O milionário do espaço que bancou o Linux para as massas: momentos decisivos (e polêmicas) da jornada de Mark Shuttleworth

Escrito por
Emanuel Negromonte
Emanuel Negromonte é Jornalista, Mestre em Tecnologia da Informação e atualmente cursa a segunda graduação em Engenharia de Software. Com 14 anos de experiência escrevendo sobre...

A história de como o pai do Ubuntu usou a fortuna de Mark Shuttleworth para transformar um ideal de “humanidade para todos” na distribuição que mudou a cara do código aberto.

Mark Shuttleworth sempre surge quando alguém pergunta como o Linux saiu dos laboratórios para o grande público. Ele foi o “turista‑tripulante” que, ao gastar parte de a fortuna de Mark Shuttleworth em uma viagem orbital de US $ 20 milhões, percebeu que o mundo precisava de um sistema operacional acolhedor. Desde então, o pai do Ubuntu vem financiando – com o bolso e com a visão – uma cadeia de inovações que empurrou o GNU/Linux para o centro das discussões de desktop, nuvem e IoT.

Nota de clareza: apesar de ser majoritariamente open source, o Ubuntu inclui firmware e drivers proprietários para garantir compatibilidade de hardware. Por isso, a Free Software Foundation não o classifica como “100 % software livre”.

Para iniciantes: imagine o Linux de 2004 como um carro de corrida cheio de alavancas; o pai do Ubuntu queria um carro popular, com volante e câmbio automáticos. A fortuna de Mark Shuttleworth foi o tanque de combustível que levou esse carro às mãos do público.

Os primórdios: de empreendedor sul‑africano a milionário da internet

AnoMarcoDescrição
1995Fundação da ThawteMark Shuttleworth cria uma das primeiras autoridades certificadoras SSL fora dos EUA.
1999Venda à VeriSignNegócio de US $ 575 milhões em ações – origem de a fortuna de Mark Shuttleworth.
2002Viagem ao espaçoGasta US $ 20 milhões, torna‑se segundo turista espacial.
2003Shuttleworth FoundationPassa a financiar projetos educacionais de software livre na África.

Glossário analítico

  • SSL (Secure Sockets Layer) – protocolo que criptografa tráfego web; pense em um cadeado digital.
  • Autoridade certificadora – entidade que “carimba” identidades na Internet.

Do espaço ao código: quando o cosmos ajudou a moldar o Ubuntu

Mark Shuttleworth dentro da Soyuz, operando instrumentos com traje espacial, exibindo a bandeira da África do Sul.

Durante oito dias a bordo da ISS, Mark Shuttleworth conduziu experimentos sobre HIV e genômica. A experiência reforçou sua crença em colaboração global e germinou a ideia de criar um Linux “para seres humanos”.

Citação (2004): “Se podemos cooperar para manter humanos vivos a 400 km da Terra, também podemos cooperar para dar software de qualidade a qualquer pessoa.” – Mark Shuttleworth

O nascimento do Ubuntu: software para humanos

Em outubro de 2004 surge o Ubuntu 4.10 “Warty Warthog”. O pai do Ubuntu banca salários, servidores e o envio de CDs pelo programa ShipIt, garantindo que a fortuna de Mark Shuttleworth pagasse a conta sem depender de anúncios.

Para iniciantes

  • Distribuição Linux = kernel + programas + instalador.
  • Fork = começar um projeto copiando outro (Ubuntu nasce do Debian).

Linha do tempo resumida

  • 2004 – Ubuntu 4.10
  • 2006 – primeiro LTS (Long Term Support)
  • 2010 – Unity vira padrão
  • 2013 – Ubuntu Touch e campanha Ubuntu Edge
  • 2017 – retorno ao GNOME, após o fim de Unity/Mir
  • 2022 – Ubuntu Pro entra em GA

Liderança e apostas ousadas

Unity, Mir e o desktop convergente

Mark Shuttleworth acreditava que um design próprio diferenciaria o Ubuntu. A aposta em Unity e no servidor gráfico Mir custou parte de a fortuna de Mark Shuttleworth, mas mostrou audácia. Quando a comunidade reagiu, o pai do Ubuntu recuou – o episódio é relembrado no artigo do SempreUpdate sobre UnityX e o legado do Unity.

