U-Boot v2025.07 lançado: exFAT, uthreads e suporte massivo a Apple M1/M2 e ARM SoCs turbinam o bootloader Linux

Escrito por
Emanuel Negromonte
Emanuel Negromonte é Jornalista, Mestre em Tecnologia da Informação e atualmente cursa a segunda graduação em Engenharia de Software. Com 14 anos de experiência escrevendo sobre...

Boot mais rápido, suporte mais amplo: o U-Boot v2025.07 eleva o Linux embarcado ao próximo nível.

Com o avanço acelerado do ecossistema embarcado e a crescente diversidade de plataformas ARM, o papel de bootloaders robustos, portáteis e altamente configuráveis nunca foi tão crucial. É nesse contexto que chega o U-Boot v2025.07, uma versão marcante que consolida o projeto como referência no boot de sistemas Linux em dispositivos de arquitetura variada — dos Raspberry Pi aos poderosos Apple M1/M2.

O novo lançamento se destaca por três frentes principais: a introdução de um sistema leve de multithreading cooperativo (uthreads) dentro do próprio bootloader, a adição de suporte ao sistema de arquivos exFAT — muito utilizado em mídias removíveis —, e uma impressionante ampliação de suporte a System-on-Chips (SoCs) modernos e emergentes, com atenção especial a plataformas como i.MX8/9, Rockchip, AMD/Xilinx Versal, Qualcomm e muitas outras. Além disso, a atualização traz melhorias substanciais em subsistemas críticos como EFI loader, rede, MMC, DFU, SCSI e i2c.

Inovações no coração do bootloader: uthreads e suporte a exFAT

Uthreads: paralelismo para um bootloader mais eficiente

O U-Boot v2025.07 inaugura o conceito de uthreads: uma implementação de threads cooperativas lightweight e totalmente gerenciáveis no espaço do bootloader. Embora bootloaders tradicionais operem de forma sequencial e síncrona, os uthreads permitem executar tarefas paralelas — como inicialização de periféricos e carregamento de firmware — com maior eficiência.

A motivação é clara: reduzir o tempo de boot em plataformas com múltiplos subsistemas iniciais. Ao permitir que operações como leitura de dispositivos, inicialização de redes ou verificação de integridade ocorram em paralelo, o tempo total até a entrega do controle ao kernel Linux é substancialmente reduzido — especialmente em sistemas embarcados complexos.

Essa funcionalidade, embora simples em design (por ser cooperativa e sem preempção), tem impacto profundo na experiência de boot em ambientes ARM, onde cada segundo importa.

Suporte a exFAT: expandindo a compatibilidade de armazenamento

Outra grande novidade do U-Boot v2025.07 é a inclusão de suporte de leitura ao sistema de arquivos exFAT. Esse suporte é vital em cenários onde o boot ocorre via cartões SD, pendrives ou partições compartilhadas com Windows, já que o exFAT é amplamente usado nesses meios.

Com isso, distribuições Linux embarcadas que precisam ser instaladas a partir de um cartão formatado em exFAT não dependem mais de ferramentas externas para reformatar o meio ou criar partições alternativas. O suporte também se alinha com a crescente adoção do exFAT no kernel Linux, promovido pela Microsoft como uma alternativa moderna ao FAT32.

Suporte massivo a plataformas ARM e SoCs: do Raspberry Pi aos chips Apple M1/M2

Novas gerações de SoCs: i.MX8/9, Rockchip, Versal e mais

O verdadeiro salto do U-Boot v2025.07 está em seu suporte ampliado a plataformas modernas, incluindo:

  • Apple M1/M2 (Apple Silicon) – Um passo importante para boot alternativo e desenvolvimento de distros Linux para MacBooks e Macs baseados em ARM.
  • NXP i.MX8 e i.MX9 – Chips amplamente usados em aplicações industriais, automotivas e IoT.
  • Rockchip RK3528 e RK3576 – Muito populares em set-top boxes, painéis inteligentes e SBCs.
  • Qualcomm QCS/QCA SoCs – Importantes em gateways e dispositivos de rede.
  • AMD/Xilinx Versal, Versal Gen 2 e ZynqMP – Integrando FPGA + ARM, essas plataformas se beneficiam da capacidade de customização via U-Boot.
  • Sunxi (Allwinner), STM32, TI K3, SoCFPGA, Marvell, Tegra, MIPS Boston, Atmel sama9x60/sama5d2, Rensas R-Car – Todos com melhorias ou novo suporte.

