GNOME 49 Alpha 1 e 2FA obrigatório: GitLab migra para AWS, novos apps padrão e o fim da sessão X11 se aproximam

Escrito por
Emanuel Negromonte
Emanuel Negromonte é Jornalista, Mestre em Tecnologia da Informação e atualmente cursa a segunda graduação em Engenharia de Software. Com 14 anos de experiência escrevendo sobre...

O GNOME entra em nova era com segurança reforçada, novos apps padrão e o adeus definitivo ao X11.

Com um novo ciclo de desenvolvimento em pleno vapor, o projeto GNOME dá passos importantes rumo ao futuro do desktop Linux. O lançamento do GNOME 49 Alpha 1, aliado à obrigatoriedade de 2FA (Autenticação de Dois Fatores) nas contas do GitLab do GNOME, marca uma fase de amadurecimento técnico, preocupação com segurança e renovação na experiência do usuário.

Além da adoção de novos aplicativos padrão e melhorias fundamentais em componentes gráficos e de sistema, o projeto também executa uma transição técnica significativa: a migração do seu GitLab para infraestrutura AWS. Paralelamente, uma série de mudanças estruturais sinaliza a aproximação do fim da sessão X11, preparando o terreno para um ambiente Wayland-first ainda mais seguro e moderno.

Segurança em primeiro lugar: 2FA obrigatório e migração do GitLab

Migração do GitLab para a nova plataforma AWS

O GitLab do GNOME, coração da colaboração no projeto, está em processo de migração para a infraestrutura AWS. Essa mudança estratégica visa melhorar a confiabilidade, escalabilidade e segurança da plataforma que abriga código-fonte, issues, merge requests e ferramentas colaborativas.

A migração foi cuidadosamente planejada para afetar o mínimo possível o fluxo de trabalho da comunidade, mas requer atenção especial de mantenedores e contribuidores durante o período de transição. A nova instância será mais resiliente e permitirá que o GNOME aproveite os recursos avançados de infraestrutura em nuvem da Amazon Web Services, com monitoramento, backups e redundância mais robustos.

2FA obrigatório: um passo crucial para a segurança das contas GNOME

A medida mais visível para os usuários é a obrigatoriedade de 2FA (Autenticação de Dois Fatores) em todas as contas GNOME no GitLab. A autenticação será feita por meio de TOTP tokens compatíveis com aplicativos como FreeOTP, Aegis ou Google Authenticator.

Essa decisão vem na esteira de incidentes de segurança recentes no ecossistema open source, destacando a necessidade de reforçar o controle de acesso. Ao exigir 2FA, o GNOME fortalece sua postura de segurança e protege contribuições valiosas contra acesso não autorizado.

Importante: o GNOME está migrando sua autenticação para o sistema GNOME SSO (Single Sign-On) baseado em Keycloak, o que permitirá maior controle administrativo e auditoria sobre o acesso aos serviços de desenvolvimento, incluindo o GitLab e outros sistemas internos.

Suporte e canais de comunicação para a comunidade

Durante a migração e implementação do novo sistema de autenticação, os usuários podem contar com canais de suporte ativos no Discourse, Matrix e via issues diretamente no GitLab. Guias de migração, FAQs e documentação detalhada estão sendo preparados para facilitar a adaptação da comunidade.

GNOME 49.alpha: as principais inovações do próximo ciclo de desenvolvimento

O ciclo 49 do GNOME será lembrado como um dos mais ambiciosos da história recente do projeto. Além de melhorias em acessibilidade, design e performance, ele traz mudanças estruturais que pavimentam o futuro da plataforma.

Novos aplicativos padrão: uma renovação na experiência do usuário

Três novos aplicativos devem substituir ferramentas clássicas da stack GNOME:

  • Showtime: substituto moderno do Totem como player de vídeo padrão. Com base em GTK 4 e suporte a PipeWire, oferece uma experiência multimídia fluida, moderna e com suporte a legendas, listas de reprodução e gestos.
  • Papers: o novo visualizador de documentos baseado em libadwaita, que substituirá o Evince. Mais integrado à experiência GNOME, traz suporte a anotações, modo escuro e desempenho aprimorado.
  • Manuals: projeto que une funcionalidades do Yelp e do Devhelp em uma única aplicação para documentação offline e leitura de manuais em formato Mallard e HTML, com busca integrada e interface moderna.

Essa mudança representa não apenas uma atualização tecnológica, mas um alinhamento com os princípios de design do GNOME moderno.

