FreeBSD 15.0 é lançado com OpenZFS atualizado, Clang 19 e foco em modernização

Escrito por
Emanuel Negromonte
Emanuel Negromonte é Jornalista, Mestre em Tecnologia da Informação e atualmente cursa a segunda graduação em Engenharia de Software. Com 14 anos de experiência escrevendo sobre...

Desempenho, segurança e drivers novos — o FreeBSD 15.0 acelera e moderniza o sistema, com userland refinado, toolchain atualizada e caminho de upgrade via pkgbase.

O FreeBSD 15.0-RELEASE chega como um salto consistente sobre a série 14.x — daqueles que o usuário sente no dia a dia, mas que também reposicionam o sistema para a próxima década. A nova versão combina melhorias de usabilidade e desempenho no userland, avanços importantes no kernel e nos drivers, e um pacote claro de depreciações que corta arestas antigas para abrir espaço a tecnologias modernas. Em bom português: menos atrito, mais previsibilidade e um ecossistema mais fácil de manter.

Principais novidades para os usuários

Começando pelo que aparece primeiro: ferramentas clássicas ficaram mais úteis e precisas. O date(1) agora fala a linguagem dos milissegundos e frações — suporte a nanossegundos para quem automatiza logs e auditorias de eventos; adduser(8) passou a criar datasets ZFS por padrão para $HOME quando o diretório-pai está em ZFS (com opção para criptografia), simplificando segurança e migrações; e o ps(1) ganhou comportamento mais previsível (correções em -U, reformas no -O e remoção de colunas duplicadas) — ajustes pequenos que evitam pegadinhas em scripts e operações diárias. Até o grep(1) agora alinha expectativa com manual: não segue symlinks por padrão em buscas recursivas.

Há também avanços de observabilidade: o dtrace(1) consegue emitir saída em JSON, XML e HTML via libxo, tornando mais fácil integrar diagnósticos ao seu pipeline. E, no detalhe que acelera tudo, várias rotinas de libc — aquelas de strings e memória — passaram a usar SIMD em amd64 quando disponível. Resultado? Operações comuns ficam visivelmente mais rápidas.

Na frente de software “contribuído”, o pacote base chega atualizado: OpenZFS (2.2.7), OpenSSH 9.9p2, OpenSSL 3.0 (3.0.16) e a pilha **LLVM/**Clang 19 (19.1.7) formam um conjunto atual e coeso. Em termos práticos, isso significa recursos recentes, correções de segurança já incorporadas e menos idas e vindas ao ports só para obter versões suportadas.

No ecossistema de pacotes, a equipe introduziu um repositório FreeBSD-kmods específico para 15.0 e renomeou as entradas padrão no pkg(8) para FreeBSD-ports e FreeBSD-ports-kmods. Para quem mantém desktops com gráficos proprietários ou servidores com drivers sensíveis, isso reduz o risco de incompatibilidades de ABI entre o kernel e módulos. O instalador bsdinstall(8) também ganhou a habilidade de baixar e instalar firmwares logo após a instalação do sistema — um alívio em notebooks e bare-metals recentes.

Avanços no kernel e suporte a hardware

No coração do sistema, o 15.0 chega com melhorias que repercutem direto na estabilidade e na performance. A pilha de som foi retrabalhada para alocar vchans sob demanda e lidar melhor com hotplug/hot-unplug (adeus travadinhas ao plugar/desplugar headsets USB). A camada LinuxKPI agora respeita __GFP_NORETRY, o que mitiga lentidão progressiva em cenários com drm-kmod à medida que a memória física fragmenta. E a equipe adicionou um novo setcred() com ganchos MAC para permitir ajustes de credenciais de processo de forma atômica — um ganho tanto de segurança quanto de controle fino em ambientes multi-tenant.

