuficiente, já que o resultado prático é o mesmo: seus vídeos são modificados sem permissão.

Por que os criadores de conteúdo estão frustrados?

A controvérsia não se resume à estética. Para os criadores, a questão central é o direito sobre seu próprio conteúdo e a falta de consentimento na aplicação desse filtro.

Falta de consentimento e controle

Um dos principais pontos de indignação é que o YouTube aplicou o recurso de forma automática, sem aviso prévio ou opção de desativação.
Ou seja, o criador não tem como escolher se deseja ou não que seu vídeo passe pelo processamento.

Na prática, isso significa que a plataforma retira o controle criativo das mãos do autor e altera a forma como o conteúdo é consumido pelo público.

Ameaça à intenção artística

O caso do TheMrBravoShow é um exemplo perfeito. Seu projeto artístico tem como objetivo criar uma experiência nostálgica, evocando a estética de gravações caseiras dos anos 80. Ao aplicar o embelezamento automático Shorts, o YouTube destruiu essa intenção, entregando ao público uma versão completamente descaracterizada.

Muitos criadores também apontaram a hipocrisia da plataforma: ao mesmo tempo em que planeja impor restrições de monetização para conteúdos gerados por IA, o próprio YouTube aplica machine learning nos vídeos dos usuários sem pedir autorização.

Essa contradição levanta uma discussão ética sobre até onde uma plataforma pode intervir no conteúdo que hospeda sem ferir a autonomia dos criadores.

Conclusão: o futuro da autenticidade do conteúdo

A polêmica do YouTube Shorts filtro expõe um dilema cada vez mais presente no universo digital: como equilibrar os avanços da tecnologia de machine learning com o respeito à autenticidade e à intenção criativa dos usuários.

Embora a iniciativa do YouTube busque padronizar e “melhorar” a qualidade dos vídeos, a falta de transparência e opções de controle gera desconfiança e frustração. Para muitos criadores, não se trata de qualidade técnica, mas de autonomia artística.

E você, já notou essa mudança nos Shorts? Acredita que o YouTube tem o direito de alterar o conteúdo dos usuários sem pedir permissão?

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