Rsched: a nova ferramenta baseada em Rust e BPF que promete revolucionar o monitoramento de desempenho do scheduler do Kernel Linux

Escrito por
Emanuel Negromonte
Emanuel Negromonte é Jornalista, Mestre em Tecnologia da Informação e atualmente cursa a segunda graduação em Engenharia de Software. Com 14 anos de experiência escrevendo sobre...

Rsched: nova ferramenta em Rust e BPF para monitorar o desempenho do scheduler do Kernel Linux, ajudando a identificar gargalos de forma rápida e eficiente.

No complexo universo da otimização de sistemas Linux, entender o comportamento do scheduler (escalonador de processos) é fundamental para extrair o máximo desempenho. Pensando nisso, Chris Mason, renomado desenvolvedor do Kernel Linux e criador do Btrfs, anunciou o lançamento do rsched, uma nova ferramenta poderosa que promete revolucionar o monitoramento das métricas do escalonador de processos.

Escrita em Rust e utilizando a tecnologia de ponta BPF (Berkeley Packet Filter), o rsched é projetado para fornecer uma visão rápida e abrangente sobre o desempenho do scheduler, ajudando a identificar gargalos e a decidir se o escalonador é o culpado por problemas de performance. Longe de ser uma ferramenta para análise profunda como systing ou wprof, seu objetivo é ser um companheiro rápido, similar a vmstat ou top, mas com foco exclusivo no comportamento do escalonador.

Este artigo faz uma análise aprofundada do rsched, explorando sua tecnologia, as métricas cruciais que ele coleta e, mais importante, utilizando exemplos práticos de execução (comparando um kernel mais lento com um otimizado) para demonstrar como essa ferramenta pode ser um divisor de águas para administradores de sistemas, desenvolvedores de kernel e engenheiros de desempenho.

O que é rsched e por que ele é vital para o monitoramento do kernel?

Rsched: seu guia rápido para o scheduler do Linux

O rsched foi criado para oferecer uma visão ampla e rápida das métricas do escalonador de processos do Kernel Linux. Seu objetivo é simples e direto: permitir que o usuário decida rapidamente se o scheduler é o responsável por um problema de desempenho e, possivelmente, identificar a parte específica do problema.

Diferente de ferramentas como systing (análise aprofundada) ou wprof (profiling detalhado), o rsched atua como um diagnóstico rápido, à semelhança de um vmstat ou top, mas voltado ao comportamento do escalonador.

Tecnologia de ponta: Rust e BPF

O rsched é escrito em Rust, uma linguagem moderna que vem sendo integrada ao desenvolvimento do kernel devido à sua segurança de memória, desempenho elevado e confiabilidade.

Além disso, utiliza o BPF (Berkeley Packet Filter) — mais especificamente o eBPF —, tecnologia que permite executar programas seguros diretamente no kernel sem precisar modificá-lo. O BPF coleta tracepoints do scheduler e performance counters, com overhead mínimo, tornando o rsched ideal para monitoramento de kernel em produção.

Essa combinação de Rust + BPF entrega uma ferramenta rápida, segura e altamente observável — um diferencial para quem precisa de diagnóstico confiável com agilidade.

Pré-requisitos e instalação

Para utilizar o rsched, os seguintes requisitos devem estar atendidos:

  • Kernel Linux 5.4 ou superior com suporte a BPF.
  • Ambiente de desenvolvimento Rust (instalado via rustup).
  • Arquivos de desenvolvimento da libbpf.
  • Permissões de root para execução dos programas BPF.

Instalação básica:

git clone https://github.com/facebookexperimental/rsched
cd rsched
cargo build --release

Se o arquivo vmlinux.h estiver desatualizado, será necessário regenerá-lo para garantir compatibilidade com seu kernel atual.

Métricas essenciais do scheduler: o que o rsched monitora

Per-process scheduling delays (atrasos de agendamento por processo)

Esses dados mostram quanto tempo um processo espera na fila (runqueue) antes de ser escalonado para execução.

Métricas coletadas:

  • p50/p90/p99: percentis de latência (μs).
  • COUNT: número de eventos capturados.

Exemplo de saída:

=== Per-Process Scheduling Delays (microseconds) ===
Very Low (<10μs) (1028 entries):
  PID      COMMAND         p50    p90    p99    COUNT
  35886    schbench-worker 5      9      9      35133

Por que importa: ajuda a diagnosticar se há processos com longos tempos de espera, sugerindo sobrecarga ou problemas no escalonador.

Per-process time slice statistics (estatísticas de fatia de tempo)

Mede o tempo que os processos rodam antes de serem preemptados ou cederem a CPU.

Métricas:

  • INVOL_COUNT: preempções forçadas.
  • VOLUNTARY e PREEMPTED (p50/p90): tempo até troca de contexto voluntária ou involuntária.
  • PREEMPT%: porcentagem de preempções.

