openSUSE busca feedback sobre futuro do suporte a ARM de 32 bits: Raspberry Pi 1/Zero e BeagleBone em risco de descontinuação

Escrito por
Emanuel Negromonte
Emanuel Negromonte é Jornalista, Mestre em Tecnologia da Informação e atualmente cursa a segunda graduação em Engenharia de Software. Com 14 anos de experiência escrevendo sobre...

A comunidade decide: openSUSE avalia fim do suporte a ARMv6 e ARMv7

Enquanto o mundo da tecnologia avança rumo a arquiteturas de 64 bits e dispositivos cada vez mais poderosos, uma parte importante da comunidade Linux ainda depende de hardware embarcado legado. Pensando nisso, o openSUSE Project lançou um alerta importante: está considerando a descontinuação do suporte para arquiteturas ARM de 32 bits (ARMv6 e ARMv7).

A notícia é especialmente relevante para usuários de Raspberry Pi 1, Raspberry Pi Zero, BeagleBone e outras placas embarcadas legadas, que podem deixar de receber suporte em versões futuras do openSUSE. O projeto convida a comunidade a participar de uma pesquisa aberta até o final de julho, e também a se envolver ativamente na manutenção e suporte dessas arquiteturas. A decisão pode marcar o fim de uma era no ecossistema Linux embarcado, ou ser um novo começo, dependendo do engajamento coletivo.

O dilema do ARM de 32 bits: por que o openSUSE considera a descontinuação

O ARM de 32 bits, representado pelas arquiteturas ARMv6 e ARMv7, foi o motor de inúmeras inovações em dispositivos embarcados e Single Board Computers (SBCs) durante mais de uma década. No entanto, com o passar do tempo, as prioridades mudaram. O openSUSE Project está enfrentando dificuldades crescentes para manter essas plataformas atualizadas, especialmente em um cenário onde a maioria dos desenvolvedores e mantenedores já migrou para ARM de 64 bits (ARMv8+).

A proposta de reavaliar o suporte não vem por acaso. Há questões técnicas e de sustentabilidade que precisam ser encaradas.

Desafios do suporte upstream e a carga de manutenção

Um dos principais fatores apontados pelo projeto é o suporte upstream limitado. Muitas bibliotecas, toolchains e componentes críticos do sistema já deixaram de priorizar otimizações ou compatibilidade com ARMv6 e ARMv7, o que significa que o trabalho de adaptação e correção de bugs recai diretamente sobre os mantenedores da distribuição.

Esse contexto gera um fardo técnico constante: cada nova versão do kernel, do compilador ou dos pacotes exige testes específicos e correções pontuais que tomam tempo e recursos valiosos. O projeto precisa decidir se vale a pena continuar alocando esforços nessas arquiteturas enquanto outros segmentos estratégicos (como containers, cloud-native e segurança) demandam atenção redobrada.

Recursos em declínio: o fardo de manter plataformas legadas

A questão não é apenas técnica, mas também humana. O número de colaboradores ativos interessados e disponíveis para manter o ARM de 32 bits no openSUSE está diminuindo. Sem testadores regulares, mantenedores de pacotes específicos ou mesmo documentação atualizada, manter a qualidade mínima exigida para as versões estáveis da distribuição se torna um desafio real.

O declínio no interesse e nos recursos disponíveis sinaliza que o suporte pode não ser mais viável sem uma nova onda de contribuições.

Dispositivos afetados: um olhar sobre as placas embarcadas e SoCs em risco

A possível descontinuação impacta diretamente uma série de dispositivos clássicos e amplamente utilizados no universo de IoT, educação, automação e experimentação de baixo custo.

Raspberry Pi 1 e Pi Zero: o impacto nos pioneiros do SBC

O Raspberry Pi 1 foi um divisor de águas, colocando Linux acessível nas mãos de milhões. Seu processador ARMv6 de baixo consumo ainda é usado em projetos educacionais, laboratórios e automações simples ao redor do mundo. O Raspberry Pi Zero, lançado como uma alternativa ainda mais barata, segue a mesma arquitetura e continua presente em projetos de longa duração.

Sem suporte, esses dispositivos podem deixar de receber atualizações de segurança, melhorias de desempenho e acesso às versões mais recentes da distribuição, comprometendo a vida útil de inúmeros projetos ainda ativos.

