CGI.br se manifesta sobre propostas de alteração no Marco Civil da Internet

CGI.br se manifesta sobre propostas de alteração no Marco Civil da Internet

O Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br) recentemente expressou sua posição sobre o Projeto de Lei nº 113/2020, que sugere mudanças significativas no Marco Civil da Internet (MCI). O projeto de lei, apresentado na Comissão de Comunicação e Direito Digital do Senado Federal, propõe alterações em vários artigos do MCI.

Importância do MCI e LGPD

O CGI.br destacou a importância do envolvimento da sociedade na criação do MCI, que estabelece princípios, garantias, direitos e deveres para o uso da Internet no Brasil. Da mesma forma, o comitê enfatizou a relevância da participação da sociedade na construção da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), que estabelece limites e parâmetros para a coleta de dados pessoais.

O comitê reconhece a necessidade de aprimorar o ambiente regulatório brasileiro para garantir maior segurança digital. No entanto, ressalta a importância da autorização judicial para a obtenção de dados, a fim de evitar abusos e garantir o cumprimento dos princípios constitucionais do contraditório e da ampla defesa.

Propostas do Senador Astronauta Marcos Pontes

As propostas apresentadas pelo Senador Astronauta Marcos Pontes sugerem a ampliação do prazo de armazenamento de registros de acesso de seis meses para três anos, a inclusão de dados de geolocalização e a porta de acesso do endereço IP nos registros armazenados. Além disso, propõem a possibilidade de acesso a esses registros por Delegados de Polícia, integrantes do Ministério Público e outras autoridades administrativas sem prévia autorização do Judiciário.

Alertas do CGI.br

O CGI.br saúda a exclusão da obrigatoriedade de apresentação de número de CPF ou CNPJ do usuário para a criação de perfis na Internet, medida que ampliaria de modo desproporcional e excessivo os dados sob controle de provedores e os riscos de vazamento para usuários.

No entanto, o comitê alerta para os riscos decorrentes das propostas incluídas no texto substitutivo ao Projeto de Lei nº 113/2020, que visam ampliar o prazo de armazenamento de dados, incluindo a geolocalização do usuário, porta de acesso do endereço IP e autorizar o acesso aos registros sem ordem judicial. Segundo o comitê, essas propostas confrontam as salvaguardas previstas no MCI e na LGPD.

Coleta e Armazenamento Excessivo de Dados

O CGI.br também alerta que a coleta e armazenamento excessivo de dados pessoais, incluindo dados pessoais sensíveis, além de significar grande aumento de custos, podem facilitar modelos de negócio abusivos, e aumentar o risco de expor esses dados a incidentes de segurança, complexificando ainda mais as necessidades e capacidades técnicas para o devido tratamento dos mesmos, confrontando as relevantes conquistas trazidas na LGPD.

Defesa da Autorização Judicial

O comitê defende a manutenção legal da exigência de autorização judicial para acesso aos registros, garantindo assim os princípios do contraditório e da ampla defesa, que, em vias judiciais, é legalmente estabelecido e caracterizado pela imparcialidade do juízo, bem como o seu não enquadramento como autoridade acusatória.

O CGI.br propõe que o debate da matéria seja ampliado, no mesmo âmbito da Comissão de Comunicação e Direito Digital, com participação da sociedade de especialistas técnicos, buscando procedimentos que permitam alcançar soluções mais proporcionais e efetivas para os objetivos buscados pelo Congresso Nacional.

Convocação à Sociedade

O comitê convoca toda a sociedade a contribuir nos debates e na defesa dos ditames estabelecidos no Marco Civil da Internet (Lei nº 12.965/2014) e na Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais – LGPD (Lei nº 13.709/2018), que se tornaram legislações de referência.

O CGI.br reafirma mais uma vez sua permanente disposição multissetorial junto às autoridades públicas para colaborar nos debates e diálogos que possam orientar as decisões neste tema e nos que dizem respeito ao uso e desenvolvimento da Internet no Brasil.

Sobre o Comitê Gestor da Internet no Brasil – CGI.br

O Comitê Gestor da Internet no Brasil, responsável por estabelecer diretrizes estratégicas relacionadas ao uso e desenvolvimento da Internet no Brasil, coordena e integra todas as iniciativas de serviços Internet no País, promovendo a qualidade técnica, a inovação e a disseminação dos serviços ofertados. Com base nos princípios do multissetorialismo e transparência, o CGI.br representa um modelo de governança da Internet democrático, elogiado internacionalmente, em que todos os setores da sociedade são partícipes de forma equânime de suas decisões.

Emanuel Negromonte Autor
Autor
Jornalista especialista em Linux a mais de 20 anos. Fundador do SempreUpdate e entusiasta do software livre.