Exemplo:

=== Per-Process Time Slice Statistics (microseconds) ===
  PID      COMMAND         INVOL_COUNT VOLUNTARY(p50/p90) PREEMPTED(p50/p90) PREEMPT%
  35027    schbench-msg    101         -                   95889/123483       100.0%

Importância: alto PREEMPT% pode indicar que o processo está sendo interrompido constantemente, sinalizando contenção.

Per-process sleep duration statistics (duração de sono por processo)

Quantifica quanto tempo os processos dormem entre eventos sched_switch e sched_wakeup.

Exemplo:

=== Per-Process Sleep Duration Statistics (microseconds) ===
  PID      COMMAND         p50    p90    p99    COUNT
  35173    schbench-worker 599    939    1015   26744

Utilidade: revela se há dormências excessivas ou insuficientes, úteis para ajustar timers e eficiência.

Per-process runqueue depth statistics

Mostra a profundidade da fila de execução (runqueue) no momento do despertar do processo.

Exemplo:

=== Per-Process Runqueue Depth Statistics (nr_running at wakeup) ===
  PID      COMMAND         p50    p90    p99    COUNT
  35886    schbench-worker 1      1      1      70704

Análise: profundidades maiores indicam maior concorrência na CPU, podendo causar lentidão.

System-wide schedstat metrics

São métricas de escalonamento global extraídas do schedstat, que mostram comportamentos como balanceamento de carga, wakeups remotos, etc.

Exemplo:

=== System-wide Schedstat Metrics (deltas) ===
lb_balance_newly_idle       3944496
ttwu_wake_remote            37738806

Interpretação: valores altos podem indicar ineficiências no balanceamento de carga entre CPUs.

CPU performance metrics

Mede o desempenho global e por processo da CPU, com base nos contadores de performance (perf).

Exemplo:

=== CPU Performance Metrics ===
User 5301.3M cycles/sec (IPC: 0.23)
Kernel 23514.0M cycles/sec (IPC: 1.20)

Insight: baixa IPC (instruções por ciclo) pode sugerir ineficiência na utilização da CPU.

Rsched em ação: analisando um benchmark schbench

O cenário do benchmark schbench

O schbench é uma ferramenta para benchmark de escalonador, simulando cargas reais e medindo respostas de scheduling.

Comando utilizado:

sudo ./target/release/rsched -m -i 10 --schedstat -c schbench -C

Análise da execução lenta (v6.15-rc2)

  • Scheduling Delays: schbench-msg apresenta p99 = 110μs, superior ao ideal.
  • Time Slice: schbench-msg tem PREEMPT% = 100%, sempre preemptado.
  • Sleep Duration: schbench principal com p50 = 0.75s, dormência excessiva.
  • Schedstat: altos valores de lb_balance_newly_idle, ttwu_wake_remote.
  • IPC: Kernel IPC = 1.20.

Conclusão: balanceamento excessivo e acordamentos remotos prejudicam o desempenho do scheduler.

Análise da execução rápida (v6.16-rc2 + fix)

  • Scheduling Delays: schbench-msg melhora (p99 = 100μs).
  • Schedstat: lb_balance_newly_idle reduzido de 3.9M para 27K.
  • CPU Metrics: Kernel IPC sobe para 1.40.

Resultado: o fix reduz dramaticamente overheads, tornando o scheduler mais eficiente.

Como usar o rsched e interpretar os resultados

Comandos básicos e opções

sudo ./target/release/rsched [OPTIONS]

Principais opções:

  • -m: mostra métricas de CPU (cycles, IPC).
  • -i 10: intervalo de coleta em segundos.
  • --schedstat: habilita métricas schedstat.
  • -c schbench: filtra por comando.
  • -C: não agrupa por nome de processo.
  • -w: rastreia sched_waking (maior overhead).

Interpretando o output

  • Latência alta (p99): indica possível gargalo no agendamento.
  • PREEMPT% elevado: sugere preempções excessivas.
  • Runqueue depth alto: mostra sobrecarga de CPU.
  • Wakeups remotos e rebalanceamentos altos: apontam para ineficiência do scheduler.

Dicas de performance

  • Modo padrão: overhead mínimo.
  • Evitar -w em produção, exceto se necessário.

Conclusão: rsched – um novo nível de observabilidade para o Kernel Linux

O rsched, criado por Chris Mason, é uma adição poderosa ao arsenal de ferramentas de observabilidade do Kernel Linux. Combinando Rust e BPF, ele oferece uma visão rápida, confiável e detalhada do comportamento do scheduler, permitindo que administradores de sistemas, engenheiros de desempenho e desenvolvedores de kernel diagnostiquem gargalos de forma precisa e com mínimo impacto.

Para quem busca performance de verdade no Linux, o rsched é uma ferramenta obrigatória. Experimente, analise e otimize — e continue acompanhando o SempreUpdate para mais análises sobre Rust, BPF, Kernel Linux e ferramentas de alto impacto para o ecossistema Linux.

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