Operação Chargeback: Entenda a fraude de €300 milhões em cartões

A polícia internacional desmantelou um esquema que fraudou 4,3 milhões de pessoas com a ajuda de executivos de pagamentos. Entenda como funcionava.

Escrito por
Jardeson Márcio
Jardeson Márcio é Jornalista e Mestre em Tecnologia Agroalimentar pela Universidade Federal da Paraíba. Com 8 anos de experiência escrevendo no SempreUpdate, Jardeson é um especialista...

A Operação Chargeback revelou uma das maiores redes de fraude com cartão de crédito já registradas no mundo, com prejuízos estimados em mais de €300 milhões e mais de 4,3 milhões de vítimas em 193 países. Coordenada por agências como Europol e Eurojust, a investigação mostrou não apenas a sofisticação dos criminosos, mas também a participação de pessoas de dentro dos próprios provedores de serviços de pagamento (PSPs), responsáveis por facilitar e legitimar as transações fraudulentas.

Este artigo explica em detalhes como funcionava o esquema conhecido como “assinatura fantasma”, quem foram os investigados e, principalmente, como você pode identificar se foi vítima e se proteger desse golpe silencioso.

O que foi a Operação Chargeback?

A Operação Chargeback foi uma ação internacional liderada pela Europol, Eurojust e pelo Gabinete Federal de Polícia Criminal da Alemanha (BKA). As autoridades contaram com o apoio de investigadores nos Estados Unidos, Canadá, Reino Unido, Países Baixos, Singapura e outros países.

O objetivo era desmantelar uma organização criminosa que operava empresas de fachada para aplicar fraudes em cartões de crédito usando assinaturas online falsas. No total, 44 suspeitos foram identificados, com 18 prisões realizadas. As autoridades também apreenderam cerca de €35 milhões em bens — incluindo carros de luxo, imóveis, moedas digitais e contas bancárias.

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Imagem: Bleeping Computer

3.1. Um esquema de escala global

Os números impressionam: foram identificadas 4,3 milhões de vítimas e 19 milhões de cartões de crédito envolvidos. As tentativas de fraude podem ultrapassar €750 milhões, sendo que parte desse valor foi contestada por bancos e clientes através do próprio processo de chargeback (estorno).

As vítimas estão espalhadas por 193 países, o que demonstra a dimensão global do esquema e a facilidade com que transações online podem ultrapassar fronteiras sem controle rigoroso.

O modus operandi: como funcionava o golpe da “assinatura fantasma”

O grupo criminoso obtinha dados reais de cartões de crédito, possivelmente adquiridos em vazamentos anteriores ou no mercado negro digital. Com essas informações, criavam assinaturas falsas em sites adultos, plataformas de namoro e serviços de streaming, todos operados por eles mesmos.

Esses sites pertenciam a empresas de fachada registradas no Reino Unido e em Chipre, o que dificultava o rastreamento pelas autoridades. As cobranças apareciam nos extratos de cartão das vítimas como serviços genéricos e pouco detalhados, o que fez com que milhões de pessoas nem percebessem que estavam sendo enganadas.

4.1. O “golpe formiguinha” que passava despercebido

O sucesso da fraude estava na discrição. As cobranças eram pequenas, geralmente entre €30 e €70 por mês, em muitos casos pouco mais de R$ 100.

Essas cobranças apareciam com descrições vagas como “Web Services”, “Online Billing” ou “Serviços Digitais”, o que dificultava a identificação. Como os valores eram baixos e recorrentes, muitos usuários simplesmente ignoravam, acreditando se tratar de alguma assinatura esquecida.

4.2. A cumplicidade interna: executivos de pagamento envolvidos

Um dos aspectos mais chocantes revelados pela Operação Chargeback foi a participação de executivos dentro de grandes provedores de serviços de pagamento (PSPs). A investigação aponta que cinco executivos e responsáveis por compliance desses provedores foram presos.

Eles são acusados de permitir o processamento das transações fraudulentas e facilitar a lavagem do dinheiro, em troca de taxas e comissões. A rede criminosa utilizava a infraestrutura desses PSPs para criar credibilidade e burlar sistemas automáticos de detecção de fraude.

Como verificar se você foi vítima e se proteger de fraudes similares

1. Verifique seus extratos agora

Reserve alguns minutos para revisar com atenção o extrato do seu cartão de crédito. Procure por valores pequenos e recorrentes, com nomes de empresas que você não reconhece. Mesmo cobranças de R$ 20, R$ 50 ou R$ 100 merecem verificação.

2. Atenção a descrições vagas

Termos como “Pagamento Online”, “Digital Services”, “Web Billing” ou qualquer nome que não identifique claramente uma empresa conhecida podem indicar fraude.

3. Conteste imediatamente

Se identificar uma cobrança suspeita, ligue para o banco ou operadora do cartão e solicite o chargeback (estorno). Esse direito é garantido ao consumidor e foi justamente o mecanismo que deu nome à operação policial.

4. Use cartões virtuais

Para fazer assinaturas em sites e aplicativos, prefira cartões virtuais, especialmente os de uso único. Isso limita os danos caso seus dados sejam vazados.

5. Ative alertas e notificações

Habilite notificações por SMS ou app para ser informado a cada compra realizada no seu cartão. Assim, qualquer transação inesperada pode ser identificada rapidamente.

Conclusão: um alerta para a indústria de pagamentos

A Operação Chargeback não representa apenas a queda de uma quadrilha internacional, mas um alerta contundente para falhas graves no sistema financeiro digital, especialmente quando há cumplicidade interna. A prisão de executivos de grandes empresas de pagamento mostra que fraudes em larga escala só são possíveis com corrupção e falhas de compliance.

Para o consumidor comum, a lição é clara: monitorar o extrato do cartão de crédito não é opcional — é essencial. Milhões de pessoas foram vítimas sem perceber.

Reserve 10 minutos hoje para revisar seu extrato. Você pode estar pagando por uma assinatura fantasma sem saber.

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