O Fedora 43 se prepara para realizar uma mudança significativa no processo de instalação do sistema, especialmente para usuários que utilizam UEFI (Unified Extensible Firmware Interface) com discos particionados no antigo estilo MBR (Master Boot Record). A proposta de encerrar o suporte a essa configuração no Anaconda installer já foi aprovada e, a partir do Fedora 43, instalações UEFI em discos MBR deixarão de ser suportadas na arquitetura x86_64.
Essa alteração representa o fim de uma compatibilidade histórica, mas também abre caminho para uma base mais sólida e confiável. A nova exigência é clara: discos precisam estar no formato GPT (GUID Partition Table) para que o Fedora seja instalado com UEFI.
Este artigo analisa as razões técnicas, os benefícios e os impactos dessa mudança, além de orientar os usuários sobre como verificar o tipo de particionamento atual de seus discos e como migrar, se necessário.
O que a proposta do Fedora 43 implica: adeus ao MBR em instalações UEFI
Com a nova política, instalar o Fedora 43 em modo UEFI exigirá obrigatoriamente um disco particionado com GPT. O suporte a MBR continuará existindo para instalações em modo BIOS (legacy boot), mas deixará de ser válido para UEFI.
A alteração foi registrada no Anaconda PR #6484, implementando efetivamente a rejeição de instalações UEFI em discos MBR dentro do instalador oficial do Fedora.
A proposta passou por avaliação no FESCo (Fedora Engineering Steering Committee) e já foi aprovada. A funcionalidade já está presente nas versões Fedora Rawhide ISO, e sua inclusão está prevista para o lançamento final do Fedora 43.
Contexto da mudança: por que o Fedora quer abandonar o MBR para UEFI?
Embora tecnicamente possível, o uso de UEFI em discos com MBR sempre foi uma combinação marginal, instável e sem testes regulares. Historicamente, esse cenário nunca foi o foco das distribuições Linux — nem das especificações da UEFI.
Com o avanço das arquiteturas modernas e da virtualização, a necessidade de manter compatibilidade com esse tipo de configuração perdeu força. A proposta do Fedora é reduzir a complexidade técnica e alinhar o sistema a padrões mais robustos e confiáveis, como o uso de GPT com UEFI.
A quem a mudança afeta (e a quem não afeta)
A decisão afeta exclusivamente usuários que:
- Possuem discos MBR
- Tentam instalar o Fedora 43 em modo UEFI
- Utilizam sistemas x86_64
Não serão afetados:
- Usuários que instalam o Fedora em modo BIOS legacy
- Sistemas baseados em GPT + UEFI, que já são o padrão atual
- Instalações em arquiteturas ARM, RISC-V, ou ambientes cloud-native, onde MBR já não é utilizado
- Sistemas existentes que não estão sendo reinstalados
As razões técnicas: por que MBR + UEFI é um problema para o Fedora
Inconfiabilidade e suporte inconsistente do firmware
A combinação de MBR com UEFI gera problemas porque poucos firmwares UEFI testam essa configuração de forma sistemática. Em muitos casos, o comportamento é imprevisível: alguns firmwares tentam iniciar por MBR, outros simplesmente ignoram a partição de boot, e alguns nem sequer permitem a instalação corretamente.
Esse cenário torna difícil dar suporte a usuários e diagnosticar falhas relacionadas ao boot.
Problemas com o bootloader GRUB2 e efibootmgr
A instalação do Fedora em UEFI com MBR depende do uso de ferramentas como o GRUB2 e o efibootmgr, que se comportam de forma não confiável nessa configuração híbrida.
Um dos problemas conhecidos está no bug report blivet#764, onde sistemas com UEFI+MBR enfrentavam falhas de inicialização, registros quebrados de boot e comportamento inconsistente do GRUB2 em certas plataformas.
O fim da necessidade em ambientes de nuvem modernos
Nos principais ambientes cloud como AWS, GCP e Azure, os discos virtuais já são criados com GPT por padrão e os sistemas operacionais funcionam exclusivamente em modo UEFI + GPT.
Portanto, manter o suporte ao MBR representa uma sobrecarga que não traz mais benefícios práticos para as principais plataformas de implantação.
Benefícios para o Fedora: mais robustez e menos carga de suporte
Experiência de instalação mais robusta e menos falhas
Ao remover suporte a cenários não testados e inconsistentes, o Anaconda installer se torna mais confiável. A chance de uma instalação com problemas de boot ou de configuração do firmware diminui drasticamente.
Redução do burden de testes e manutenção
Para manter o suporte a UEFI+MBR, seria necessário realizar testes contínuos e manutenção especial para um caso de uso cada vez mais raro. Ao remover esse suporte, o Fedora reduz a carga de desenvolvimento, podendo focar em aprimorar o suporte a tecnologias modernas e amplamente adotadas.
Impacto para os usuários: como se preparar para a exigência de GPT
Usuários existentes vs. novas instalações
Quem já tem o Fedora instalado em MBR + BIOS não precisa se preocupar: o sistema continuará funcionando e poderá ser atualizado normalmente. No entanto, novas instalações do Fedora 43 em UEFI exigirão a conversão do disco para GPT.
Verificando o tipo de partição do seu disco (MBR ou GPT)
É possível verificar o esquema de particionamento do disco com um único comando no terminal:
sudo parted /dev/sdX print
Substitua /dev/sdX
pela unidade correta (ex: /dev/sda
). O comando mostrará se o disco está particionado como msdos (MBR) ou gpt.
Outra alternativa é:
sudo fdisk -l
Busque pela linha: Disklabel type: dos
(MBR) ou Disklabel type: gpt
.
Opções para usuários com discos MBR em instalações UEFI do Fedora
Usuários que desejam instalar o Fedora 43 em UEFI, mas possuem discos em MBR, devem realizar uma conversão do disco para GPT. Existem duas abordagens:
- Backup + Reparticionamento com GPT:
- Salve os dados.
- Use ferramentas como o GParted para criar uma nova tabela de partição GPT.
- Instale o Fedora 43 normalmente em modo UEFI.
- Conversão não destrutiva (experimental):
- Ferramentas como
gdisk
oferecem modo de conversão do esquema MBR para GPT sem apagar dados, mas o método não é 100% garantido e deve ser feito com backup prévio.
- Ferramentas como
Importante: Em ambas as abordagens, certifique-se de que o firmware esteja configurado para boot em modo UEFI only, e não em modo misto (Legacy + UEFI).
Conclusão: Fedora 43 – um passo em direção a um futuro mais robusto e padronizado
A decisão do Fedora 43 de encerrar o suporte à instalação UEFI em discos MBR é um marco que sela o fim de uma era, mas que também representa um passo importante rumo a um futuro mais estável, confiável e alinhado com os padrões modernos de hardware e firmware.
Embora a mudança exija atenção dos usuários que ainda utilizam MBR, as opções para migração são viáveis e bem documentadas. O impacto tende a ser pequeno para a maioria dos usuários modernos, e os benefícios em robustez e manutenção do projeto Fedora são significativos.