Essa diversidade demonstra como o U-Boot está se consolidando como bootloader universal para o mundo ARM e além, viabilizando desde SBCs simples até arquiteturas customizadas de data centers e veículos inteligentes.

Otimizações para arquiteturas e dispositivos específicos

Para além de novos SoCs, o U-Boot v2025.07 introduz refinamentos específicos por arquitetura, com foco em estabilidade, compatibilidade com DRAM e alinhamento com firmwares modernos. Destaques incluem:

  • Suporte aprimorado para memória DDR4/DDR5 em várias plataformas.
  • Correções de mapeamento de memória MMU para ARM64.
  • Adições específicas para QEMU, permitindo testes automatizados com cobertura de mais hardware.
  • Atualizações nos drivers de vídeo (framebuffer) e suporte a inicialização gráfica básica em placas modernas.

Aprimoramentos em subsistemas-chave: rede, I/O e EFI loader

Melhorias gerais em DFU, MMC, i2c e SCSI

O refinamento contínuo dos subsistemas DFU (Device Firmware Update), MMC, i2c e SCSI aumenta a confiabilidade do boot via dispositivos externos, redes ou buses internos. Isso é crucial para atualizações OTA (Over-the-Air), boot PXE e manutenção remota de dispositivos ARM.

Mudanças notáveis incluem:

  • Novo suporte a gravação de múltiplos arquivos em DFU.
  • Correções no manuseio de partições GPT em cartões eMMC/MMC.
  • Suporte a transferência I2C com polling, ideal para ambientes com clock instável.
  • Otimizações em controladores SCSI e NVMe em ARM64.

EFI loader: aprimorando a inicialização de sistemas modernos

O subsistema EFI loader, responsável por simular o comportamento de firmware UEFI moderno, foi significativamente aprimorado. Ele agora possui:

  • Melhor integração com kernels Linux modernos via efi_stub.
  • Suporte a variáveis persistentes e melhorias no efidebug.
  • Compatibilidade aprimorada com bootloaders em cadeia, como o GRUB EFI.

Essa melhoria é particularmente útil para notebooks ARM, como os baseados em Apple Silicon, que requerem bootloaders compatíveis com UEFI.

Qualidade de código e testes contínuos em CI

A manutenção da base do U-Boot depende diretamente de sua testabilidade. A versão 2025.07 fortalece os mecanismos de integração contínua (CI) com:

  • Ampliação da cobertura de testes em QEMU para novos SoCs.
  • Novas verificações de regressão automática para comandos shell internos.
  • Consolidação dos testes de subsistemas críticos como USB, ext4, dfu, net e efi.

Essas práticas reduzem o risco de regressões e facilitam a colaboração entre mantenedores de diferentes arquiteturas.

Sustentabilidade e futuro do U-Boot: um apelo à comunidade open source

O desafio da organização e a Software Freedom Conservancy

Em meio à crescente demanda por suporte, o projeto U-Boot enfrenta desafios de sustentabilidade organizacional. Um dos objetivos dos mantenedores é filiar o projeto à Software Freedom Conservancy, entidade responsável por apoiar iniciativas como Git, Samba e QEMU.

Essa filiação ajudaria a estruturar doações, contratação de desenvolvedores e representação legal, garantindo a continuidade do desenvolvimento com liberdade e foco comunitário.

Como a comunidade pode contribuir para o U-Boot

A equipe do U-Boot reforça o apelo à comunidade para:

  • Testar novas versões e enviar relatórios de bug.
  • Documentar novos usos e variantes de SoC.
  • Submeter patches para novas plataformas ou correções em subsistemas existentes.
  • Apoiar o projeto com recursos financeiros e infraestrutura de testes.

Esse envolvimento é vital para manter o U-Boot como pilar da infraestrutura de boot Linux, especialmente em contextos onde o barebox ou bootloaders proprietários não são viáveis.

Conclusão: U-Boot v2025.07 – um passo vital para o ecossistema Linux embarcado e ARM

Com o lançamento do U-Boot v2025.07, o projeto reafirma sua posição como bootloader essencial para o futuro da computação embarcada. A combinação de uthreads, suporte a exFAT e integração com plataformas ARM de última geração, como Apple M1/M2, o tornam não apenas uma base técnica confiável, mas também uma peça estratégica na consolidação do Linux em dispositivos modernos.

Além das inovações técnicas, o chamado à sustentabilidade e à filiação ao Software Freedom Conservancy sinaliza maturidade e visão de longo prazo. O U-Boot não é apenas um software de inicialização: é um projeto de infraestrutura crítica do software livre, com impacto direto em milhões de dispositivos ao redor do mundo.

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