Enquanto o mundo da tecnologia avança rumo a arquiteturas de 64 bits e dispositivos cada vez mais poderosos, uma parte importante da comunidade Linux ainda depende de hardware embarcado legado. Pensando nisso, o openSUSE Project lançou um alerta importante: está considerando a descontinuação do suporte para arquiteturas ARM de 32 bits (ARMv6 e ARMv7).
A notícia é especialmente relevante para usuários de Raspberry Pi 1, Raspberry Pi Zero, BeagleBone e outras placas embarcadas legadas, que podem deixar de receber suporte em versões futuras do openSUSE. O projeto convida a comunidade a participar de uma pesquisa aberta até o final de julho, e também a se envolver ativamente na manutenção e suporte dessas arquiteturas. A decisão pode marcar o fim de uma era no ecossistema Linux embarcado, ou ser um novo começo, dependendo do engajamento coletivo.
O dilema do ARM de 32 bits: por que o openSUSE considera a descontinuação

O ARM de 32 bits, representado pelas arquiteturas ARMv6 e ARMv7, foi o motor de inúmeras inovações em dispositivos embarcados e Single Board Computers (SBCs) durante mais de uma década. No entanto, com o passar do tempo, as prioridades mudaram. O openSUSE Project está enfrentando dificuldades crescentes para manter essas plataformas atualizadas, especialmente em um cenário onde a maioria dos desenvolvedores e mantenedores já migrou para ARM de 64 bits (ARMv8+).
A proposta de reavaliar o suporte não vem por acaso. Há questões técnicas e de sustentabilidade que precisam ser encaradas.
Desafios do suporte upstream e a carga de manutenção
Um dos principais fatores apontados pelo projeto é o suporte upstream limitado. Muitas bibliotecas, toolchains e componentes críticos do sistema já deixaram de priorizar otimizações ou compatibilidade com ARMv6 e ARMv7, o que significa que o trabalho de adaptação e correção de bugs recai diretamente sobre os mantenedores da distribuição.
Esse contexto gera um fardo técnico constante: cada nova versão do kernel, do compilador ou dos pacotes exige testes específicos e correções pontuais que tomam tempo e recursos valiosos. O projeto precisa decidir se vale a pena continuar alocando esforços nessas arquiteturas enquanto outros segmentos estratégicos (como containers, cloud-native e segurança) demandam atenção redobrada.
Recursos em declínio: o fardo de manter plataformas legadas
A questão não é apenas técnica, mas também humana. O número de colaboradores ativos interessados e disponíveis para manter o ARM de 32 bits no openSUSE está diminuindo. Sem testadores regulares, mantenedores de pacotes específicos ou mesmo documentação atualizada, manter a qualidade mínima exigida para as versões estáveis da distribuição se torna um desafio real.
O declínio no interesse e nos recursos disponíveis sinaliza que o suporte pode não ser mais viável sem uma nova onda de contribuições.
Dispositivos afetados: um olhar sobre as placas embarcadas e SoCs em risco
A possível descontinuação impacta diretamente uma série de dispositivos clássicos e amplamente utilizados no universo de IoT, educação, automação e experimentação de baixo custo.
Raspberry Pi 1 e Pi Zero: o impacto nos pioneiros do SBC
O Raspberry Pi 1 foi um divisor de águas, colocando Linux acessível nas mãos de milhões. Seu processador ARMv6 de baixo consumo ainda é usado em projetos educacionais, laboratórios e automações simples ao redor do mundo. O Raspberry Pi Zero, lançado como uma alternativa ainda mais barata, segue a mesma arquitetura e continua presente em projetos de longa duração.
Sem suporte, esses dispositivos podem deixar de receber atualizações de segurança, melhorias de desempenho e acesso às versões mais recentes da distribuição, comprometendo a vida útil de inúmeros projetos ainda ativos.
BeagleBone e outros hardwares ARMv6/ARMv7
A família BeagleBone, conhecida por sua robustez e flexibilidade para aplicações industriais e maker, também depende de ARMv7, assim como muitas outras placas embarcadas de geração anterior.
