Como é difícil ser livre!
Enquanto estudava jornalismo, tinha um site de notícias e procurava um sistema de postagens que facilitasse as atualizações. Comecei a fazer sites em 1996, era tudo feito à mão, digitando códigos html num editor de textos para depois salvar e enviar ao servidor e agora queria um sistema automatizado, ágil. Foi só depois de 2002 que começaram a difundir e se espalhar os CMS/Sistemas de Gerenciamento de Sites. Conheci o phpnuke primeiro e quando fiquei apavorada com as invasões que recebia nos sites que produzia, fui convidada a conhecer o e107, em 2005. Foi aí que conheci a filosofia do Software Livre, ouvi falar de GNU e que existiam outros sistemas operacionais que rodavam do CD e podiam ser testados antes de instalar, eram várias distribuições Linux e eu podia escolher qual quisesse, porque era minha liberdade de escolha.
Comprei revistas, li bastante, fui a eventos, conheci pessoas que me apresentaram a outras e fui me envolvendo com a comunidade GNU/Linux. Baixei o Kurumin (para valorizar o trabalho de brasileiros), fiz curso de iniciação ao Linux no Senac da minha cidade (Castro-PR, em 2006), fui até palestrar no Conisli (Congresso Internacional de Software Livre), em São Paulo, nessa época. Falei do uso do Gimp para tratamento de imagens. Trabalho com ele desde então, substituindo aplicativos caríssimos e proprietários como o Photoshop, que certa vez fiz meu patrão comprar, quando trabalhei na Gráfica Kugler (de 1997 a 2000).
Continuei usando Kurumin no notebook até pararem com a manutenção dele no Brasil. Aprendi bastante com os amigos Christiano Linuxmen, Paulo Kretcheu, Rencka Marques, Ralf Braga, no início de todo o aprendizado. Quando visitei a Latinoware de Curitiba (era 2011 ou 2012, não lembro), Linuxmen me indicou o Ubuntu e passei a usá-lo porque o Kurumin tinha acabado.
Desde março de 2005, tenho ajudado na tradução do e107 como colaboradora. Participei na área de Software Livre da Campus Party Brasil (2011-2014) tirando fotos e fazendo jornalzinho digital, entrevistas, chaveirinhos do mascote Campux, entre outras atividades, sempre envolvida com os organizadores, até meses antes de cada evento acontecer, por email numa lista de discussão.
Toda a união e alegria que vi das pessoas da área de Software Livre, a empolgação que via antes, não tenho visto atualmente. O que aconteceu? Outro dia fui postar um banner do grupo TchêLinux sobre a palestra “Ubuntu: Linux para seres humanos”, na rede diasporabr.com.br e me deparei com o grande filósofo Anahuac de Paula Gil dizendo: “acho que você devia dar apoio ao Software Livre e não à uma marca comercial que não representa mais liberdade, mas apenas o velho modelo de exploração, agora usando outras ferramentas”. Fiquei assustada! Como é difícil ser livre!
Acredito que ser livre também é dar liberdade aos outros. As tantas distribuições GNU/Linux que existem não importam mais? Estou perdida nesse mundo “livre”. Vejo o pessoal da lista RepRap, de impressoras 3D, discutir infinitamente a licença e as liberdades. Tem impressora que é hardware aberto e usa Software Livre, tem outras que não são totalmente abertas, e por aí vai.
Preciso URGENTE da ajuda de amigos, Christiano, Kretcheu, Rencka, Ralf, Anahuac… Quero explicações sobre o que fazer agora. Estou perdida mesmo. Tento colocar Software Livre na minha empresa, falo para meu marido usar (e até ele já está usando). Mas vocês todos das comunidades livres estão complicando as coisas nesse momento! Então não é mais para chamar as pessoas para o Linux? Porque agora é comercial? Então não é mais para chamar para usarem código aberto porque a Microsoft vai pegar e usar?
Por que não continuamos como estávamos? Organizar eventos bacanas pelo país, divulgar os programas que não pedem para digitar um número de série e não enchem seu computador de trojans e vírus e são enormes no espaço de HD. Softwares que não exigem máquinas potentes e não colocam códigos de 20 anos atrás para rodarem atualmente.
Quero ver o usuário comum usando Software Livre e não reclamar que não usam porque não conhecem, que não usam porque não querem aprender o novo. Ou não usam porque já se acostumaram com um padrão de “mercado”. Quero ver o público usar software público, as prefeituras, órgãos e bancos do governo usarem Software Livre e Aberto. Mas temos que primeiro unificar o pensamento de quem faz acontecer o Software Livre no país.
Não podemos ser livres assim. Não podemos mostrar a liberdade que temos (ou não temos), sem exemplos. Agora estamos em guerra contra Google, Mozilla, Canonical porque estão em um modelo de negócio diferente? Os que antes falavam para eu usar Ubuntu, agora dizem que não posso porque ele é Linux e Linux é uma marca agora… Tá, sei que vão dizer que nosso negócio de ser “livre” não é bem um negócio, mas quem vive de liberdade? Como comem e bebem os livres? Porque eu, mesmo ajudando comunidades e usando Software Livre há anos, tenho que receber dinheiro em troca, cobrando de clientes, em algum momento dessa “cadeia livre” toda.
Para quem tem respostas de um modelo de ser livre e mostrar essa liberdade de forma uniforme, diz aí, estou no aguardo!

Texto da colaboradora do SempreUPdate: Bárbara Tostes!

Sobre a autora:
Jornalista, Especialista em EaD, curto Artes Gráficas, 3D, Fotos, CMS e107, Software Livre, KUbuntu e games.

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