A vulnerabilidade LNK no Windows expôs novamente a fragilidade estrutural do ecossistema Windows perante ataques de espionagem e campanhas de malware cada vez mais sofisticadas. A falha CVE-2025-9491, explorada ativamente, utiliza um dos elementos mais básicos e confiáveis do sistema, os ícones de atalho .LNK, para executar código malicioso sem levantar suspeitas, afetando tanto usuários domésticos quanto redes corporativas.
O objetivo deste artigo é explicar como o exploit funciona, quem está explorando essa brecha e por que a resposta da Microsoft tem sido criticada como insuficiente. Tudo isso para que administradores, equipes de segurança e usuários avançados entendam o risco e adotem defesas práticas. A gravidade dessa falha se destaca porque o ataque utiliza uma técnica de ocultação especialmente eficaz, muitas vezes burlando a inspeção visual e confundindo ferramentas que dependem da interação do usuário.
Em um cenário onde grupos APT estão cada vez mais agressivos, entender o funcionamento desse exploit torna-se essencial não apenas para detectar tentativas de intrusão, mas também para avaliar a postura das grandes empresas diante de vulnerabilidades críticas.
O engenhoso exploit do LNK (CVE-2025-9491) e como ele é usado

Arquivos .LNK são atalhos tradicionais do Windows que apontam para um executável ou comando no campo Destino (Target). Normalmente, esse campo exibe o caminho completo do programa associado, permitindo que o usuário identifique facilmente se algo parece errado. O exploit da CVE-2025-9491 subverte esse mecanismo ao preencher o campo Destino com um comando malicioso após centenas de espaços em branco estrategicamente colocados.
Essa técnica de preenchimento permite que apenas os primeiros 260 caracteres sejam exibidos, justamente o trecho que aparenta ser um caminho legítimo ou um executável inofensivo. Logo após essa área visível, os atacantes inserem o comando real, como PowerShell, cmd.exe, execução de payloads remotos ou carregamento de DLLs maliciosas. Quando o usuário clica no atalho, o Windows interpreta o comando completo, ignorando o formato visualmente truncado. Esse exploit de arquivos .LNK é especialmente eficaz porque se apoia em um elemento confiável, tornando difícil para usuários comuns e até para profissionais de TI perceberem a manipulação. Além disso, atacantes frequentemente distribuem esses arquivos dentro de .zip, explorando hábitos comuns de usuários que acreditam estar abrindo documentos, instaladores ou arquivos de mídia enviados por e-mail, mensageiros ou campanhas de phishing.
Dos grupos APT ao cibercrime: quem está explorando a vulnerabilidade LNK no Windows
A exposição do CVE-2025-9491 revelou que o exploit está longe de ser um experimento isolado, sendo utilizado por grupos de ameaças altamente organizados. Grupos APT associados a espionagem patrocinada por estados, como Mustang Panda, têm distribuído variantes do PlugX RAT, um malware historicamente utilizado para infiltração prolongada e exfiltração de dados. Outro grupo ligado à exploração da falha é o Bitter, conhecido por campanhas direcionadas a governos e organizações estratégicas na Ásia. Já no cenário do cibercrime tradicional, organizações como a Evil Corp têm aproveitado o mesmo vetor para entregar famílias de malware como Ursnif, voltadas ao roubo de credenciais, manipulação bancária e implantação de backdoors em máquinas comprometidas. Também foram identificados casos envolvendo o Gh0st RAT, uma ferramenta amplamente usada para controle remoto clandestino.
Esse conjunto de incidentes reforça que a falha de atalho do Windows não é apenas uma curiosidade técnica, mas um método amplamente adotado por múltiplos atores, cada qual com objetivos diversos mas igualmente nocivos. A amplitude dessa exploração demonstra que o impacto não é restrito a setores governamentais, atingindo empresas, infraestrutura crítica e até usuários comuns que podem ser vítimas de phishing intensivo.
A postura da Microsoft: mitigação silenciosa ou correção incompleta?
A reação da Microsoft à CVE-2025-9491 gerou debate entre especialistas. Inicialmente, a empresa afirmou que a vulnerabilidade exigia interação explícita do usuário e não justificava uma correção emergencial. Essa posição foi criticada por pesquisadores, considerando que a interação é mínima e frequentemente enganosa, bastando um clique em um atalho visualmente suspeito mas aparentemente inofensivo.
Em novembro, a Microsoft implementou silenciosamente uma atualização que altera a forma como o campo Destino é exibido, mostrando o comando completo em vez de truncar o texto após 260 caracteres. Essa mudança melhora a transparência visual, mas não desativa o comportamento vulnerável e tampouco impede a execução de comandos ocultos. A comunidade de segurança classificou essa ação como uma mitigação silenciosa, já que o exploit continua funcionando e o Windows permanece capaz de executar atalhos com comandos manipulados.
A falta de uma correção robusta levanta questionamentos sobre a priorização da Microsoft, especialmente em um momento em que ataques zero-day estão cada vez mais frequentes. A decisão contrasta com cenários anteriores, nos quais vulnerabilidades gravíssimas de execução remota, mesmo com necessidade de interação do usuário, receberam patches completos rapidamente.
Micropatching e defesa: a solução da 0patch e dicas de proteção
Com a ausência de uma correção definitiva da Microsoft, equipes de segurança procuraram alternativas, e uma das mais relevantes veio da ACROS Security, por meio do projeto 0patch. A equipe lançou um micropatch que aplica uma correção direta no comportamento do Windows, limitando o tamanho do campo Destino e emitindo alertas quando a string excede valores suspeitos que indicam possível manipulação.
Diferentemente da mitigação visual da Microsoft, o micropatch modifica de fato o tratamento interno, dificultando a ocultação de comandos maliciosos e reduzindo significativamente o risco de execução inadvertida. Para usuários e administradores que desejam minimizar riscos enquanto aguardam uma correção oficial, algumas medidas práticas incluem verificar cuidadosamente qualquer arquivo .LNK recebido por e-mail, especialmente quando compactado em .zip, utilizar soluções de segurança que inspecionam arquivos de atalho e bloquear a execução de atalhos externos em ambientes corporativos sensíveis. Também é recomendável reforçar a política de conscientização interna, lembrando usuários que atalhos não são documentos e podem carregar comandos perigosos. Por fim, manter logs habilitados e monitorar comportamentos suspeitos no PowerShell e no cmd.exe auxilia na detecção de tentativas de exploração.
Conclusão: a segurança do usuário em primeiro lugar
A exploração ativa da vulnerabilidade LNK no Windows deixa claro que, em um cenário de ameaças cada vez mais complexas, medidas parciais não são suficientes para proteger milhões de usuários do Windows. A mitigação implementada pela Microsoft melhora a visibilidade, mas não neutraliza o risco.
Um patch completo é necessário para eliminar a manipulação maliciosa do campo Destino, garantindo que atalhos não sejam usados como vetores silenciosos de infecção. Enquanto isso não acontece, cabe aos usuários, administradores e equipes de segurança reforçar suas defesas e adotar boas práticas de prevenção. Compartilhar este artigo é uma forma de ampliar a conscientização sobre o CVE-2025-9491 e contribuir para uma comunidade mais protegida.