BeagleBone e outros hardwares ARMv6/ARMv7

A família BeagleBone, conhecida por sua robustez e flexibilidade para aplicações industriais e maker, também depende de ARMv7, assim como muitas outras placas embarcadas de geração anterior.

A descontinuação do suporte pode impactar desde projetos acadêmicos até sistemas embarcados em produção, especialmente em setores onde atualizações frequentes não são possíveis, mas a estabilidade do sistema operacional é crucial.

O convite à comunidade: participe da pesquisa e influencie o futuro

Diferente de decisões unilaterais, o openSUSE Project está adotando uma abordagem transparente e participativa. Em vez de simplesmente remover o suporte, o projeto está consultando diretamente a comunidade, através de uma pesquisa pública no portal survey.opensuse.org.

Como o feedback da comunidade molda as decisões do openSUSE

O modelo de governança do openSUSE valoriza o envolvimento comunitário em decisões estratégicas. O histórico da distribuição mostra que decisões difíceis, como a descontinuação de arquiteturas ou mudanças na política de lançamento, frequentemente são guiadas por respostas coletivas de usuários, mantenedores e contribuidores.

A pesquisa atual tem prazo até o final de julho de 2025, e busca entender quem ainda depende dessas plataformas, para quais usos e com que frequência, além de mapear possíveis contribuidores técnicos interessados em manter o suporte vivo.

Guia: como participar da pesquisa oficial

Participar é simples e rápido:

  1. Acesse o site: survey.opensuse.org.
  2. Selecione a pesquisa relacionada ao ARM de 32 bits.
  3. Responda com informações reais sobre seu uso, como:
    • Modelo do dispositivo (ex: Raspberry Pi 1).
    • Aplicações que você roda.
    • Interesse em contribuir com testes ou manutenção.
  4. Envie antes do fim de julho.

Mesmo que você não use ativamente, mas tenha interesse histórico ou técnico, sua resposta conta para dimensionar o impacto real da possível descontinuação.

Mantenha o suporte vivo: como contribuir para o ARM de 32 bits no openSUSE

Mais do que votar na pesquisa, o projeto também convida usuários e desenvolvedores a se engajarem ativamente na manutenção do suporte ao ARM de 32 bits. O objetivo é distribuir a carga de trabalho entre os que ainda se beneficiam dessa plataforma, mantendo o suporte com qualidade e segurança.

Formas de envolvimento: testes, relatórios de bugs e documentação

Você pode ajudar de várias maneiras:

  • Testando atualizações e snapshots em dispositivos ARMv6/ARMv7.
  • Reportando bugs com detalhes técnicos e logs relevantes.
  • Atualizando wikis e manuais com informações específicas sobre hardware antigo.
  • Empacotando software que ainda precisa de atenção para compilar nessas arquiteturas.

A contribuição pode ser feita com pouco tempo disponível — o importante é a regularidade e o comprometimento com a causa.

Canais de comunicação: junte-se à comunidade ARM do openSUSE

O projeto mantém canais abertos para contato direto com desenvolvedores e contribuidores:

  • IRC via Libera.Chat – canal #opensuse-arm
  • Matrix – canal #opensuse-arm:opensuse.org
  • Mailing List[email protected]

Esses espaços são usados para coordenar esforços de teste, discutir estratégias de suporte, responder dúvidas técnicas e coletar feedback contínuo.

Conclusão: openSUSE e o futuro do Linux em ARM de 32 bits – uma decisão coletiva para a sustentabilidade

A discussão sobre o futuro do ARM de 32 bits no openSUSE vai muito além de uma questão técnica. Trata-se de um debate sobre sustentabilidade, legado, e responsabilidade coletiva em manter viva uma parte importante da história e da prática do Linux em dispositivos embarcados.

Se você usa Raspberry Pi 1, Pi Zero, BeagleBone ou outros SBCs legados, este é o momento de fazer sua voz ser ouvida. Participar da pesquisa e contribuir com testes ou documentação pode ser decisivo para garantir que essas plataformas sigam tendo suporte em uma das distribuições Linux mais respeitadas do mundo.

A escolha está nas mãos da comunidade. E o tempo está passando.

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