Drivers também evoluíram bastante. Entre os destaques:

  • Rede 100GbE: driver ice(4) para a família Intel E800 atualizado (1.43.2-k) — base para links de 25/50/100Gb em datacenters.
  • Wi-Fi Intel: o iwlwifi(4) recebeu uma rodada grande de correções de estabilidade.
  • Wi-Fi Realtek: chegam os novos rtw88(4) e rtw89(4) (backport do Linux 6.14), cobrindo uma leva de chipsets recentes muito comuns em notebooks.
  • NVMe em todo lugar: nvme(4) e nvmecontrol(8) agora vêm habilitados em todas as arquiteturas suportadas.
  • ENA/BNXT/IGC: atualizações em drivers de 10/25/100/400Gb, incluindo ENA 2.8.x e melhorias em Intel igc(4)/x550, entre outros.

Na rede, além de correções e ganhos na pilha SCTP, é possível construir kernels apenas com IPv6 (sem IPv4), o ifconfig(8) endureceu a proteção contra IPs em membros de bridge(4) por engano, e a família de drivers Intel de rede herdou AIM (Adaptive Interrupt Moderation) — mudança que, segundo os engenheiros, corrige uma regressão antiga de UDP e melhora o perfil de latência sob carga.

O suporte em nuvem ficou mais “plug and play”. O 15.0 vem com integração a cloud-init (via nuageinit e script de startup), imagens OCI oficiais, builds publicados para Oracle Cloud Infrastructure e melhorias específicas no AWS EC2 (como “shutdown/reboot” no arm64 e imagens “small” sem símbolos e depuração). Para quem vive de automação, é o tipo de ajuste que economiza horas em pipelines de provisionamento.

Modernização da plataforma e depreciações

Parte do amadurecimento é deixar coisas para trás. O gvinum(8) foi removido no 15.0 — a documentação e ferramentas passam a apontar para graid(8) e zfs(8) — e o fdisk(8) segue oficialmente depreciado em favor do gpart(8). No front de console, o histórico syscons entrou em trilho de saída (sem prazo imediato), com o projeto recomendando a migração definitiva para vt(4): o syscons não conversa bem com UEFI, não suporta UTF-8 e depende do antigo “Giant lock”. São decisões que reduzem dívida técnica e clarificam o caminho de manutenção.

Outro ponto que merece atenção do administrador: o projeto sinaliza que o caminho de atualização do base system está mudando. As notas de lançamento deixam claro que o uso do freebsd-update(8) está sendo revisto para o 15.0, com a transição para pkgbase em vista. Em termos práticos, isso significa um fluxo de updates mais granular (pacote por pacote do base), porém exige ler com calma o procedimento de upgrade da 15.0 antes de apertar “Enter” em produção.

Falando em robustez, a 15.0 consolida um grande número de advisories e erratas publicados ao longo do ciclo — de OpenSSH a xz, de libarchive a bugs sutis em subsistemas como ktrace(2) e ZFS. Não é preciso decorar a lista; o recado é que a equipe vem fechando portas e polindo arestas continuamente. A relação completa e atualizada está nas páginas oficiais de advisories e erratas.

Como obter o FreeBSD 15.0

As imagens oficiais do FreeBSD 15.0-RELEASE estão disponíveis no portal do projeto e nos espelhos ao redor do mundo, com opções para instaladores tradicionais, VMs e nuvem. Antes de instalar ou atualizar, vale a rotina: conferir a página de Release Notes, ler a Errata (informações de última hora) e revisar o procedimento recomendado de upgrade — especialmente por conta da transição para pkgbase. Se o seu caso envolver drivers de terceiro ou gráficos proprietários, verifique também a configuração do repositório FreeBSD-ports-kmods.

Resumo rápido (para decidir o upgrade)

  • Userland mais previsível: date(1) com nanossegundos, ps(1) com semântica consistente, dtrace com saída em JSON/XML/HTML.
  • Toolchain e base atualizados: OpenZFS 2.2.7, OpenSSH 9.9p2, OpenSSL 3.0.16, LLVM/Clang 19.1.7.
  • Drivers e rede: ice(4) 100GbE, melhorias no iwlwifi(4), novos rtw88/rtw89, NVMe em todas as arquiteturas, AIM nos NICs Intel.
  • Modernização explícita: gvinum removido; fdisk depreciado; syscons a caminho da aposentadoria em favor de vt(4).
  • Caminho de update mudando: olho no pkgbase e no procedimento de upgrade da 15.0.
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