O futuro sem X11: a transição para Wayland avança

Uma das decisões mais impactantes do GNOME 49 é a desativação da sessão X11 por padrão. Usuários que ainda dependem do antigo sistema gráfico terão que ativar manualmente a sessão X11 em distribuições que ainda a oferecem.

Essa transição prepara o caminho para o GNOME 50, que marcará a remoção definitiva da sessão X11. A decisão reflete a confiança do projeto na maturidade do Wayland, que oferece benefícios substanciais em segurança, suporte a dispositivos modernos e melhor integração com gráficos de alta performance.

A movimentação também afeta diretamente o GDM e os scripts de sessão padrão, reforçando a aposta no ecossistema Wayland-first.

Gdk-Pixbuf e Glycin: segurança e performance no carregamento de imagens

O GNOME continua sua transição para um sistema gráfico mais robusto e seguro ao migrar o carregamento de imagens do tradicional Gdk-Pixbuf para o novo backend baseado em Glycin.

O Glycin é um loader moderno, com suporte amplo a formatos como JPEG, PNG, SVG, HEIF e WebP. Ele executa o parsing e o decodificador de forma sandboxed, mitigando ataques a partir de arquivos de imagem malformados — um vetor comum de exploração em ambientes gráficos.

Além da segurança de memória reforçada, o Glycin traz melhor desempenho, uso mais eficiente de recursos e integração nativa com o GTK 4. No GNOME 49.alpha, ele já está ativo como backend principal para GdkPixbuf em várias distros de teste.

Integração mais profunda com systemd: GDM e gerenciamento de sessão

O GDM (GNOME Display Manager) e o GNOME Session passam a utilizar o systemd userdb para gerenciamento de sessões. Essa mudança faz parte do esforço contínuo de integração entre o GNOME e o ecossistema systemd, trazendo benefícios como:

  • Sessões de usuário mais previsíveis e auditáveis;
  • Login e logout mais rápidos;
  • Melhor suporte a configurações persistentes por usuário.

O systemd userdb atua como um banco de dados de identidade unificado, facilitando a vida de administradores e automatizadores de sistemas. Para usuários finais, a mudança é transparente, mas contribui para maior robustez do sistema como um todo.

GNOME 49.alpha: o que significa para testadores e desenvolvedores

Disponibilidade da release e imagem de instalação GNOME OS

A imagem de instalação GNOME OS com a versão 49.alpha está disponível para testes em sistemas físicos e virtuais. Ela pode ser utilizada por desenvolvedores para validar aplicações, testar mudanças de API e reportar regressões no ambiente.

Construída com BuildStream, essa imagem fornece um ambiente de referência GNOME puro, ideal para desenvolvimento upstream, testes de UI e depuração de comportamento entre versões.

Aviso: uma snapshot de desenvolvimento para testes e hacking

Como toda versão alpha, o GNOME 49.alpha não deve ser usado em ambientes de produção. Ele é uma snapshot de desenvolvimento, sujeita a mudanças, regressões e instabilidade.

Contribuidores e testadores são incentivados a usar a imagem em VMs ou hardware secundário, reportar bugs e interagir com os desenvolvedores para garantir que o GNOME 49 está pronto para o lançamento final.

O papel da comunidade no ciclo de desenvolvimento do GNOME

O GNOME permanece fiel ao seu modelo de código aberto, com decisões tomadas em público, discussões nos repositórios e feedback contínuo da comunidade. Com a introdução de novos aplicativos, tecnologias experimentais e mudanças estruturais, a colaboração comunitária nunca foi tão vital.

Participe do Discourse, entre nos canais Matrix, teste a imagem GNOME OS, abra issues — sua contribuição molda o futuro do desktop Linux.

Conclusão: GNOME – moldando o futuro do desktop Linux com inovação, segurança e colaboração

O GNOME 49 Alpha 1 não é apenas uma prévia técnica. Ele representa o resultado de meses de trabalho em busca de um desktop mais seguro, moderno, coerente e acessível. A migração do GitLab do GNOME para a AWS, a imposição de 2FA, a renovação dos aplicativos padrão, a transição definitiva para Wayland e a integração profunda com o systemd mostram um projeto que não apenas acompanha, mas antecipa o futuro do Linux no desktop.

A comunidade GNOME, com sua estrutura aberta e colaborativa, prova que inovação e transparência podem caminhar juntas — e que o caminho rumo ao GNOME 50 será, acima de tudo, transformador.

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