A descontinuação do suporte pode impactar desde projetos acadêmicos até sistemas embarcados em produção, especialmente em setores onde atualizações frequentes não são possíveis, mas a estabilidade do sistema operacional é crucial.
O convite à comunidade: participe da pesquisa e influencie o futuro
Diferente de decisões unilaterais, o openSUSE Project está adotando uma abordagem transparente e participativa. Em vez de simplesmente remover o suporte, o projeto está consultando diretamente a comunidade, através de uma pesquisa pública no portal survey.opensuse.org.
Como o feedback da comunidade molda as decisões do openSUSE
O modelo de governança do openSUSE valoriza o envolvimento comunitário em decisões estratégicas. O histórico da distribuição mostra que decisões difíceis, como a descontinuação de arquiteturas ou mudanças na política de lançamento, frequentemente são guiadas por respostas coletivas de usuários, mantenedores e contribuidores.
A pesquisa atual tem prazo até o final de julho de 2025, e busca entender quem ainda depende dessas plataformas, para quais usos e com que frequência, além de mapear possíveis contribuidores técnicos interessados em manter o suporte vivo.
Guia: como participar da pesquisa oficial
Participar é simples e rápido:
- Acesse o site: survey.opensuse.org.
- Selecione a pesquisa relacionada ao ARM de 32 bits.
- Responda com informações reais sobre seu uso, como:
- Modelo do dispositivo (ex: Raspberry Pi 1).
- Aplicações que você roda.
- Interesse em contribuir com testes ou manutenção.
- Envie antes do fim de julho.
Mesmo que você não use ativamente, mas tenha interesse histórico ou técnico, sua resposta conta para dimensionar o impacto real da possível descontinuação.
Mantenha o suporte vivo: como contribuir para o ARM de 32 bits no openSUSE
Mais do que votar na pesquisa, o projeto também convida usuários e desenvolvedores a se engajarem ativamente na manutenção do suporte ao ARM de 32 bits. O objetivo é distribuir a carga de trabalho entre os que ainda se beneficiam dessa plataforma, mantendo o suporte com qualidade e segurança.
Formas de envolvimento: testes, relatórios de bugs e documentação
Você pode ajudar de várias maneiras:
- Testando atualizações e snapshots em dispositivos ARMv6/ARMv7.
- Reportando bugs com detalhes técnicos e logs relevantes.
- Atualizando wikis e manuais com informações específicas sobre hardware antigo.
- Empacotando software que ainda precisa de atenção para compilar nessas arquiteturas.
A contribuição pode ser feita com pouco tempo disponível — o importante é a regularidade e o comprometimento com a causa.
Canais de comunicação: junte-se à comunidade ARM do openSUSE
O projeto mantém canais abertos para contato direto com desenvolvedores e contribuidores:
- IRC via Libera.Chat – canal
#opensuse-arm
- Matrix – canal
#opensuse-arm:opensuse.org
- Mailing List –
[email protected]
Esses espaços são usados para coordenar esforços de teste, discutir estratégias de suporte, responder dúvidas técnicas e coletar feedback contínuo.
Conclusão: openSUSE e o futuro do Linux em ARM de 32 bits – uma decisão coletiva para a sustentabilidade
A discussão sobre o futuro do ARM de 32 bits no openSUSE vai muito além de uma questão técnica. Trata-se de um debate sobre sustentabilidade, legado, e responsabilidade coletiva em manter viva uma parte importante da história e da prática do Linux em dispositivos embarcados.
Se você usa Raspberry Pi 1, Pi Zero, BeagleBone ou outros SBCs legados, este é o momento de fazer sua voz ser ouvida. Participar da pesquisa e contribuir com testes ou documentação pode ser decisivo para garantir que essas plataformas sigam tendo suporte em uma das distribuições Linux mais respeitadas do mundo.
A escolha está nas mãos da comunidade. E o tempo está passando.