Ubuntu Phone e o sonho de convergência

Em 2013, a Canonical tentou financiar o smartphone Ubuntu Edge. A meta de US $ 32 milhões não foi alcançada, mas provou que a fortuna de Mark Shuttleworth permitia arriscar sem comprometer a saúde da empresa.

sudo apt-get install ubuntu-unity-desktop

Saída resumida

Instalando 1.204 MB...
Configuração do Unity concluída.

O modelo de negócios amadurece

A partir de 2014, a Canonical migrou foco para servidor, nuvem e IoT. Com Ubuntu Pro, Livepatch e Landscape, a receita superou US $ 292 milhões em 2024. A fortuna de Mark Shuttleworth não só iniciou o projeto; deu fôlego até que as linhas corporativas sustentassem a operação.

ProdutoIniciadoSituação em 2025
Suporte LTS200610 anos de patches via Ubuntu Pro
Livepatch2016Kernel sem reboot – popular em fintechs
OpenStack & MAAS2011Amplamente usado por telecoms
Serviços IoT2015Parcerias com NVIDIA e Qualcomm

Controvérsias, críticas e histórias mal resolvidas

Amazon Lens e a acusação de “spyware” (2012)

O Ubuntu 12.10 ativou, por padrão, buscas on‑line na Amazon a partir do dash. A comunidade e a FSF classificaram o recurso como invasivo. O debate explodiu após matérias como esta da Bitdefender sobre “protestos de privacidade”. Shuttleworth respondeu chamando as críticas de “FUD”, mas anos depois o recurso passou a vir desativado.

Mir versus Wayland: guerra de display servers

Quando a Canonical anunciou o Mir em 2013, empresas como Intel rejeitaram patches – caso relatado pela Ars Technica sobre a oposição da Intel. Em 2017, o projeto foi despriorizado e o Ubuntu voltou ao Wayland.

Upstart × systemd: “perder com elegância”

Por anos o Ubuntu manteve o init Upstart, até que em 2014 Shuttleworth publicou o post “Losing graciously” aceitando o systemd após decisão do Debian. A OMG! Ubuntu noticiou “Ubuntu segue Debian e adota systemd”.

Demissões e o fim do Unity (2017)

O fracasso do Ubuntu Phone levou a cortes de quase 200 funcionários, conforme a Ars Technica detalhou em “criador do Ubuntu retoma o cargo de CEO após demissões”.

Batalha jurídica de R 250 milhões na África do Sul

Após transferir ativos à Ilha de Man, Shuttleworth pagou 10 % de “exit levy”. Anos depois, a Suprema Corte sul‑africana mandou devolver os fundos (~ US $ 20 milhões), como informou a Forbes.

Rumores de IPO que nunca se concretizaram

Desde 2017 circulam especulações sobre abrir o capital da Canonical. Em 2022, o TechCrunch publicou que Shuttleworth “esperava um IPO em 2023” (fonte), mas até julho de 2025 nada ocorreu.

A eterna crítica “Ubuntu não contribui”

Antes de 2010 era comum acusar a Canonical de “se aproveitar” de Debian e kernel. Hoje contribuições são significativas, mas o mito persiste – tema analisado em “7 lições da rebelião Linux Mint”.

Mark Shuttleworth hoje e perspectivas futuras

Desde 2017, Mark Shuttleworth voltou a ser CEO. Seus focos:

  1. Expandir o Ubuntu Pro nas clouds públicas.
  2. Financiar projetos de IA generativa (parcerias com NVIDIA).
  3. Tornar o desktop rentável via assinaturas.
lsb_release -a

Saída exemplo

Distributor ID: Ubuntu
Description:    Ubuntu 24.04 LTS
Release:        24.04
Codename:       noble

Conclusão

A saga de Mark Shuttleworth mostra que a tecnologia precisa de visionários dispostos a arriscar capital, reputação e conforto. Seu salto de empreendedor para turista espacial e depois pai do Ubuntu evidencia que a fortuna de Mark Shuttleworth foi mais que dinheiro: foi a alavanca que democratizou o Linux no universo open source. Ao conjugar recursos, coragem e propósito, ele fincou o Ubuntu no imaginário coletivo como sinônimo de acessibilidade tecnológica, deixando um legado que continua moldando servidores, nuvens e, principalmente, pessoas.

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