A época em que a Microsoft incomodava o Linux passou, segundo declarações do diretor Jim Zemlin. O próximo embate? Adivinhe…
Duas décadas depois de Linus Torvalds desenvolver o kernel do famoso sistema operacional Linux, a guerra entre Microsoft e Linux chega ao fim. Para o diretor da Linux Foundation Jim Zemlin, o vencedor tem nome: Linux.
“Com exceção do caso dos sistemas operacionais para desktop, o Linux ganhou em todas as frentes, incluindo computação móvel e sistemas para servidores”, argumenta Zemlin.
“Acho que podemos parar de nos preocupar com a Microsoft. Sim, eles foram nossos concorrentes por muito tempo. Mas agora, brigar com a Microsoft equivale a chutar um cachorro atropelado”, conclui o executivo.
Zemlin continua a análise ao afirmar que as ações da Microsoft não mostraram grande valorização ao longa de última década, ao passo que os papéis da Red Hat, um importante representante da família Linux, dispararam. Segundo o executivo, o Linux está em toda parte.
“Acho que o vigésimo aniversário serve para nos lembrarmos de nossas origens”, disse Zemlin, em entrevista à LinuxWorld. “De experimento para projetos de faculdade, nos anos 90, a algo que é executado em 70% de todos os dispositivos e é responsável por gerar boa parte do tráfego de Internet” – assim Zemlin descreve o Linux.
Ausência
O Windows ainda roda em nove entre cada dez computadores pessoais tradicionais. Os 10% restantes são divididos entre os sistemas Linux e Macintosh. Zemlin concorda com a colocação de que a ausência do Linux em computadores pessoais é frustrante para muitos. “Por outro lado”, diz, “a importância do PC tradicional diminui, ao passo que outros dispositivos munidos de Linux e usados principalmente no acesso à web aumentam sua presença”.
Se você acha que isso é uma declaração feita sob medida para anunciar o sucesso do Linux em sistemas móveis, acertou. De acordo com o IDC, a possibilidade de o sistema móvel da Microsoft, o Windows Phone 7, vencer a disputa com o iOS da Apple é bastante real. Essa invertida de participação no mercado está prevista para acontecer até 2015.
Quando mencionamos essa previsão para Zemlin, a reação do executivo foi de difícil definição, mas ficou entre o histerismo e o riso incontroláveis. Foi possível ouvir o executivo exclamar: Meu Deus, Steve Jobs! Ações da Apple em baixa!
Para Zemlin, à medida que as pessoas se afastam cada vez mais dos PCs, a fatia da Microsoft tende a diminuir cada vez mais. “As pessoas usam smartphones para dar conta de várias tarefas diferentes daquelas que eram executadas nos PCs, e nesse aspecto o Linux domina o marcado de computação móvel. Seja com o Android, seja com outras distribuições Linux que são encontradas por aí”.
Rei supremo
Mas, no que se refere aos tablets, o iOS ainda reina supremo, o que pode ser um incômodo na vida de quem gosta de aplicativos baseados em código aberto.
“A Apple é o seu maior inimigo e seu maior colega quando o assunto é código-fonte aberto”, diz Zemlin. Segundo ele, a empresa mudou o entendimento acerca da computação móvel cliente, o que foi positivo para o Linux. “Apesar de a Apple usar muitos recursos oriundos do código livre, concordo com a ideia de seu sistema ainda ser fechado demais”, diz.
Torvalds começou o desenvolvimento do Kernel Linux em 1991, como alternativa aos sistemas Unix. De sua união com o GNU, criado por Richard Stallmann e a Fundação Software Livre, surgiu a base de muitos sistemas operacionais.
A data exata de surgimento do Linux é incerta. Para alguns, começou em 25 de agosto de 1991, quando Torvalds postou uma mensagem em que avisava estar criando um sistema operacional de código aberto. “É apenas um hobby. Não será tão grande quanto o GNU”, dizia na mensagem. Para outros, o aniversário do Linux é no dia 5 de outubro, quando o primeiro código Linux foi publicado.
Torvalds é hoje um funcionário da Fundação Linux e sua atribuição é aumentar a adesão e incentivar o desenvolvimento do sistema. Criada em setembro de 2007, em San Francisco, na Califórnia (EUA), a fundação conta com o apoio de importantes entidades, como IBM, Intel, Oracle, Cisco, Google, HP e dezenas de outras.
“Como vê, está todo mundo lá, com exceção da Microsoft”, diz Zemlin. “Recebemos contribuições de empresas e de pessoas físicas que acreditam no sistema e gostam de usá-lo”, completa.
Desafios
Apesar do tom bastante positivo, Zemlin concorda com a existência de vários desafios. Entre estes, questões de patente e incerteza jurídica impedem que sistemas abertos sejam adotados em larga escala. Acontece que tais circunstâncias não são exclusivas de sistemas livres, afirma.
“Nosso desafio do momento é esclarecer aos desenvolvedores de sistemas de que forma devem proceder ao compor produtos que estejam em acordo com as diretrizes de software aberto e como podem fazer isso usando o dinheiro de forma inteligente, sem perder a eficiência”, completa Zemlin.
É claro que permanecem questionamentos acerca do predomínio da Microsoft no mercado de sistemas desktop. Sobre isso, Zemlin diz que havia um monopólio que não permitia a participação de outras plataformas.
Para o criador do Gnome, Miguel de Icaza, o motivo é outro. “A Linux e os desenvolvedores parecem não querer unir forças em prol do benefício do usuário final em sistemas desktop”, argumenta.
Enquanto a Microsoft celebra 300 milhões de cópias do sistema Windows 7 comercializadas, Zemlin explica que a comunidade Linux não vai deixar se abater por isso.
“A verdade é que a atração principal ainda não subiu ao palco”, avisa Zemlin. “Os sistemas operacionais são parecidos com marés que vazam e baixam de forma muito lenta e gradual – parece uma era glacial. Leva algum tempo até as pessoas compreenderem que não mais precisam daquela indumentária tecnológica desktop e começarem a usar computadores de outras formas”.
Autor: Jon Brodkin
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